“Querido Papai Noel, meu nome é Emanuel de Lima Araújo, estou concluindo meu 4° ano, moro com meu pai e minha mãe, quero ganhar uma bicicleta ou uma arma de água de brinquedo ou uma bola. Desde já agradeço muito”.
O menino de 10 anos, morador da comunidade indígena Campo Alegre (zona rural de Boa Vista), não acreditava no bom velhinho. Mas mesmo assim, escreveu para ele após ser desafiado pela professora Marta Lima de Araújo, de 38 anos.
“Arrumamos uma estratégia, porque os alunos não acreditavam muito, pois nunca aconteceu com eles. Falei pra eles que Papai Noel existe. Agora, o Emanuel acredita”, disse a docente do 4° ano do Ensino Fundamental da escola municipal indígena Ko’Ko Ermelinda Raposo da Silva (Campo Alegre).
Emanuel foi uma das 649 crianças de oito comunidades da região do baixo São Marcos, na zona rural da capital de Roraima, contempladas pela campanha Papai Noel dos Correios. Anualmente, empresas, instituições e pessoas comuns adotam cartas reunidas pelo projeto e ajudam a fazer mais feliz o Natal de milhares de crianças brasileiras.
“O principal objetivo desta campanha é fazer com que as crianças tenham incentivo à escrita e à leitura, de modo que possa manter vivo o sonho do Natal”, explicou o superintendente estadual dos Correios em Roraima, Marcelo Augusto Pinto da Silva.
A ação desta segunda-feira (19), na escola municipal indígena Vovó Antônia Celestina da Silva, na comunidade Vista Alegre, reuniu alunos, professores e secretárias municipais. Na sexta (16), cerca de 200 crianças de quatro comunidades já haviam sido contempladas.
Ao ser anunciado para receber a bicicleta – sua primeira opção escolhida na carta enviada ao Papai Noel -, Emanuel de Lima abriu o sorriso e só agradeceu. “Tou nervoso”, revelou ele, que era um dos poucos de seu círculo de amizade ainda sem ter uma bike. “Papai Noel, obrigado por ter lido minha cartinha. Papai Noel existe”, disse, apressado para estrear a pedalada na primeira da bicicleta da vida.
Um grupo de 15 bombeiros da Diretoria de Pessoal e Legislação do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima adotou a carta de Emanuel, que virou um quadro. Nele, os profissionais mandaram um recado ao garoto: “Que Deus lhe abençoe!”.
Os colegas da escola de Emanuel também ganharam o que pediram ao Papai Noel. Sem a campanha dos Correios, eles não teriam condições para adquirir os presentes. Felicidade garantida para o estudante venezuelano Oscar José Sulbaran Rodriguez, 9, do 3° ano do Ensino Fundamental, após ganhar um carrinho de controle remoto. “Tou feliz. Vou agora só brincar”.
E também para a aluna Isabelly Vitória Pereira Magalhães, 10, do 4° ano do Ensino Fundamental, que pediu um kit de material escolar. “Pedi o material pra não ficar muito pesado [financeiramente] pra minha mãe”, relatou sobre a genitora, que ainda mantém seus três irmãos após a morte do patriarca da família.
Menina sonha ser jogadora como Marta
No início do ano, Sofia Rebeca Ferreira Cunha, hoje com oito anos, viralizou nas redes sociais em um vídeo no qual o pai, o autônomo Tancredo Maruai Cunha, 34, narra o trajeto de 100 quilômetros de Vista Alegre rumo à zona urbana da capital para levar a garota a uma escolinha de futebol.
Mesmo sem ter conquistado apoio suficiente para levá-la ao Rio de Janeiro, para uma avaliação no projeto Daminhas da Bola, do Fluminense, o pai garante que vai lutar pelo sonho dela de se tornar jogadora profissional, apesar das dificuldades.
Em reportagem de abril, a estudante do 2º ano do Ensino Fundamental da escola onde foi realizada a entrega do presente mostrou sua qualidade ao chutar e driblar com as duas pernas. “Ela se inspira muito na Marta, tem prazer de jogar bola, nasceu praticamente no esporte, gosta muito, ama. Acredito que ela vai conquistar o sonho dela, de se tornar uma jogadora”, disse Maruai.
Não é à toa que a fã da atacante eleita seis vezes melhor do mundo pediu ao Papai Noel uma bola de futebol (pois a que tinha furou), além de uma mochila. Pedido atendido: a bola rubro-negra (cores do coração Flamengo, seu time do coração) veio dentro de uma mochila rosa. Tímida, ela resumiu que estava “muito feliz”.
Papai Noel segue exemplo do pai, vítima da Covid-19
A mesma emoção que inunda o coração da criançada contagia o motorista de transporte escolar Weverton Gonçalves de Almeida, 30. Para ele, que se fantasiou de Papai Noel para entregar os presentes e antecipar o Natal de centenas de crianças nesta segunda, a estreia no ofício teve um significado especial. “Quem fazia esse papel era meu pai e hoje eu tou fazendo esse trabalho. E adoro, gosto, tá no sangue da família”.
Um ano e oito meses atrás, o pai dele perdeu a batalha para a Covid-19, doença que já matou 2.178 pessoas em Roraima. O militar tinha 69 anos e se vestia de Papai Noel para alegrar os colegas de farda. Daqui para frente, Weverton quer manter vivo o legado do pai, mas diante da criançada. “Muito bom sentir o carinho, o amor da criançada. A gente fica bem emocionado. Este é o meu primeiro ano como Papai Noel e daqui pra frente quero continuar cada vez mais”.
*Por Lucas Luckezie