Cotidiano

Família com energia cortada há 15 meses tem dívida de R$ 13 mil

Antes da pandemia da Covid-19, Marcelo Miguel Reis, 49, ganhava R$ 3,2 mil como prancheiro em uma serraria. “Tava tão bom que não comprava comida, porque eu ganhava cesta básica, tudo”, contou.

As coisas iam bem até a esposa Eliana de Araújo Barros, 29, sofrer um derrame pleural, um acúmulo excessivo de líquido no pulmão que ela que descobriu após a filha Maria Júlia de Araújo Reis, hoje com 6 anos, bater o pé no lado direito do tórax. A manicure desmaiou com a batida e foi levada para o Hospital Geral de Roraima (HGR). “Deu uma agulhada nas minhas costas. Minha cintura adormeceu”, lembrou.

Ela ainda ficou um ano e três meses internada e foi submetida a uma cirurgia para drenar o líquido. “Pensei que eu não ia voltar de lá”, contou. Mas as sequelas do derrame permaneceram, como cansaço, dor nas costas e inchaço. Por isso, Eliana recebe acompanhamento médico a cada três meses.

Para ajudar a mulher, Reis pediu demissão do emprego. A pandemia chegou e ele conseguiu ajudar no sustento da família com o dinheiro dos direitos trabalhistas. Em meio a isso, Marcelo Miguel precisou fazer “bico” como pedreiro. A renda caiu pela metade: hoje, ele consegue ganhar, em média, R$ 1,2 mil mensais.

O dinheiro conquistado por Marcelo o ajuda a sustentar a família, que também inclui outras três pessoas: o outro filho do casal, Mateus Emanoel de Araújo Reis, 5; o filho que ele gerou em um casamento anterior, o jovem Lucas Borges Reis, 22, que sofre de epilepsia; e a mãe, a aposentada Nadi Miguel de Sousa, 76. Todos vivem em uma casa de dois cômodos (uma sala-cozinha e um quarto), no bairro Senador Hélio Campos, na zona Oeste de Boa Vista.

Energia cortada

A residência está com a energia cortada há 15 meses, por falta de pagamento. A dívida atual com a Roraima Energia está em quase R$ 13 mil, que Marcelo deixou acumular para priorizar a saúde da esposa e garantir comida para a família. Ele afirma que, em suas atuais condições, não tem como quitar o débito de acordo com a proposta da empresa: 30% de entrada, mais 36 parcelas.

Quando Eliana voltou para casa após a internação, já não tinha mais luz por lá, devido a uma dívida anterior (atualmente em R$ 4.859,55), já renegociada, segundo Marcelo. “O dinheiro que eu tinha pra ajudar ela, pegava, minha mãe ajudava, pagava (a conta). Mas pagava dois meses, aí cortava no terceiro de novo”, relatou.

O débito com a Roraima Energia virou uma bola de neve. O pai de família acumulou uma outra dívida, atualmente em R$ 7.995,08. Para renegociá-la, Marcelo procurou a Defensoria Pública do Estado de Roraima (DPE-RR), na esperança de regularizar a situação da casa.

Enquanto não resolve o problema, a família tem que conviver com o calor, os pernilongos e ainda tomar água quente. E o dinheiro, que já é pouco, também cobre o veneno contra os insetos. A pele de Eliana de Araújo, inclusive, entrega as dezenas de picadas dos mosquitos. “É horrível dormir de dia para não dormir de noite. É duro”, disse ela. “A sala vira um quarto, o quarto vira cozinha. É assim. No calor”, completou.

“Não temos pra onde ir, pra não pagar aluguel”, disse Marcelo.

Ajudas

A família conta com ajuda de amigos, familiares e de vizinhos, que doam água ou cedem suas tomadas. A dona Nadi, por exemplo, recebe cesta básica, mas precisa dividir com o filho, a nora e os netos. “Semana passada mesmo, só tínhamos água”, disse Eliana sobre a falta de alimentos.

Como manicure, ela revelou que, devido à situação da família, recebe ofertas para pintar e cortar unhas em troca de alimentos não-perecíveis. “Quase o pessoal não me procura. Até se falou em troca de alimento, só que não compensava. A pessoal vinha fazer com um quilo de arroz. Me quebrava”, lamentou.

Assalto durante busca de emprego

Desempregado formal há mais de dois anos, Marcelo Miguel relatou que, enquanto pedalava em busca de emprego, foi assaltado na zona Oeste. Os bandidos lhe roubaram uma bolsa com documentos – incluindo a carteira de trabalho -, cartão de crédito e R$ 300. “O homem botou o revólver na minha barriga e outro pulou arrancando a bolsa”, relembrou.

Filho nunca pisou na escola

Eliana de Araújo revelou que o filho Mateus Emanoel nunca pisou em sala de aula, porque não consegue vaga em uma escola municipal mais próxima. Ela contou que a tentativa já dura mais de um ano e, mensalmente, liga para o número 156, da Prefeitura de Boa Vista, para saber se existe vaga em unidades mais próximas, como Luiz Canará (Senador Hélio Campos) e Tia Linda (Silvio Botelho).

No entanto, ela disse que já recebeu como sugestões matriculá-lo em escolas municipais de bairros como Cinturão Verde, Jóquei Clube, Cauamé e Bela Vista, bem distante de casa da família, cujo único meio de transporte é uma singela bicicleta. Ficaria ainda mais difícil para ela levá-lo durante o período chuvoso, pois Eliana, devido ao problema pulmonar, não pode pegar chuva.

Como ajudar a família?

A família precisa de alimentos para o sustento e dinheiro para quitar a dívida com a Roraima Energia. Marcelo Miguel, por sua vez, disse precisar de um emprego fixo.

Doações em dinheiro podem ser feitas para o PIX 02962364209 (CPF). Outras informações podem ser obtidas pelo número (95) 99116-1185.