Já não bastassem os constantes apagões de energia em Roraima, devido ao precário e caro serviço ofertado à população, a usina termoelétrica localizada no bairro Jardim Floresta tem apresentado explosões em postes, barulho e cheiro forte de diesel. A reclamação foi feita por moradores dos arredores da usina que cobram explicações dos responsáveis.
A estudante Camila Costa mora em frente à usina e diz não aguentar mais o barulho, que parece durar o dia inteiro, e as explosões, que acontecem com certa frequência.
“À noite, queremos descansar, mas o barulho permanece mesmo com a casa fechada. Quando ocorre uma explosão, sobe uma fumaça preta e não sabemos como agir”, reclamou.
Outra moradora, que não quis se identificar, teme pelas explosões e relata o incômodo causado pela fumaça preta que sai das turbinas.
“Não temos nenhuma informação se essa fumaça que aspiramos é nociva à saúde, se esse barulho é normal e o que tem causado essas explosões. Alguns postes já estão até escuros devido ao estouro. Nós temos a consciência de que a termoelétrica gera energia que beneficia a todos, mas é visível o descaso em não orientar e verificar se as pessoas que residem próximo estão sendo afetadas diretamente de alguma forma”, considerou.
Liliane Andrade é mãe de uma criança autista e relata as dificuldades em lidar com o filho quando o barulho na usina aumenta.
“Pela tarde é que o barulho parece estar mais alto, mas é no período da noite que fica insuportável. Pra quem estuda ou trabalha, todo o ruído incomoda, ainda mais pra quem tem filho autista. São crianças que não lidam muito bem com barulhos”, conta a moradora.
O médico otorrinolaringologista Mauro Schmitz explica que a exposição a barulhos acima de 70 decibéis (intensidade ou volume dos sons) recomendados ao ouvido humano, pode prejudicar a audição.
“É importante verificar e medir a escala do barulho dentro e fora da usina. Cada empresa, por exemplo, possui uma legislação quanto ao barulho no local de trabalho. Mas, para saber se o da termoelétrica traz prejuízos aos moradores próximos, é necessário medir o ruído por meio de um aparelho chamado decibelímetro. O ouvido humano suporta ruídos de até 70 decibéis. Acima disso, as pessoas podem apresentar lesão auditiva”, explica Schmitz.
RESPOSTAS – Em nota, a Roraima Energia informou que não há nenhum registro de eventos com explosões na termoelétrica do Jardim Floresta. Ainda de acordo com a empresa, são realizados acompanhamentos diários do desempenho da usina, que se encontra em operação normal.
“Salientamos que, devido à interrupção do fornecimento venezuelano desde 7 de março, todas as usinas estão operando continuamente e por isso o fluxo de descarregamento das carretas com combustível se elevou. Como a operação está sendo contínua, o número de geradores operando aumentou e, consequentemente, provoca maior ruído”, destacou a empresa.
A Folha também entrou em contato com a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) para saber qual a medição em decibéis próximos à usina termoelétrica, mas foi informada por meio de assessoria que ela só pode ser realizada mediante denúncias formais no número 190 e que até o momento nenhuma havia sido registrada. (P. G)