Por AYAN ARIEL
Colaborador Folha
Cursar uma faculdade é um sonho na vida de muita gente, porém existem vários percalços até que a entrega do tão sonhado diploma se torne realidade. Esses desafios podem se tornar um pouco mais complexos para quem possui alguma deficiência.
Uma das principais instituições de ensino superior em Roraima, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) possui atualmente 103 alunos PCD (Pessoa com Deficiência) matriculados, sendo Medicina, com 31 alunos, e Direito, com nove, os cursos que mais possuem acadêmicos com alguma deficiência.
Bianca Pizano, de 23 anos, é uma dessas estudantes. A graduanda do 10º semestre de Pedagogia nasceu com apenas 20% da visão do olho esquerdo. Ela conta que no início houve dificuldades dentro do meio acadêmico.
“Quando eu comecei a estudar, não havia scanner, que foi adquirido alguns meses depois. Nesse tempo, meus colegas se reuniam em grupos e liam o texto, para que eu acompanhasse as aulas”, relatou a jovem.
Quem também chegou a enfrentar desafios dentro do meio acadêmico foi Mary Santana, de 59 anos. Há 22 anos ela perdeu a visão total do olho esquerdo por conta de um glaucoma. No sétimo semestre do curso de Música, ela relata que o começo dessa jornada não foi dos mais fáceis, não só por causa de sua condição, mas também por conta de sua idade.
“A turma tinha pessoas mais jovens, então havia certo atrito por ter essa diferença de pensamento entre eles e pessoas com certa idade, assim como eu e outros colegas. Também tive dificuldades para poder pegar a matéria e chegar aonde o professor quer, principalmente nas disciplinas de teoria e percepção, que são as mais difíceis”, contou Mary.
DISCRIMINAÇÃO – No meio acadêmico, a estudante de música enfrentou o preconceito por conta de sua idade, mas perante a sociedade, percebeu certas atitudes por conta de sua condição. “Sempre tem aquelas pessoas que fazem pouco caso e não acreditam em quem tem essas condições”.
Essas atitudes foram sentidas fortemente por Bianca, principalmente durante o ensino médio. “Pelo fato de perceber que a turma, naquela ocasião era bastante individualista, acabei tendo ajuda de poucos colegas. Também teve professores que eram preconceituosos e dificultavam o acesso às disciplinas”, disse.
Apesar disso, ela não desistiu e, no meio acadêmico, foi abraçada pelos colegas de turma e os professores. “Tive uma aceitação maior”.
O MEIO ACADÊMICO – O acesso ao ensino superior é um direito de todos que deve ser cumprido de forma igualitária como previsto em lei. “Um dos princípios da universidade é a diversidade. Dialogar e conviver com o diferente é essencial e enriquece esse espaço”, pontuou Dâmaris Cardoso, coordenadora da Divisão de Acessibilidade da UFRR.
Buscando dar esse apoio a esses alunos com deficiência, a instituição dá o apoio desde o ingresso, por meio de um servidor que apresenta os serviços realizados pela divisão, que possui apoio pedagógico e psicológico, além de coleta das informações desse aluno e disponibilização de apoio para qualquer situação.
Apesar disso, Dâmaris acredita que ainda há muito a ser feito. “O ensino tradicional ainda prevalece, porém esse método ainda não atende totalmente esses alunos e deve ser reparado. A visão da sociedade também deve mudar, pois ainda há discriminação com eles”, explicou.
RESISTÊNCIA – As vivências dentro do meio acadêmico fortalecem a convivência pacífica da sociedade com suas diferenças e iniciar esse novo ciclo é uma grande vitória deles, que buscam seu lugar no mundo.
Entrar para a universidade foi um exercício de amadurecimento para Bianca e a ajuda dos colegas e professores nesse momento foi essencial.
Para aqueles que buscam essa oportunidade de estudo, ela disse: “Não desistam! Mesmo com as dificuldades e barreiras que a gente enfrenta, eu acredito que se lutarmos pelos nossos direitos, talvez essas barreiras sejam rompidas”.