Sempre que ia até o bairro Caimbé com a família para congregar em uma comunidade evangélica da região, a acadêmica Leuda Rocha observava a movimentação de mulheres que ofereciam serviços sexuais nas ruas do bairro.
As vivências das profissionais do sexo em Boa Vista aguçaram a curiosidade dela, que decidiu investigar o tema em um trabalho de pesquisa para conclusão do curso de licenciatura em História da Uerr (Universidade Estadual de Roraima).
“Naquele período o aumento da prostituição em Roraima estava em destaque nas mídias, onde aparecia muito o bairro Caimbé, moradores fazendo denúncias e reclamações. Foi então que começamos a ter um novo olhar, passando a observar mais as profissionais”, explicou.
A acadêmica confessa ter ficado receosa ao ter contato com as profissionais, por medo de constrangê-las ou até mesmo de abordar erroneamente alguém que não desenvolvesse a atividade. Rompida esta primeira barreira, a estudante ouviu relatos que a fizeram ter outra visão sobre estas mulheres.
“Uma delas me contou que era graduada em Engenharia Civil e compartilhou algumas experiências pessoais. Então, naquele momento já foi desconstruindo um conceito que tínhamos sobre as profissionais e construindo uma outra visão. Nos encantamos com a superação e a garra dessas mulheres”.
Alternativa na crise
A pesquisa “As belas moças das esquinas: trajetórias e desafios de mulheres profissionais do sexo em Boa Vista” constatou que a pandemia afetou o mercado da prostituição local provocado pela pandemia.
O estudo mostrou que para driblar a crise, muitas mulheres passaram a fazer uso de plataformas virtuais especializadas no segmento para negociarem os programas, o que surtiu efeito positivo.
Relação pós pesquisa
Finalizado o processo de pesquisa, ficaram os ensinamentos. “Foi importante demais desenvolver este trabalho, porque constatamos, através do relato dessas mulheres, que permanece impregnado na sociedade o velho discurso machista sobre a imagem e o conceito da mulher. Então, abordar esse assunto, além de nos esclarecer sobre o tema, ajuda a mudar o nosso olhar e nos ensina a respeitar o ser humano independente da profissão que ele exerça”.
Leuda ainda mantém contato com algumas das mulheres que conheceu durante a pesquisa. “Inclusive, com uma moça que relatou durante a entrevista fazer os programas para estruturar um salão de beleza que ela havia montado. Decidi levar meus filhos até o estabelecimento e aprovei o serviço”.