NA FRONTEIRA

Exploração sexual e tráfico de pessoas em RR é tão alarmante quanto na ilha de Marajó, diz Bispo

O relatório foi apresentado hoje, 21, na Diocese de Roraima, o trabalho tem o objetivo de encontrar formas de reconstruir e agir na busca pela liberdade, proteção e defesa das vítimas

Exploração sexual e tráfico de pessoas em RR é tão alarmante quanto na ilha de Marajó, diz Bispo

Uma pesquisa da Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEETH-CNBB), mostrou que 53% das vítimas de tráfico humano nas fronteiraas de Roraima são mulheres. O relatório foi apresentado hoje, 21, na Diocese de Roraima, o trabalho tem o objetivo de encontrar formas de reconstruir e agir na busca pela liberdade, proteção e defesa das vítimas.

Segundo o Bispo da Diocese de Roraima, Evaristo Spengler, o estado é uma região vulnerável ao tráfico por conta da tríplice fronteira. Para ele, a situação de exploração sexual e tráfico de pessoas no Estado é tão alarmante quanto a da ilha de Marajó, que foi debate nacional no início do ano.

“Qualquer um de vocês poderá ir e voltar pela fronteira com uma criança do lado, nínguem vai pedir um documento. Pode haver tráfico de pessoas com facilidade porque aqui não vemos o poder público ativo. Pode se fazer qualquer coisa nessa fronteira porque, além da ponte, tem canoas que atravessam pelo rio todo tipo de contrabando”, enfatizou o Bispo.

O Bispo também comentou sobre a atuação do poder legislativo no enfrentamento ao tráfico humano dentro de garimpos ilegais, ele diz que a problemática foi normalizada e os deputados não querem debater sobre o assunto.

“Em junho do ano passado, eu participei de uma audiência pública na Assembleia Legislativa sobre o tráfico de pessoas. Eu esperava encontrar todos os deputados, apareceram representantes da sociedade civil, da igreja e organismos internacionais, judiciário e defensoria mas não havia nenhum deputado. Se naturalizou aqui no Estado crimes que são bárbaros, a violação da natureza, a exploração sexual, a venda de pessoas. É por isso que temos tanta dificuldade de envolver o poder público desse estado nessas causas”, declarou Evaristo.

Evaristo Spengler é bispo da Diocese de Roraima (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Como funciona o tráfico nas fronteiras de Roraima

Segundo a professora e pesquisadora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Márcia de Oliveira, há uma estreita relação entre o tráfico humano e a migração de pessoas. As redes especializadas do tráfico atuam em duas modalidades, o contrabando de migrantes e o aliciamento ao tráfico.

“Em Boa Vista, em cada esquina tem uma plaquinha anunciando agências de viagem. Com passagens baratas, transportes diretos, têm aumentado nos últimos dois anos. Após isso há o aliciamento para áreas de trabalho que irão configurar as modalidades do tráfico, como trabalho sem contrato, não pago, análogo ao escravo. Todas essas características configuram o tráfico”, explica a pesquisadora.

Márcia de Oliveira é pesquisadora da UFRR (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

A pesquisadora explica também que a vulnerabilidade é um dos principais fatores vínculados ao tráfico. Mulheres e crianças são as principais vítimas. O Garimpo Ilegal é uma das principais associações de pessoas ao tráfico humano e a exploração sexual.

“53% das pessoas vítimas de tráfico nas nossas fronteiras são mulheres, e depois mulheres com crianças. Em decorrência da exploração dessas mulheres, vem a exploração das crianças e o abuso sexual de crianças, que tem aumentado muito nos últimos anos, relacionado ao tráfico”, enfatizou Márcia de Oliveira.

De 17 a 23 deste mês, a Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), CNBB, está realizando uma missão no Estado de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela.

Segundo dom Adilson Pedro Busin, CS, bispo da diocese de Tubarão (SC) e presidente da comissão, os objetivos da missão incluem a conscientização, a incidência política e eclesial.

A missão ajuda a trazer a temática do tráfico humano, que ele é escondido, inclusive as vítimas são escondidas. Estamos diante de um problema social mundial, que o Papa Francisco tanto insiste. A incidência deve ser dupla, ad intra da própria Igreja, para nós tomarmos consciência desse problema grave, dessa chaga da humanidade, como diz o Papa Francisco, e da sociedade”, finalizou o Bispo.

Dom Adilson Pedro Busin, CS, bispo da diocese de Tubarão (SC) é presidente da comissão (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)