Cotidiano

Falta de milho na Conab sufoca produtores

Como a Companhia de Abastecimento não tem milho para vender aos pequenos produtores, eles são submetidos ao preço do mercado

O pequeno criador de gado, porco e galinhas tem como única alternativa, para manter a produção para venda, comprar o milho comercializado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas, em Roraima, o produto está em falta desde o ano passado e o galpão, com capacidade para armazenar três mil toneladas de milho, está vazio. Sem o produto no mercado de Boa Vista – que quando há, é vendido a R$ 35,00 -, a saca de 50 quilos de milho está entre R$ 53,00 e R$ 55,00, uma diferença de aproximadamente 57% em relação ao preço praticado no balcão da Conab. 
A dificuldade aumenta para os criadores nesta época em que oito municípios já decretaram estado de emergência devido à falta de chuvas. E os outros sete, incluindo a zona rural de Boa Vista, ainda sofrem com os efeitos da estiagem prolongada.
O pecuarista Gissone Maia da Silva, criador de animais na região da Confiança, Município do Cantá, Centro-Leste do Estado, disse que desde o mês de outubro do ano passado que compra milho no mercado, pois a Conab, desde lá, está sem o produto. “Todos os meses vou à Conab saber se já há milho e a resposta é sempre a mesma: que chegará na próxima semana. Mas esse milho nunca chega. E, enquanto isso, vamos guardando o prejuízo. Com essa seca medonha, o prejuízo vai ficando maior e não há mais como segurar o rebanho comprando milho a R$ 55,00 para suplementar o gado. Não há quem aguente!”, frisou.  
Ele ressaltou que muitos criadores da região das Confianças e de todo o Estado estão sofrendo com a falta da venda de milho na Conab. Ele reclama da dificuldade que o criador enfrenta para suplementar o rebanho e criar galinhas e porcos. “Ao comprar milho no mercado, torna-se inviável criar galinhas, por exemplo”, disse. “Se for vender uma galinha, querem pagar, no máximo, R$ 35,00. E uma saca de milho está por R$ 55,00. Então, não dá nem para criar a galinha”.
Na Conab, Gissone Maia comprou a última saca por R$ 35,00. “Com esse preço dava para ganhar alguma coisa e dava para produzir e colocar o produto com um preço melhor no mercado. Mas hoje, sem o milho no galpão da Conab, não há com o produtor colocar o produto com um bom preço no mercado”, frisou.  
Produto está em falta desde dezembro do ano passado
A superintendente da Conab no Estado, Zélia Holanda, confirmou que o estoque de milho está zerado em Roraima e que as últimas vendas ocorreram em dezembro de 2014. Ainda não há previsão de chegada de nova remessa. Ela justificou a demora devido à falta de licitação para a contratação da empresa que fará o transporte do produto até Roraima. A demanda anual é de seis mil toneladas de milho. 
“Já fizemos o pedido ao Governo Federal, que é quem compra o produto no Mato Grosso, e estamos aguardando a fatura ser feita. Por isso não podemos garantir, nem estimar, quando o milho chegará a Roraima, embora estejamos, quase todos os dias, em contato para saber se há previsão do envio do produto. Mas o problema é o frete. A Conab em Brasília é responsável pela licitação e contratação da empresa de transporte”, frisou, referindo-se à operação de contratação de serviços de transporte para a remoção do produto do município de Sapezal (MT) para Boa Vista. O milho pertence aos estoques governamentais de Contrato de Opção e da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM).
Segundo Zélia Holanda, em dezembro, a saca de 50 quilos do milho foi vendida a R$ 32,00 e não há previsão de quanto custará a saca quando a remessa chegar. “Só saberemos informar o valor quando recebermos as notas fiscais de venda, quando as repassamos para os criadores cadastrados no nosso programa”, frisou.   
CADASTRO – Zélia Holanda afirmou que o produto é vendido apenas para os pequenos criadores que estão cadastrados na Conab. Para ter acesso ao benefício, o produtor deve comparecer ao local, na avenida Venezuela, munido de Carteira de Identidade, CPF, comprovante de residência e da propriedade rural onde está localizada a criação dos animais, além de um aval de um técnico da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
“Ao chegar à Conab com esses documentos, é formalizado um processo e o produtor já pode comprar”, frisou ao acrescentar que a quantidade máxima de sacas que podem ser adquiridas por cada criador, através do programa, depende da quantidade do plantel do produtor indicado no formulário preenchido durante a formalização do processo e atestado pelo técnico da Seapa. (R.R)