Cotidiano

Estado gasta milhões com mutilados

Estatísticas mostram que o número de atendimentos por acidentes de trânsito subiu de 6.109, nos primeiros sete meses de 2013, para 6.606 no mesmo período deste ano

Os gastos na área da Saúde são grandes para recuperar pessoas mutiladas no trânsito. A diária na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), por exemplo, pode chegar a R$ 25 mil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS). A internação é paga pelo SUS (Sistema Único de Saúde), do Governo Federal.
Ainda conforme o levantamento, o custo de cada cama na UTI, em média, é de R$ 22 mil, mais um respirador, R$ 50 mil, e um monitor, R$ 60 mil. Somando-se outros equipamentos de menor porte, cada leito não sai por menos de R$ 90 mil, sem incluir o salário de pessoal e prestadores de serviço.
O coordenador do Serviço de Ortopedia do HGR (Hospital Geral de Roraima), Marcelo Arruda, informou que uma vítima de trânsito, de média complexidade, fica internada de 15 a 20 dias. Nos casos mais graves, a internação pode durar meses.
Segundo ele, a maioria dos acidentes de trânsito, em Roraima, envolve jovens de 20 a 35 anos. As vítimas, segundo o médico, quase sempre ficam com sequelas irreversíveis. Alguns nunca mais voltam a andar.
“Os acidentes causam grandes transtornos, tanto para o poder público, quanto para a família dos acidentados, que deixam de trabalhar justamente na faixa etária mais produtiva. A maioria, após o acidente, sai com múltiplas fraturas”, observou o coordenador.
Grande parte das fraturas, ainda conforme o médico, ocorre na região toráxica e no crânio. E as sequelas quase sempre são irreversíveis. “Essas pessoas não conseguem retornar à função que exerciam no trabalho. Como já disse. É um grande transtorno à família e ao poder público. As vítimas, então, passam a depender de benefícios do INSS [Instituto Nacional de Seguridade Social”, comentou.
O coordenador informou ainda que os acidentes ocorrem, principalmente, aos finais de semana, em especial quando sai o pagamento do servidor público. “Os acidentes geralmente estão associados à bebida alcoólica e à imprudência. Muitos desses jovens sequer têm carteira de habilitação”, observou.
Como saída, a curto prazo, para evitar mais acidentes, o médico sugere a intensificação de blitze, maior fiscalização e aplicação das punições previstas na lei. “A médio e longo prazo, é preciso educar desde o ensino básico. Assim, poderemos ter um trânsito com menos acidentes, com menos violência. Poderemos ter paz no trânsito”, destacou.
SESAU – Apesar do levantamento do Ministério da Saúde, segundo a direção do HGR, não há como mensurar, em números absolutos, o custo específico com os acidentados de trânsito em Roraima, mas reforça que é destes casos que surge a maior parte da demanda por leitos e cirurgias na unidade, configurando, deste modo, um dos principais problemas de Saúde Pública no Estado.
Conforme dados da Coordenadoria Geral de Urgência e Emergência (CGUE), a Central Estadual de Regulação do Samu (Serviço Móvel de Urgência e Emergência), quase dobrou a quantidade de remoções em decorrência de acidentes de trânsito.
No primeiro semestre deste ano, o Samu atendeu 3.351 atendimentos em virtude de acidentes de trânsito, quando as remoções pela mesma causa somaram 1.739 no mesmo período do ano passado. Os dados apontam um aumento de 92,69% do primeiro semestre de 2013 para o primeiro semestre deste ano.
Entre os tipos de acidentes, o mais atendido pelo Samu envolve motocicletas. Colisões entre carro e moto, entre duas motocicletas e queda de moto, somaram 2.961 remoções só este ano, contra 1.283 pelo mesmo motivo no ano passado. Os dados representam um crescimento alarmante de mais de 100%.
Dados do Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (Same) do HGR (Hospital Geral de Roraima) mostram que o número de atendimentos por acidentes de trânsito subiu de 6.109, nos primeiros sete meses de 2013, para 6.606 no mesmo período deste ano. As vítimas por motocicletas ainda prevalecem. Em 2013, de janeiro a julho, foram 4.319 casos, e neste ano, no mesmo período, subiu para 5.086 vítimas, um, aumento de 17,5%.
A unidade fechou o ano de 2013 com 3.971 cirurgias realizadas, sendo 614 somente na área ortopédica. Em 2012, a unidade realizou 606 cirurgias na área da ortopedia e, em 2011, 557 procedimentos na área.
ATENDIMENTO – Em Roraima, os pacientes vítimas de acidentes de trânsito recebem atendimento especializado no Núcleo Estadual de Reabilitação Física 05 de Outubro (Nerf), que funciona na avenida Ataíde Teive, 6.459, bairro Nova Canaã.
Em 2012, foram realizados mais de 20 mil atendimentos, no ano de 2013 foram realizados 30.167 atendimentos e no primeiro quadrimestre de 2014, foram avaliados mais de 808 pacientes. Entende-se por demanda de reabilitação física toda pessoa com deficiência motora, aquelas que apresentam um comprometimento do parelho locomotor, que compreende o sistema osteoarticular, o sistema muscular e o sistema nervoso. (AJ)
Dívida milionária do Detran impede investimentos
O diretor-presidente do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Edgilson Dantas, disse que recebeu a autarquia com 71% de inadimplência. A dívida, principalmente com fornecedores, ultrapassava R$ 4 milhões, mas foi reduzida, segundo Dantas, para 48%.
“Implementamos um novo trabalho e o estamos conseguindo equilibrar a balança da autarquia com o que vem sendo arrecadado. Até investimos na compra de seis novas viaturas, mas o número de agentes não é suficiente. Falta efetivo”, lamentou, informando não haver previsão de concurso.
Entre as dívidas, o diretor citou as duas maiores: com uma empresa de sistema, em Brasília, e com a que emite CNH (Carteira Nacional de Habilitação), em São Paulo. A primeira tem R$ 200 mil para receber do Detran, todo mês; e a segunda, R$ 130 mil, também mensal.
Apesar de ter arrecadação independente, a autarquia, que se recupera financeiramente, pouco está podendo investir para tentar reduzir o número de acidentes de trânsito. Contudo, Dantas informou que foram mapeadas avenidas e cruzamentos na Capital, onde mais ocorrem acidentes. “E nos horários de pico, colocamos agentes nesses locais”, garantiu.
A inadimplência, conforme o diretor, também vem caindo no setor de licenciamento. Antes, ainda segundo Dantas, de cada 10 veículos, cinco não pagavam IPVA (Imposto sobre Veículos Automotores). O número de apreensões aumentou em 69% do ano passado para cá. De janeiro a outubro de 2013, lembrou Dantas, foram apreendidos 1.837 veículos. “E no mesmo período deste ano, o Detran apreendeu 3.116 veículos”, complementou. (AJ)