Cotidiano

Entre ameaças, conselheiros tutelares lutam para exercer função

Conselheiro tutelar FrancoRocha: “Nossa missão é zelar pelo cumprimento pelos direitos da criança e do adolescente e da família também"

O conselheiro tutelar tem uma importante missão, que é ser o guardião das garantias e dos direitos de crianças e adolescentes. Mas, essa função nem sempre é fácil de ser desempenhada. Em Boa Vista, há profissionais que já sofreram ameaças pelo simples fato de querer exercer a função, para qual foi eleito.

Franco Rocha, que atua desde 2011 como conselheiro tutelar em Boa Vista, relatou que as dificuldades da profissão são as ameaças e que, inclusive, já foi ameaçado de morte.

“Já enfrentei inumeras situações desafiadoras. Teve um pedófilo que estrupou uma criança de 11 anos e antes de ele ser preso, falou lá dentro do presídio que ia pagar alguém pra matar o conselheiro. Então, nessa época, em 2012, eu senti realmente uma ameaça concreta, porque eu passei a ser seguido por um carro gol prata e me recordo muito bem”, afirmou.

Segundo ele, as dificuldades são inumeras, além dos vários desafios. “Quando você faz a sua função, seu trabalho com dedicação, quando se trata de um ato de amor para proteger as crianças, qualquer coisa se torna pequena. A sua força, determinação e coragem superam e vencem qualquer obstáculo”, disse.

Franco Rocha contou que nesses nove anos atuando com conselheiro tutelar presenciou situações desagradáveis, envolvendo crianças.

“Um caso que eu atendi e me marcou muito foi de uma criança de quase dois anos, vítima de estupro de vulnerável pelo padrasto. Quando cheguei ao local a criança estava muito machucada, já quase desmaiada. O padrasto e a mãe eram usuários de droga”, lembrou.

“Outro caso foi o da mãe que aliciava as duas filhas, uma de 12 anos e outra de 8 anos. “Quando a mãe ia dar banho na criança, ela passava a mão nas partes íntimas. Só que, em um dia qualquer, a tia das crianças percebeu que elas estavam muito machucadas. Isso me deixou extramamente destruído e desacretitado, porque uma mãe, a missão dela é proteger e quando você presencia um caso onde a propria mãe comete um crime brutal desses é relamante muito triste”, comentou.

“Também já atendi um caso, no bairro Caranã, onde uma tia agredia tanto a criança, que ela teve os dois braços quebrados. Quando cheguei à residência, a criança se encontrava em baixo da mesa e com muita conversa conveci a sair debaixo da mesa. Essa imagem da criança encolhida eu trago comigo até hoje. Sempre digo que antes de entrar para o conselho tutelar eu era uma pessoa e após o conselho nunca mais serei o mesmo”, ressaltou Franco Rocha.

Segundo Franco Rocha, as dificuldades são inumeras, além dos vários desafios (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

DIA DO CONSELHEIRO TUTELAR – O Brasil celebra nesta quarta-feira (18), o Dia do Conselheiro Tutelar. A data é uma homenagem aos profissionais que são escolhidos pela comunidade, para defender os direitos das crianças e dos adolescentes nos municípios.

Esses profissionais atuam no recebimento de denúncias de maus-tratos, violência sexual, trabalho infantil, entre outras violações de direitos. Também são responsáveis pela fiscalização e aplicação das políticas públicas direcionadas à população infanto-juvenil.

Franco Rocha destacou que a função de conselheiro tutelar é significativa para a sociedade.

“A nossa missão é zelar pelo cumprimento pelos direitos da criança e do adolescente e da família também. Então, nesso trabalho tem uma importância signifivativa principalmente para aquelas crianças que são vítimas de violação de seus direitos. Crianças que se tornam vítimas de pedofilia, crianças que acabam se tornando vítimas de um estupro vulnerável, o conselheiro ele existe para garantir para essa criança a sua proteção e os seus direitos fundamentais”, comentou.