Além de manter a cidade mais verde e bonita, as árvores também têm as funções de controlar a temperatura, absorver a poluição, reduzir o ruído das ruas, deixar o ar mais fresco e úmido e aumentar a capacidade do solo de absorver as chuvas de verão.
Dados mostram que a temperatura em uma região não arborizada pode ser entre oito e dez graus mais alta do que em uma região arborizada.
É com base nestes dados que o sociólogo Paulo Rakosky, em entrevista para a reportagem da Folha, falou sobre a diminuição de árvores arbóreas e frutíferas nas ruas e quintais de Boa Vista.
“Tenho observado nos últimos meses uma excessiva retirada de árvores na cidade de Boa Vista, e percebi também que o poder público não tem uma planificação urbanística para o replantio e temos visto árvores que foram retiradas de espaços públicos, como também nos espaços privados, e percebemos que não há um manejo adequado”, disse.
O sociólogo disse que também tem observado que em muitos casos, talvez pela falta de conhecimento, as pessoas fazem mutilação nas árvores, que as deixam doentes e frágeis.
“De forma que possivelmente estas árvores vão morrer por fungos e bactérias, segundo me explicou um engenheiro agrônomo”, disse.
Para o sociólogo, a excessiva retirada de árvores já vem causando problemas para o meio ambiente, como a absorção da água das chuvas, pela ausência de cobertura vegetal, além da qualidade dos igarapés que margeiam a cidade, que se tornam mais poluídos a cada ano.
“Isso já causa menos absorção de água das chuvas e prejudica o escoamento das águas deixando a cidade alagada em alguns trechos devido à ausência de cobertura vegetal nativa e de plantio, além do aumento da temperatura em alguns pontos”, disse. “Moro há 11 anos em Boa Vista, morei no Mecejana e no Centenário, e agora no Caimbé, onde tem bastante retirada de árvores, e isso aumenta de três a cinco graus para cada raio de 30 a 50 metros de cada árvore, de médio e grande porte, retirada”, afirmou.
Outro fenômeno destacado pelo sociólogo é quanto à frota de carros na Capital, que, segundo ele, gira em torno de 130 mil veículos automotores “Isso faz com que a qualidade do ar vá se perdendo com o tempo”, disse.
Ele ressaltou que tem tomado estas observações e a quis divulgar para que as pessoas tenham a noção do que está acontecendo.
“Pode ser visto como um trabalho pedagógico educacional, já que as pessoas não têm muita noção do que pode gerar com as retiradas das árvores, já que, como passa o caminhão da coleta, as pessoas arrancam as árvores em vários pontos da cidade onde é fácil encontrar pilhas de tocos de árvores e galhadas e não sei como é essa dinâmica, se tem que ter autorização do setor público, só sei que as pessoas botam abaixo”, afirmou.
A Folha falou também com o biólogo Ilzo Pessoa. Ele lembrou que Boa Vista sempre foi uma cidade bastante arborizada, tanto nos quintais quanto nas vias públicas, e tem percebido que as árvores mais velhas e maiores têm desaparecido devido à fragilidade de suas raízes, e acabam tombando devido a chuvas com ventos.
“Mas a grande preocupação são árvores dos quintais, que são frutíferas, que alimentam, que amenizam o calor da casa e do entorno, e percebemos que está tendo muita decepa, que não é apenas uma poda, mas estão cortando mesmo para construir casas e às vezes o motivo é apenas devido à caída das folhas, que eles chamam de sujeira, e isso acaba prejudicando o meio ambiente como um todo”, alertou. “E muitas vezes são as mesmas pessoas que estão falando em defender a Amazônia e que fazem isso em seu próprio quintal”, afirmou. (R.R)
Prefeitura afirma que nos últimos dois anos foram feitos apenas 40 pedidos de derrubada
Cortar árvores é uma ação comum em Boa Vista e muitas são derrubadas sem a autorização da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente. O que muitos não sabem é que se forem flagrados cortando árvores sem a licença, podem ser multados em até R$ 10 mil
Segundo a Prefeitura Municipal de Boa Vista, é proibido cortar ou danificar qualquer árvore ou elemento da arborização pública e de terrenos particulares sem a autorização do Poder Público Municipal.
Para podar não precisa autorização. Já para fazer o corte de árvores, o cidadão deve solicitar autorização à prefeitura por meio da Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente, que encaminhará seus técnicos para fazer uma vistoria no local e avaliar se a árvore está causando algum dano ao proprietário do imóvel.
Caso comprovado, a secretaria emite uma licença ao morador com a cobrança de uma taxa que vai de R$ 43 a R$ 532, dependendo do caso. Somente após a vistoria e a emissão da licença é que poderá ocorrer qualquer intervenção.
Os pedidos de cortes de árvores apresentam números baixos. Em todo ano de 2018 foram apenas 18 autorizações concedidas. Já até o mês de agosto deste ano foram cedidas 22 autorizações.
Caso a retirada da árvore seja feita sem a autorização do órgão municipal competente, o responsável poderá responder por crime ambiental e multa que parte de R$ 222 e pode ultrapassar R$ 10 mil. (R.R)