Cotidiano

Especialista analisa que Prefeitura vai ter dificuldade para esvaziar o Beiral

Para o tenente-coronel da Polícia Militar, área é dominada pelo tráfico de drogas e criminosos irão resistir em nova tentativa de desapropriação

“A Cracolândia de Roraima”. Foi assim que o especialista em segurança pública e tenente-coronel da Polícia Militar, Jurandir Rebouças, denominou a área de interesse social Caetano Filho, popularmente conhecido como “Beiral”, localizada no Centro de Boa Vista. Esta semana, a Prefeitura de Boa Vista anunciou que irá retirar dezenas de famílias do local para iniciar um projeto de reestruturação da área.

Para Rebouças, no entanto, o tráfico de drogas será empecilho. “Infelizmente, ali é a nossa Cracolândia e isso não podemos negar. A gente não pode achar que o problema é apenas de segurança publica, é também um problema social antes de mais nada. Vai ter gente que só vai sair à força dali”, disse.

Esta não será a primeira vez que o município tenta retirar as famílias da área. Ainda na década de 90, o então prefeito de Boa Vista e ex-governador Ottomar Pinto tinha a intenção de construir uma Orla às margens do Rio Branco a partir do Beiral. Para isso, tinha o projeto de realocar os moradores para um conjunto habitacional no bairro Calungá, na zona sul. O projeto, no entanto, jamais saiu do papel.

Em 2002, na primeira gestão da atual prefeita Teresa Surita (PMDB), a ideia era remover os moradores do Beiral que estavam em área de risco, assim como os demais que moravam às margens de lagoas, porém, a promessa de encaminhar as famílias para unidades habitacionais no bairro Cidade Satélite, na zona oeste, acabou não dando certo.

A área do Caetano Filho se estende pelo Centro e o bairro Calungá, na zona sul. Dessa vez, o projeto de revitalização, orçado em R$ 100 milhões oriundos de convênio com o Governo Federal, prevê a demolição de 340 habitações e uma nova promessa de que as famílias sejam compensadas com um conjunto habitacional do projeto Minha Casa Minha Vida ou indenizadas, no caso de quem não tiver perfil social para ser beneficiado pelo programa habitacional.

OPERAÇÃO – Em abril do ano passado, a Polícia Civil chegou a desencadear uma megaoperação de combate ao tráfico de drogas no Beiral, denominado de “Babilônia. Um efetivo de 300 policiais militares e 30 viaturas adentrou a área e cumpriu 50 mandados de busca e apreensão, além de prisões preventivas e temporárias emitidas contra os chefes do tráfico.

À época, o delegado responsável pela operação, João Evangelista, calculou que o movimento do tráfico de drogas somente naquela região chega a R$ 1 milhão por mês. O governo chegou a anunciar que a polícia iria ocupar o Beiral, instalando um posto policial e câmeras de vigilância, o que acabou não se concretizando.

“Ali é a maior boca de fumo da região Norte. O tráfico não pode vencer o Estado de forma geral, mas, infelizmente, é uma guerra perdida e vai só transferir o problema de um lugar para outro se não houver trabalho sério na área social, porque as pessoas ali que estão no mundo do crime vão continuar pelo mesmo caminho”, analisou o especialista.

PREFEITURA – A Folha encaminhou demanda para a Prefeitura de Boa Vista com o objetivo de saber como será feito o trabalho de retirada das famílias e como o município pretende acabar com a questão das drogas no Beiral. Mas, até o fechamento desta matéria, às 19h de ontem, não obteve retorno. (L.G.C)