Esgoto escorre ao lado de câmara e praça de cidade do interior

Comerciantes são apontados como os principais responsáveis pelo despejo de água servida nas principais ruas da sede de Uiramutã

Esgoto escorre em ruas de Uiramutã, inclusive em vias onde há órgãos públicos (Foto: Divulgação)
Esgoto escorre em ruas de Uiramutã, inclusive em vias onde há órgãos públicos (Foto: Divulgação)

Moradores da sede de Uiramutã, ao Norte de Roraima, denunciam o despejo de esgoto nas principais ruas do centro do Município, onde funcionam comércios e órgãos públicos. A água com forte odor invade calçadas e enche valas, o que incomoda a população e traz sérios riscos à saúde pública. O esgoto também escorre ao lado da Câmara Municipal e de uma praça pública.

Esgoto escorre em ruas de Uiramutã, inclusive em vias onde há órgãos públicos (Foto: Divulgação)

Comerciantes locais são apontados como os principais responsáveis pelo despejo de esgoto a céu aberto, mas os empresários culpam o Poder Público que, segundo eles, tem a obrigação de construir a rede de esgoto. Enquanto o impasse acontece, crianças e outros moradores ficam sujeitos à contaminação e proliferação de doenças.

“É um risco à saúde pública. A água suja fica empossada nas valas e provoca a proliferação de insetos, o que pode causar várias doenças. Os comerciantes devem se conscientizar e parar de despejar esgoto na rua. Isso é crime”, reclamou uma moradora, que preferiu não se identificar.

O gerente do Sistema de Interior da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caer), Adriel Caio, informou que a Companhia não é obrigada a construir ou tomar conta de esgoto no interior do Estado. Ele explicou que a construção da rede é de responsabilidade de cada município, mas a Prefeitura de Uiramutã afirma que o serviço de esgotamento é de responsabilidade do Governo de Roraima.

A Caer administra atualmente a rede de esgoto da capital, de Bonfim e Mucajaí. Ainda sobre a construção da rede, o chefe de Unidade da Caer no Uiramutã, Santilho Júnior, informou que a Prefeitura pode ir atrás de recursos, mas a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinf) também pode contratar uma empresa por meio de licitação para fazer o serviço. Os recursos da obra, de acordo com ele, podem vir do governo federal ou estadual.

Mas para conseguir recursos federais ou estaduais para construção de rede de esgoto, o Município tem que elaborar o seu plano de saneamento básico, devidamente aprovado pela Câmara, após consulta popular. E só a partir dessa aprovação, o Governo do Estado fica habilitado a construir a rede de esgoto, em parceria com a Prefeitura. Mas enquanto o Município não tem rede de esgoto, o morador é obrigado por lei a construir fossa séptica com sumidouro.

Poluição ambiental

Esgoto escorre em ruas de Uiramutã, inclusive em vias onde há órgãos públicos (Foto: Divulgação)

No caso da poluição ambiental e dos riscos à saúde pública, o fiscal sanitário de Uiramutã, Daniel Araújo, foi contundente ao afirmar que o despejo ilegal de água servida na rua é uma infração que pode acarretar multas.

O fiscal explicou que, quando o Município não tem rede de esgoto, o morador – seja comerciante ou não – é obrigado por lei federal a construir sua fossa séptica com sumidouro. Ainda há uma normativa, observou Araújo, que apresenta os requisitos mínimos para a construção e manutenção da fossa séptica para que não haja poluição do meio ambiente.

“Quem despeja água servida na rua pode ser notificado pelos órgãos ambientais. E se a infração persistir, o responsável pode ser multado e ter seu estabelecimento interditado. No caso dessa água poluída oferecer riscos à população, a Vigilância Sanitária também pode notificar e multar. Há casos ainda em que a Vigilância encaminha a denúncia ao Ministério Público, que ajuíza ação na Justiça”, explicou.

O fiscal sanitário informou que já tem um relatório fotográfico de tentativa de notificação aos infratores que moram na sede de Uiramutã, mas precisa do auxílio da Polícia Militar para multá-los. Inicialmente, ele recomenda que a população construa fossa séptica com sumidouro e informa que água suja despejada na rua pode ajudar na proliferação de insetos e animais, como ratos, além da consequente disseminação de doenças.

Após o relatório com os locais de despejo de esgoto clandestino na sede do Uiramutã, Daniel Araújo informou que o próximo passo será identificar os responsáveis para a aplicação das penalidades previstas em lei. A multa para quem comete a infração pode chegar a R$ 2 mil.

Termo de ajustamento

Em novembro de 2017, o Ministério Público de Roraima (MPRR) firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com prefeitos dos municípios de Cantá, Caracaraí, Iracema, Normandia, São Luiz do Anauá, São João da Baliza e Uiramutã. A iniciativa visou minimizar problemas crônicos que colocam em risco à saúde da população, como a falta de rede de esgoto.

Presidentes das câmaras municipais, representantes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) – órgão responsável pelo repasse dos recursos públicos -, da Caer e da Universidade Federal de Roraima (UFRR) também assinaram o acordo, se comprometendo a prestarem apoio técnico à execução do Plano Municipal de Saneamento Básico. Contudo, o termo permanece no papel e o esgoto continua sendo despejado a céu aberto na sede de Uiramutã.