Cotidiano

Estudantes se revoltam e cobram obras urgentes em escola pública

Manifestantes afirmam que não suportam mais fedor nas salas, forro desabando, calor nas salas e falta de livros

Aproximadamente 300 alunos da Escola Estadual Raimunda Nonato, no bairro Santa Teresa, na zona Oeste, fizeram uma manifestação, ontem, à tarde, em frente à escola. Um princípio de tumulto foi registrado e a polícia acionada depois que pedras foram jogadas contra o telhado da escola, segundo os alunos, por pessoas que passavam pelo local. No momento em que a Folha esteve presente, a manifestação foi pacífica com os estudantes portando faixas e cartazes cobrando melhores condições de trabalho para os professores e melhor estrutura para os alunos.
Segundo a estudante R. O. E., do 8º ano, o movimento pretende chamar a atenção das autoridades pelas péssimas condições em que se encontra a escola. A mobilização deve continuar até a direção convocar os líderes do movimento para uma reunião. “Entre as reivindicações mais urgentes estão a de resolver o fedor das salas, que ficam perto dos banheiros que estão insuportáveis e o teto da sala que caiu e ninguém resolve nada”, disse.   
O líder do movimento, Arthur Vítor Lopes, da 8ª série A, destacou que toda a estrutura da escola precisa ser revitalizada, pois as paredes estão riscadas e com buracos, os sanitários precisando de reparos nos vasos e nas descargas, pias quebradas e sem torneiras. Citou ainda que a merenda não apresenta qualidade, há falta de livros e que as centrais de ar nunca foram instaladas.   
“Só há um bebedouro na escola para todos os alunos e a maioria das torneiras não abre. Não há copos e colocam umas cuias para improvisar. Há um professor que se transferiu para o turno da noite devido ao calor e porque as centrais de ar nuca foram instaladas, mesmo estando na escola há mais de três anos. Há sala que sequer dispõe de ventilador”, afirmou.  
Quanto à limpeza da escola, os alunos confirmaram a demissão de funcionários terceirizados, mas não souberam informar quantos. “Os que ficaram não estão limpando a escola, segundo eles, por estarem com salários atrasados e outros cumprindo aviso prévio”, afirmaram os alunos.     Os servidores da merenda escolar também foram alvo de reclamação dos estudantes. “Soubemos que os servidores da merenda também não estão sendo pagos e nem sempre eles fazem a merenda”, afirmou. “No início deste mês, passamos duas semanas saindo mais cedo por não haver merenda, justamente porque os servidores estavam sem receber o salário”, frisou.     
A Folha tentou contato com a direção da escola, mas não recebeu autorização para entrar na instituição. No portão, uma professora que se identificou como Fátima disse “que tudo já tinha sido resolvido lá dentro e que a direção não iria se pronunciar”.
Ao ser questionada pelo que havia sido resolvido, a professora disse que não sabia porque os alunos estavam “agindo assim”. “Eles têm que saber que em todas as escolas a situação está assim, isso é geral no sistema [educacional] do Estado”, afirmou.  SEED – Em nota, a Assessoria de Comunicação Social da Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) afirmou que a escola será contemplada com obras de reforma geral e que o levantamento das necessidades e projeto básico já foi concluído. O processo está tramitando na Seed e encontra-se em fase final. Com relação às centrais de ar, a escola está contemplada com o redimensionamento da rede elétrica que irá atender inicialmente 37 instituições de ensino mediante um cronograma.
Sobre os bebedouros, disse que está em fase de licitação o processo para aquisição de 500 unidades que irão atender às demandas das escolas estaduais. Em relação às carteiras escolares, afirmou que também há um processo em andamento para aquisição de 940 carteiras para serem distribuídas entre as unidades de ensino.
Frisou ainda que, no ano passado, a instituição de ensino recebeu 50 carteiras e que no início do ano letivo de 2014 eram em número suficiente para atender aos estudantes.
A Escola Maria Raimunda Nonato de Freitas atende a 860 alunos nas modalidades do Ensino Fundamental (4º ao 9º ano) e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
SINTER – A manifestação dos alunos da Escola Estadual Raimunda Nonato chamou a atenção do presidente do Sinter (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Roraima), Ornildo Roberto, que se fez presente no movimento e apoiou a iniciativa dos estudantes.
“Vemos isso com tristeza quando mais uma vez nos deparamos com movimentos de alunos protestando contra as péssimas condições em que as escolas se encontram e com a falta de compromisso do Governo do Estado, que diz que ter preocupação com a educação, mas não é isso que acontece”, frisou, complementando que foi convidado pelos alunos para conhecer as condições em que a escola se encontra.
“Nota-se uma falta completa de infraestrutura para que os professores possam trabalhar com competência e os alunos possam ter um melhor aprendizado. Os trabalhadores da educação se sentem prejudicados por não terem as condições necessárias para desenvolver um bom trabalho para a juventude”, disse. “O que vimos é um total desgoverno que não tem compromisso com a educação do Estado”.
Ornildo parabenizou a iniciativa dos alunos e disse que a reivindicação é justa e que deveria servir de exemplo para outras escolas. “Isso não ocorre só nesta escola, mas em todo o Estado, tanto nas escolas da Capital quanto nas do Interior. O que os alunos estão querendo é só mais qualidade e estrutura nas escolas, o que é uma obrigação do Estado fazer”. (R.R)