Cotidiano

Estudantes estão sem aula desde junho

Além da reforma que dura desde o começo da Copa do Mundo, a escola sofre com a falta de água

Se viver na Capital já difícil, onde o acesso aos serviços públicos deveria ser mais fácil, imagine em localidades distantes. A Folha esteve durante cinco dias na Vila Nova Colina, distante 44 quilômetros da sede do Município de Rorainópolis, Sul do Estado, que fica mais de 350 quilômetros da Capital, e acompanhou de perto o sofrimento dos mais de quatro mil moradores, entre a vila e as dezenas de vicinais.
Desde o início da Copa do Mundo, no começo do mês de junho, alunos da rede pública estadual estão sem aula. Segundo os moradores, um dos principais motivos é que o prédio onde funciona a única escola estadual literalmente está caindo aos pedaços.
“Mesmo que tivesse aula, o risco de mandar uma criança para lá é muito grande. O forro e o teto estão caindo, janelas estão quebradas com cacos de vidros à mostra e tem muito lixo e mato ao redor do colégio. Não podemos dizer que ali é um ambiente escolar, ou a segunda casa de nossos filhos”, disse a dona de casa Luana Costa da Silva, 25.
Além desses problemas, outro muito grave, segundo a comerciante Maria Ana Leal, 42, é a falta de água. “Não existe sequer um bebedouro para atender aos alunos, muito menos água para dar descarga nos vasos sanitários, para lavar as mãos ou para fazer a limpeza da escola. Além disso, a rede de energia que passa na frente da escola não é suficientemente forte para fazer funcionar os ventiladores e as três centrais de ar instaladas”, reclamou.
Pais e responsáveis por alunos em idade escolar estão insatisfeitos com o que vêm ocorrendo na vila, pois devido a esse “recesso forçado” o ano praticamente está perdido para essas crianças. “Fizeram uma maquiagem na escola. Disseram que estavam reformando, mas nada disso está acontecendo. A previsão para recomeçarem as aulas era para hoje [ontem], mas já mudaram para o início do próximo mês. Enquanto isso, os alunos vão perdendo aula, e o governo gastando com propagandas mentirosas, dizendo que está tudo às mil maravilhas. É um absurdo termos que pagar impostos e nossos filhos e netos não terem sequer o direito à educação. Por que será? Para que eles continuem na escuridão e não saibam que tem direito a cobrar por melhorias?”, desabafou a sitiante Kátia Alves, 49.
Outra denúncia feita por um morador, que pediu o anonimato, é a de que o prédio está sendo usado por adolescentes e adultos usuários de entorpecentes. “É impossível passar em frente à escola no período noturno e não se deparar com usuários sentados na calçada fumando livremente. Somos reféns da própria sociedade”, disse.
SEED – Conforme nota encaminhada pela assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed), no dia 26 do mês passado foram concluídos os reparos de pintura, telhado, instalações elétricas e hidráulicas na referida escola.
Informou ainda que a unidade escolar recebeu um bebedouro novo e o funcionamento do aparelho depende do fornecimento de energia elétrica e água na região.
Com relação às aulas, afirmou que serão retomadas amanhã e que a gestão escolar está elaborando novo calendário escolar, a fim de repor os dias que não houve aula em razão dos reparos na estrutura física.
A unidade conta com 542 alunos matriculados nos 6º e 9º anos do Ensino Fundamental e séries do Ensino Médio.
MUNICÍPIO – Por problemas de falta de manutenção em um dos dois poços d’água que abastece os moradores da Vila Nova Colina – que tem afetado diretamente residências, comércios, prédios públicos e escolas há mais de vinte dias – um vigia e pai de uma aluna, José Nilton Leal dos Santos, 37, encontrou uma solução: carregar água para a escola municipal para que as aulas não sejam paralisadas.
O poço, segundo ele, “entupiu” e dificultou o escoamento da água para as edificações que possuem encanamento. “Todos os dias, graças à bondade da diretora da escola, vou até a casa dela, que possui poço, e carrego água para a escolinha. Se não fosse isso, seria impossível ter aula. Direto falta energia. No calor e sem água não dá”, afirmou.
CAER – Por meio de nota, a assessoria de comunicação da Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer) informou que a Vila Nova Colina é abastecida por dois poços artesianos, mas um deles desmoronou.
A empresa alegou que, como medida, um carro de som avisa à população e pede que economizem água. A promessa é de que um novo poço deverá ser perfurado até amanhã.