Cotidiano

Falta lei para ordenar tráfego pesado que passa pelo Centro de Boa Vista

Contorno Oeste deveria desviar as carretas do perímetro urbano da Capital, mas isso não acontece e os acidentes continuam matando

Não existe lei para ordenar o trânsito na área central de Boa Vista, principalmente na “bola” da Praça do Centro Cívico, o que contribui para que as mortes continuem, a exemplo do servidor público e skatista Ewerton de Souza, de 40 anos, que morreu ao ser atropelado por uma carreta quando atravessava a faixa de pedestre em frente à Catedral Cristo Redentor, na Praça do Centro Cívico (veja matéria na página 10A).

A “bola” do Centro Cívico é o ponto de maior tráfego da Capital, para onde convergem as principais avenidas que interligam todos os bairros das zonas Leste e Oeste ao Centro. Por ali, transitam diariamente milhares de veículos e pedestres, além de o local concentrar os servidores dos principais órgãos públicos do Estado e do público que vai em busca dos serviços dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Como não existe lei municipal que regulamente horário de tráfego para veículos pesados no Centro, a Prefeitura de Boa Vista conseguiu mais de R$ 100 milhões do Governo Federal e construiu, em 2011, o Contorno Oeste Ottomar de Souza Pinto, mais conhecido como Anel Viário.

Com quase 30 quilômetros de extensão, o contorno deveria, em tese, desviar veículos pesados do perímetro urbano da Capital, o que não acontece. Os caminhoneiros alegam que não o utilizam porque é em Boa Vista que eles encontram os serviços necessários, como borracharia, oficinas mecânicas, pousadas e farmácias.

“Venho de Manaus [AM] e pernoito aqui, no posto de combustível [no bairro São Vicente, zona Sul]. O que preciso para uma longa viagem só encontro aqui, na cidade. Não tem como pegar o Anel Viário e ficar sem esses serviços”, justificou um caminhoneiro amazonense.

Mas, mesmo com o tráfego intenso de carretas e até tratores no perímetro urbano da cidade, a Prefeitura, em nota encaminhada a pedido da Folha, afirmou que o Anel Viário tem uma grande utilidade para o tráfego de veículos pesados.

O contorno constitui o principal tronco rodoviário do Estado, cortando-o de norte a sul. O Anel Viário de Boa Vista limita-se a contornar a parte Oeste da cidade, com acesso pelo viaduto construído na interseção com a Avenida Brasil, trecho urbano da BR-174 sul. Neste ponto deveriam ser desviados os veículos oriundos de Manaus e dos municípios do Sul do Estado.

Seguindo pelo anel viário se chega ao entroncamento com a rodovia estadual RR-205, que liga Boa Vista ao Município de Alto Alegre, a Centro-Oeste do Estado. Após o entroncamento com a RR-205, o contorno segue até a BR-174 norte, no sentido Pacaraima e Venezuela, na altura do entroncamento com a RR-319, mais conhecido como “estrada do Passarão”.

PREFEITURA – A Prefeitura de Boa Vista informou, por meio de nota, que a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito está “realizando estudos para restrição de veículos de carga em alguns trechos urbanos”. Frisou que ainda não restringiu nenhum trecho porque não foram alcançados os índices viáveis.

Sobre a fiscalização no Centro, a Prefeitura reforçou que todo condutor que cometer infração de competência do município poderá ser autuado de acordo com as leis do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

CÂMARA – Também por meio de nota, a Câmara Municipal de Boa Vista (CMBV) informou que não existe, na Casa, nenhum projeto de lei ou decreto legislativo promulgado, que trate sobre a regulamentação de tráfego de veículos pesados nas vias públicas da área urbana de Boa Vista. DETRAN – A Folha enviou e-mail, ontem pela manhã, para a Assessoria de Comunicação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), mas não houve resposta até o encerramento da matéria, às 18h.

Analista afirma que trânsito da Capital não é seguro para pedestres e skatistas

O analista de trânsito Luís Miura, que já foi secretário municipal de Trânsito, fez um alerta aos boa-vistenses.  Disse que o trânsito na Capital não é seguro para o pedestre, muito menos para skatistas ou patinadores. Por isso, ele orientou que este público ande apenas em lugares propícios, como praças públicas e pistas esportivas.

“O skatista ou o patinador ainda é um corpo estranho no trânsito boa-vistense, mas o motorista deve ter bom senso na hora de compartilhar as vias. Não podemos esquecer que o Município também tem a obrigação de promover sinalização adequada para que o tráfego seja seguro para todos”, observou.

Miura lamentou a falta de campanhas educativas e de fiscalizações mais eficientes, o que, segundo ele, contribuiria para um trânsito mais seguro. “Também é preciso engenharia de trânsito para nortear Boa Vista. É preciso regras para os usuários das vias. Sem isso, minha recomendação é que os ‘corpos estranhos’ do trânsito não utilizem as ruas da cidade”, ressaltou.

Sobre a utilização das ciclovias por skatistas ou patinadores, Miura explicou que teoricamente isso poderia ocorrer, mas teria que haver regras de utilização. Também seria necessária a aprovação de uma lei municipal. “Mas não existe sequer projeto, portanto, hoje a proposta é inviável”. (AJ)