Cotidiano

Esgoto clandestino contamina rio Cauamé

Moradores pagam 80% de taxa sem ter serviço de esgoto, mas ainda convivem com forte odor dos excrementos lançados no rio

Ligações clandestinas no esgoto de drenagem fluvial da Companhia de Águas e Esgoto de Roraima (Caer) acabam resultando no lançamento de fezes no rio Cauamé, afluente do rio Branco, principal manancial de água potável do Estado. O crime ambiental ocorre no final da travessa U, no bairro Caranã, zona Oeste. A Folha foi ao local e constatou a denúncia dos moradores. Uma grande quantidade de excrementos vazava da galeria da Caer para dentro do rio.
“Isso fede o dia todo. A gente vê as fezes boiando no rio e os peixes comendo. É uma nojeira. Queremos que alguém tome providência. Enquanto os rios secam em outros estados, a gente não cuida dos nossos. Cadê os órgãos de proteção do meio ambiente?”, questionou a dona de casa Maria Luíza Campos, de 39 anos.
A doméstica Maria das Graças, de 55 anos, moradora da travessa U, também reclama da poluição. Mãe de 12 filhos, ela lamenta que os mais novos já contraíram doenças devido aos banhos no rio. “Tem agora meus netos, mas digo para eles não irem tomar banho lá porque está poluído”, afirmou.
A Folha constatou que o despejo está sendo feito por uma galeria que seria para escoar apenas água das chuvas, mas como o sistema de esgoto ainda não foi finalizado nem interligado, moradores do próprio bairro fizeram ligações clandestinas das fossas à rede fluvial. O mesmo problema já ocorreu outras vezes, foi denunciado inclusive pela Folha, mas continua ocorrendo.
EMPRÉSTIMOS – A Caer é uma das empresas mais endividadas do Estado. As dívidas aumentaram de forma vultosa no começo de 2010, quando o Governo do Estado emprestou da Caixa Econômica Federal (CEF) R$70 milhões para ampliar o sistema de esgotamento sanitário de Boa Vista. A empresa também tomou emprestado do Governo Federal mais R$ 25,4 milhões para ampliar o sistema de abastecimento de água na Capital.
À época, o deputado estadual Flamarion Portela (PTC) fez o alerta. Apenas a Caer já havia endividado o Estado em mais de R$ 350 milhões, fazendo empréstimos junto ao Governo Federal.
Em outubro de 2011, o então líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), intermediou e conseguiu um empréstimo de mais R$60 milhões para a Caer, junto à Caixa Econômica Federal. O dinheiro deveria ser investido na 3ª etapa das obras de esgoto em Boa Vista.
Antes, a 1ª etapa da ampliação da rede consumiu R$ 120 milhões. Na 2ª etapa foram mais R$70 milhões. Em menos de quatro anos, a Caer fez uma dívida com o Governo Federal de aproximadamente R$ 600 milhões. O sistema ainda não foi interligado. (AJ)