O tomate voltou a ser o grande vilão nas compras de produtos da feira-livre. Em média, o produto subiu 40% em relação ao preço do quilo vendido no final de dezembro. Em quatro barracas pesquisadas na manhã desta sexta-feira, pela Folha, na Feira do Produtor, no bairro São Vicente, zona Sul, os preços variaram de R$ 6,00 a R$ 7,50. Antes estavam entre R$ 4,50 e R$ 5,00. O tomate com qualidade inferior foi encontrado por R$ 5,00. A cebola e a pimenta também estão entre os produtos que mais subiram neste início de ano, com aumento entre 10% e 20%.
Com experiência de mais de 25 anos comercializando na Feira do Produtor, Elenita Gomes disse que, com o aumento dos produtos, as vendas caíram bastante. Embora não tenha uma definição clara, especulou em cerca de 30% a menos o faturamento nos primeiros dias de 2016 em relação à semana anterior.
“Sem chuva não temos como produzir. E aí os preços ficam mais caros e as pessoas acabam comprando menos. O prejuízo é para nós, que vendemos menos e lucramos menos”, disse. Porém, citou que, enquanto uns produtos sobem, outros baixam, como é o caso do pimentão, que estava a R$ 4,00 na semana passada, e passou, nesta semana, a ser vendido a R$ 3,00 o quilo. “É produto de irrigação e, como a oferta está grande, os preços baixam”, afirmou.
Já a cebola é encontrada entre R$ 5,00 e R$ 6,00 o quilo, apresentando uma ligeira alta em torno de 10%. “A cebola não é produzida em Roraima e depende muito de onde está vindo para se definir o preço final, mas sempre se mantém neste preço entre R$ 4,00 e R$ 6,00 o quilo”, disse.
Ronei Mota, que trabalha há 12 anos na Feira do Produtor, disse que a falta de chuvas que vem afetando o interior do Estado desde o ano passado, mostrando reflexos através da alta de preços em diversos produtos que fazem parte da mesa do brasileiro. “São produtos da região do Matá-Matá e do Bom Intento, aqui mesmo na zona rural de Boa Vista, mas a seca tem dificultado a produção. Os poucos produtores que têm irrigação produzem alguma coisa, mas, pela pouca oferta, estes produtos acabam chegando mais caros para o consumidor final”, disse.
Ele citou que os produtos que apresentaram maior alta esta semana foram o tomate e a pimenta, além da cebola, que vem de outros estados. “A pimenta subiu muito. A saca de 20 quilos chegou a R$ 200,00 e está sendo revendida entre R$ 12,00 e R$ 15,00 o quilo. Antes se pagava entre R$ 160 a R$ 180,00 na saca e podíamos vender a R$ 10,00 o quilo”, frisou.
“Os preços dos produtos têm uma variável frequente, pois dependem da produção. Tem semana que aparece boa quantidade de um determinado produto, e isso faz baixar o preço. Na outra semana, esse produto está mais escasso e o preço aumenta. É sempre assim”, explicou Mota. (R.R)
Empresários e donas de casa buscam alternativas
Com os preços de verduras e legumes nas alturas, a empresária do ramo de alimentação, Célia Rocha Torres, deixou de comprar a cebola e disse que, em alguns pratos, é possível substituir e manter o mesmo sabor da comida. “Não vou comprar a cebola por esse preço. Vou substituir por cheiro verde, coentro e a cebolinha, que não faz o mesmo efeito, mas dá um sabor especial à comida. Quando o preço baixar, volto a comprar cebola novamente. Mas na salada tem que ter o tomate e não dá para ficar sem ele. Tem que comprar”, frisou.
Já as frutas são encontradas em grande variedade. Laranja, abacaxi e banana, entre outras. Porém, os preços estão salgados, como disse o servidor púbico João Carlos. “É praticamente os mesmos preços cobrados nos supermercados. E na feira deveria ser bem mais barato”, disse.
Para a dona de casa Leonice de Araújo Costa, é preciso pesquisar para encontrar os melhores preços. “Tem muita diferença de preço de uma barraca para outra. Às vezes, até coladas uma na outra, o preço cai em R$ 1,00 no mesmo produto. O tomate estava R$ 9,00 num local e encontrei um até melhor por R$ 5,00. Tem que andar e pesquisar”, frisou.
A dona de casa Resineuza Salustiano disse que procura sempre comparar preços antes de comprar, até mesmo nos supermercados. “Está tudo muito caro. Temos que pesquisar e só comprar onde estiver mais em conta e com boa qualidade”.
Ela afirmou que, quando o produto está muito caro, ela tenta substituir por outro. Por exemplo, a cenoura pela abóbora. “Já o tomate, que é o que sempre aparece mais caro, ou compro menos ou deixo de comprar até o preço baixar”, disse. (R.R)
Falta de apoio para escoar produção faz feira perder referência, diz empresário
“A Feira do Produtor aos poucos está perdendo sua referência, que é comercializar produtos regionais”. Foi assim que o empresário Josué Fernandes definiu o momento atual do local. “Sem o apoio, os pequenos produtores rurais, principalmente os do interior do Estado, encontram dificuldades para produzir e para escoar sua produção até a feira”, observou.
Entre os produtos regionais que são produzidos no Estado e comercializados na feira, estão o tomate, pimenta, pimenta de cheiro, macaxeira, pimentão, pepino feijão-verde e batata-doce.
Há mais de dez anos em atividade no local, ele conta que, ao longo dos tempos, o Governo do Estado foi deixando de dar incentivos, entre eles o transporte que diariamente trazia os feirantes com seus produtos e a formação de uma cooperativa para fortalecer os produtores. “Sem o transporte, os feirantes estão tendo que pagar o frete, e isto aumenta o preço final dos produtos”, frisou.
Outro ponto destacado foi em relação à produção do tomate regional e de outras hortaliças que precisam de um manejo adequado. “Para plantar tomate tem que ter incentivos e, sem esse apoio do Governo, fica difícil. Por isso o produto chega à feira no mesmo preço do que vem de fora ou até mais caro. E, neste período de falta de chuvas, os produtores perdem a plantação do tomate e os que conseguem produzir, muitas vezes não conseguem trazer o produto até a feira devido à situação das estradas e à falta de transporte. O movimento está parando na Feira do Produtor”, frisou.
Segundo ele, a falta de produtos regionais o levou a comercializar tomate e cebola comprados em Manaus (AM), os quais são de outros estados como Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. “Sai mais barato e vendemos mais. Além de mim, muitos outros feirantes estão fazendo o mesmo”, disse.
Porém, seu Antonio Ferreira persiste em vender produtos regionais na sua banca há mais de 20 anos. Pimenta de cheiro, batata-doce, pimentão, maracujá, jerimum, abóbora e feijão-verde são alguns dos produtos que vêm da região do Samaúma. O tomate estava à venda por R$ 5,50.
“A dificuldade maior é a falta de boas estradas. Nem sempre conseguimos trazer os produtos até a feira”, disse o produtor, informando que ele mesmo produz e vende. “Por isso vendo mais barato”. (R.R)