Cotidiano

Estrutura é criada para cadastrar e acompanhar migração venezuelana

Centro de Referência ao Imigrante será criado em Boa Vista pelo Gabinete Integrado de Gestão Migratória em Boa Vista

Mais de dois mil imigrantes venezuelanos foram cadastrados em Roraima no último mês. O número é resultado do trabalho de mapeamento e levantamento realizado pelo Gabinete Integrado de Gestão Migratória (GIGM). Pela demanda alcançada, o órgão decidiu montar um Centro de Referência ao Imigrante, onde será realizado um trabalho de atendimento médico e de orientação de alimentação no primeiro momento.

Em Pacaraima, município fronteiriço ao Norte do Estado, foi implantado um Centro de Atendimento ao Migrante para iniciar a contagem e o perfil dos estrangeiros. Na Capital, além de ter sido montado o Centro de Atendimento ao Migrante na Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), visando o levantamento do número de imigrantes que já se encontravam na Capital, o Centro de Referência será instalado até a semana que vem.

Conforme os resultados, foram criados quatro grupos de trabalho voltados para assuntos de saúde, assistência social, educação e segurança. O grupo de saúde está voltado às prováveis doenças que podem vir da Venezuela para o Brasil, e à fundamentação de uma barreira sanitária para a saúde pública, tanto pessoal quanto animal, já que é de conhecimento a problemática da aftosa no país vizinho.

O secretário executivo da Defesa Civil Estadual, tenente-coronel Doriedson Ribeiro, explicou que já foram enviados ofícios ao Ministério da Saúde e Anvisa, além do Ministério da Agricultura e Pecuária, para a implantação da barreira. “É um problema social, mas é maior do que parece. Pessoas estão na rua, mas também tem as que estão análogas ao trabalho escravo”, relatou.

Segundo informações do coronel Ribeiro, a montagem de uma estrutura traz outras demandas que estão por trás. Por não terem tido conhecimento dos números até o momento, estão atacando por partes. “Começamos com a saúde pública, em segundo com a questão da assistência social para atender aos estrangeiros e, no terceiro momento, serão discutidas as questões da segurança e da educação”, disse.

CENTRO – De acordo com o tenente-coronel, o Centro de Referência ao Imigrante não terá um ponto fixo, a fim de atender a população alvo em todas as áreas mapeadas. Nos primeiros 30 dias, o centro vai funcionar próximo à Feira do Passarão, no bairro Asa Branca, zona Oeste. Nos outros 30 dias passarão para outro local ainda não estabelecido.

O centro não abrigará os estrangeiros. Doriedson Ribeiro ressaltou que, se o Estado criar locais de abrigo, terá que criar obrigações em relação aos assistidos, como questões de segurança e tratamento de saúde. “O custo é grande, sozinho o Estado não consegue. O objetivo é também proteger os estrangeiros. Além de ser um trabalho humanitário, é também de proteção”, frisou.

O trabalho está sendo realizado em parceria com a Diocese de Roraima e Grupo Fraternidade, além das parcerias na área estadual, municipal e federal. A previsão é que no Centro os atendimentos se iniciem ainda essa semana.

BRASILEIROS – Apesar do assunto também envolver brasileiros na situação de vulnerabilidade dos imigrantes, o tenente-coronel Ribeiro explicou que estão trabalhando com a questão específica do estrangeiro, considerando que os mesmos, pela migração em massa, causam alguns tipos de situações desconfortáveis à população local, como os indígenas pedindo esmola nos semáforos.

Conforme relato, a cultura da etnia Warao atua como mendigos nômades na Venezuela. Contudo, a escassez dos recursos no país vizinho é atribuída à vinda dos indígenas venezuelanos para o Estado. Ribeiro também ressaltou o caso dos estrangeiros que estão dormindo nas feiras e na rodoviária.

Segundo ele, o gabinete foi criado especificamente para o tipo de imigrante que está trabalhando, uma vez que não há como fazer o atendimento voltado a toda população. “Sabemos que brasileiros também estão em caso de vulnerabilidade, logicamente os que estão na mesma condição e que forem ao centro serão atendidos”, disse. (A.G.G)

Centenas procuram visto de permanência e refúgio

A migração em massa de venezuelanos para Boa Vista só aumenta. Centenas de estrangeiros lotam a Superintendência da Polícia Federal, no bairro 13 de Setembro, zona Sul da Capital. Eles chegam em busca de visto de permanência e pedindo refúgio. No mês passado, a estimativa dos órgãos públicos era de que mais de 30 mil venezuelanos já haviam migrado para Roraima.

A Polícia Federal já deportou este ano quase 500 venezuelanos que estavam em situação irregular no Brasil. Os estrangeiros, em sua maioria, foram detidos na Capital e no Município de Pacaraima, na região Norte do Estado, a 225 quilômetros da Capital pela BR-174, na fronteira com a Venezuela.

Os venezuelanos fogem do seu país devido há anos de turbulências políticas e econômicas. Falta de tudo no país vizinho, do papel higiênico à comida na mesa da população. A recessão no país comandado por Nicolás Maduro provocou um caos social jamais vivido pelos venezuelanos. (AJ)