Acolhimento com um olhar humanizado. Esse é o principal objetivo do projeto realizado por acadêmicos do curso de Psicologia de uma Universidade particular de Roraima, em parceria com as delegacias de Boa Vista. A iniciativa visa prestar o primeiro atendimento às vítimas de abuso e violência que chegam ao Instituto Médico Legal para realização do exame de corpo e delito.
De acordo com a coordenadora Mariana Cruz, o projeto existe e é aplicado desde 2016 no IML, atendendo cerca de 100 pessoas por mês, sendo que com ele, os alunos de Psicologia têm a oportunidade de aprender e ajudar a sociedade enquanto atuam no Instituto. “Os acadêmicos realizam estágio supervisionado fazendo um trabalho de acolhimento das vítimas que precisam passar por exame de perícia. São pessoas já emocionalmente fragilizadas que precisam se sentir seguras para falar e permitir que sejam avaliadas pelo médico da perícia, por isso o primeiro contato é fundamental. Parte dos atendimentos são realizados em crianças e adolescentes vítimas de abusos, que precisam de espaço para relatar o que aconteceu sem medo de represálias, por exemplo”, explicou.
Thamirys Hualana Bastos é uma das acadêmicas de psicologia do oitavo semestre que tem atuado no atendimento de acolhimento e relatou como são as experiências humanizadas com as vítimas.
“As pessoas que chegam para realizar a perícia normalmente já vieram de delegacias e estão resistentes de passar pelos exames. Os funcionários não conseguem lidar sozinhos com algumas situações, então é importante nosso trabalho de acolhimento e estabelecimento de vínculo para que eles possam confiar que os procedimentos fazem parte do processo”
Geiza Rocha também é acadêmica do curso de Psicologia e realiza plantões no IML. Para ela, a ação tem o foco de ajudar as vítimas a darem o segundo passo, que é o de permitir que médicos peritos façam os exames. “Somos reconhecidas por nossas ações com casos considerados difíceis e delicados. O papel do psicólogo vai além de facilitador, somos responsáveis por recriar uma segurança que foi quebrada pelo abusador, por isso muitas vezes existe a resistência em permitir novamente a exposição física”
Para a diretora do Instituto Médico Legal, Marcela Campelo, o trabalho das acadêmicas é fundamental para o êxito da equipe que trabalha no atendimento às vítimas. “Não existem profissionais psicólogos no quadro de funcionários do IML e mesmo não sendo formadas, as estudantes possuem embasamento para lidar com o público que chega até nós, principalmente de mulheres e crianças vítimas de violência sexual. Muitas vezes foram elas que convenceram a vítima a fazer o exame ou conseguir dados que em outros ambientes não foi possível conseguir. Mulheres fragilizadas que precisaram de suporte mais profissional encontraram no acolhimento, esse apoio”, disse Marcela Campelo.
Francisco Farias, Médico Legista do Instituto Médico Legal, é um dos incentivadores para que o trabalho de acolhimento continue.
“A maioria das equipes são compostas por homens. Uma vítima de abuso se sente constrangida de ser examinada e por isso as acadêmicas já são um grande auxílio ao ajudarem a esclarecer fatos, principalmente na linguagem com crianças. Às vezes o abusador é uma pessoa de confiança e a vítima pode se sentir até culpada. São diversas situações que dificultam o trabalho do perito, mas com a ajuda das acadêmicas de Psicologia, o trabalho é possível ser feito”