Os resultados dos exames sorológicos realizados pelo Instituto Pasteur, em São Paulo, confirmaram que o adolescente de 14 anos que foi mordido por um gato e está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Roraima (HGR) contraiu raiva humana, como a Folha já havia adiantado. A análise apontou que o vírus se trata de uma variante tipo 3, o que significa que a doença foi transmitida ao gato por meio de um morcego.
Gestores da saúde pública estadual e municipal convocaram uma coletiva, na tarde de ontem, para anunciar o resultado dos exames. “Havia uma suspeita de que a transmissão estava sendo feita por cães e gatos, mas informamos à população que essa hipótese está descartada. O morcego mordeu o gato que, posteriormente, teve contato com o adolescente que se contaminou”, disse o secretário adjunto de Saúde, Paulo Linhares.
Segundo ele, todas as medidas estão sendo tomadas para a eficácia no tratamento do paciente, que segue internado em coma induzido na UTI do HGR. “Os remédios estão sendo disponibilizados pelo Ministério da Saúde e os médicos de Boa Vista estão em contato direto com os médicos de Pernambuco e dos Estados Unidos, que já obtiveram sucesso nesse tipo de tratamento”, explicou.
Para evitar uma possível epidemia da doença, serão feitas ações de vigilância específica em morcegos. “Vamos começar a fazer coletas e verificar a situação viral. Se esse vírus estiver correndo nos morcegos, vamos entrar com as ações de vigilância. Como é uma doença de variante 3, esse trabalho será feito pela Aderr [Agência de Defesa Agropecuária de Roraima], que tem todos os médicos veterinários e ações para combater a situação viral nesses animais”, disse.
O secretário informou que ações conjuntas serão promovidas para intensificar as campanhas de vacinação em todo o Estado, inclusive nas zonas rurais. “O Governo Federal disponibiliza a vacina, o Estado a distribui e a Prefeitura executa a vacinação. Entramos em contato com a Universidade Federal e com a Agência de Defesa Agropecuária e vamos fazer um grande movimento no sentido de aumentar a cobertura vacinal”, ressaltou.
VACINAÇÃO – Até o momento, o Estado já dispõe de 28 mil doses de vacina antirrábica e mais 60 mil deverão ser disponibilizadas nas próximas semanas pelo Ministério da Saúde. “Vale ressaltar que já neste sábado, 21, faremos, junto com o município, uma campanha de vacinação de cães e gatos. Estamos disponibilizando as vacinas e para o município e para os centros de saúde, por isso conclamamos a população a levar os animais para vacinarem-se contra a raiva, que é uma doença grave”, informou o secretário.
O superintendente municipal de Vigilância em Saúde, Emerson Capistrano, ressaltou que o município vem realizando diversas campanhas para reforçar a cobertura vacinal. “Inclusive, este ano tivemos três campanhas consecutivas, mas, infelizmente, a população não estava sensibilizada para essa baixa cobertura ou importância de vacinar. Esperamos que com essa situação, possamos ter uma melhora e maior procura”, disse.
Além da Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses, no bairro Centenário, zona Oeste, outras unidades de saúde devem ser disponibilizadas para a campanha. “A vacinação ocorrerá das 08h às 12h e das 14h às 18h.
Estamos montando estratégias e sendo cobrados pela divulgação dos locais, mas ainda estamos fechando parcerias para dividir e distribuir entre os postos. A intenção é fazer cobertura ampla em todos os postos”, frisou.
Segundo informações não oficiais repassadas durante a coletiva, o último caso de raiva humana em Roraima havia sido registrado em 1976. No Brasil, os últimos registros da doença foram em 2009, nos estados de Mato Grosso do Sul e Pernambuco. (L.G.C)
VÍTIMA DE RAIVA
Família contesta governo e diz que médicos pediram remédio e colchão
A família do adolescente de 14 anos que foi infectado com raiva humana entrou novamente em contato com a Folha e contestou o Governo do Estado afirmando que os médicos do Hospital Geral de Roraima (HGR) solicitaram a compra de um remédio, que custou pouco mais de R$ 100,00 e de um colchão pneumático para evitar a formação de feridas no paciente.
“O Governo disse que os medicamentos prescritos aos pacientes eram de uso hospitalar que não eram comercializados, mas compramos um medicamento. Quando o meu irmão entrou na UTI, eles pediram um medicamento porque não tinha no hospital e nós tivemos que comprar o remédio”, afirmou o irmão do jovem, Samuel Santana.
Segundo ele, que apresentou o receituário prescrito pela médica solicitando o medicamento, a unidade repassou uma lista de materiais de higiene, incluindo o colchão. “O meu irmão está lá já faz uma semana e nem os médicos sabem dizer quanto tempo ele vai ficar. Nós queremos o melhor para ele, e é claro que vamos ter que comprar o colchão adequado para ele não agravar o quadro, porque se ele criar feridas ali, eles vão falar que solicitaram o colchão”, disse.
Ele afirmou ainda que em nenhum momento o governo procurou a família para dar esclarecimentos sobre o caso do irmão. “Desde quando meu irmão está lá, não nos procuraram em momento algum. Para fazer a reclamação, nos deram um papel para escrever e simplesmente viraram as costas. Como o caso dele é atípico, deveriam reunir a família e dizer que estavam à disposição, mas não fizeram isso”, frisou.
SESAU – Em entrevista à Folha, o secretário adjunto da Sesau, Paulo Linhares, voltou a afirmar que não foram solicitados medicamentos para a família. “Para tratamento de raiva humana é de uso hospitalar, é impossível qualquer pessoa comprar esses medicamentos numa farmácia, a não ser que tenha sido receitado alguma coisa sintomática ou específica”, disse.
Quanto ao pedido para a compra do colchão, o secretário informou que não há certezas de que o material impeça a criação de feridas no paciente. “Não há nenhuma certeza que um colchão pneumático vá impedir a formação de escaras, então, quanto a isso, está sendo feita a conduta”, disse ao acrescentar que estavam aguardando a confirmação dos exames para entrarem em contato com a família.
Em relação à acusação do possível erro médico, cometido na Policlínica Cosme e Silva, Linhares informou que foi aberta sindicância para apurar o caso. “Toda conduta que foi feita na unidade de saúde será apurada. Já foi aberto o processo de sindicância e toda conduta através de prontuário será apurada e posteriormente daremos o retorno do resultado dessa sindicância”.
O secretário ressaltou que foi feita uma capacitação, em julho de 2015, com todos os profissionais da Policlínica, sobre a raiva humana e o protocolo de tratamento de acidentes com cães e gatos, além da suspeita com o vírus. (L.G.C)