MIGRAÇÃO VENEZUELANA

A realidade de famílias que vivem fora dos abrigos em Boa Vista

Um homem, com a esposa gestante e cinco filhos vivem há três meses na rotina de conseguir sobreviver no local

A realidade de famílias que vivem fora dos abrigos em Boa Vista

Quem passa pela avenida Carlos Pereira de Melo, no bairro Tancredo Neves, se depara com uma família vivendo em um barraco na calçada, no sentido Centro. Um homem, com a esposa gestante e cinco filhos são migrantes venezuelanos vivem há três meses na rotina de conseguir sobreviver no local.

Todos fazem parte das 2.477 pessoas migrantes e refugiadas estão vivendo fora de abrigos no Estado, segundo um estudo feito em fevereiro deste ano pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Os números são divididos entre pessoas em ocupações espontâneas, que são espaços públicos ou privados, Posto de Recepção e Apoio (PRA) e nas ruas. Confira abaixo, os números divididos em cada espaço.

Ocupações Espontâneas: 12 registradas

OE públicas: 798 pessoas;

OE privadas: 310 pessoas;

Posto de Recepão e Apoio (PRA): 866 pessoas;

Em situação de Rua: 503 pessoas;

Segundo a OIM, em fevereiro a população refugiada e migrante venezuelana fora dos abrigos da Operação Acolhida aumentou quase 7%. No alojamento Posto de Recepção e Apoio (PRA), foram quase 3% a mais de pessoas nos serviços de pernoite em relação ao mês de janeiro. Nas ocupações espontâneas, não houve redução significativa em relação ao mês anterior.

Veja relato de famílias que vivem fora dos abrigos

Em relato à FolhaBV, José Gregório, de 43 anos, afirma que ao chegar em Boa Vista não conseguiu permanecer no Abrigo Rondon 1 da Operação Acolhida, no bairro 13 de Setembro. Segundo ele, por conta da quantidade de crianças na família não conseguiu estadia e teve que esperar por uma vaga para todos.

“Nós tivemos que sair de lá e ficamos em frente a rodoviária, mas lá é um local muito perigoso. Fomos assaltados lá, levaram minhas roupas e algumas coisas. Então decidimos sair de lá e paramos aqui”, contou José.

Família sobrevive em um abrigo improvisado às margens da Avenida Carlos Pereira de Melo (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O barraco é composto por uma lona, amarrada em um muro na beira da avenida e presa em uma bicicleta. Embaixo da cobertura há uma cama box, com vários objetos e roupas da família e uma rede em que os dois adultos dormem.

A família recebe ajuda de uma igreja na esquina da avenida, além de serem acompanhados também pela Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Agência Humanitária da Igreja Adventista do Sétimo Dia (ADRA).

A esposa de José, que não quis se identificar, está gestante de três meses e não conseguiu realizar o pré-natal pois não tem um endereço fixo para o cadastro no sus. O outros cinco filhos não vão a escola ou creches, a família vive de doações e de bico que José consegue, de vez em quando.

Um dos filhos de Gregório se alimenta de um bolo, que é doação recebida pela família (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Ao ser questionado do tipo de ajuda que precisa, José Gregório relata que precisa de um emprego fixo. Ele tem experiência como pedreiro e caseiro de fazenda, era o que realizava em seu país. Para quem quiser ajudar ou tiver uma vaga de emprego que sirva para ajudar a família, pode entrar em contato no número (95) 99162-2626.

Outras histórias

Em frente ao Hospital da Criança Santo Antônio, na avenida Brasil, um grupo de cinco pessoas divide colchões embaixo de uma árvore, todos chegaram a pedir estadia no Abrigo Rondon 1 mas não ficaram lá por conta do calor e da quantidade de mosquitos, segundo eles.

Marlis Figueira, de 26 anos, chegou ao Brasil com o filho de 2 anos e a irmã de 19 anos, que também é mãe de um bebê de 2 meses. Ela relata que vieram ao Brasil com a mãe, que conseguiu viajar até Minas Gerais atrás de emprego e agora tenta conseguir dinheiro para buscar as filhas.

“Ela foi por conta própria, sem a ajuda da interiorização, nós estamos aqui esperando o momento para irmos até ela. Por enquanto estamos tentando conseguir emprego para juntar dinheiro”, relata a jovem.

O grupo de cinco jovens vive embaixo de uma árvore na avenida Brasil, no bairro Pricumã (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Ela vive de fazer alguns bicos, já trabalhou algumas vezes em fazendas cuidando da casa. A jovem tem fé de que em alguns meses estará com a mãe em Minas Gerais.

A reportagem procurou a Operação Acolhida para questionar o relato de José Gregório e de como acontece o acolhimento dos migrantes no Abrigo, por meio de nota obtivemos a seguinte resposta.

No dia 28 de março (quinta-feira), a Equipe de Verificação e Orientação Específica (EVOE) recebeu a informação de que havia uma família, composta por pai, mãe e cinco filhos em um ponto isolado da cidade. A família se encontrava na Rua Carlos Pereira, próximo ao Mercado Gavião. Tão logo recebeu a informação, a equipe do EVOE se dirigiu ao local. Chegando na localidade, já estavam presentes um representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e um representante da Agência Humanitária da Igreja Adventista do Sétimo Dia (ADRA);

Ao serem abordados e questionados sobre os motivos de não estarem em um abrigo e se estavam precisando de ajuda para chegar a algum abrigo, o casal respondeu que estavam abrigados, porém, haviam saído do local devido a uma situação ocorrida;

O marido trabalha de maneira informal (“bico”) e a esposa recebe ajuda tanto do Mercado Gavião quanto de uma igreja próxima – local utilizado também para a higiene da família;

No momento da abordagem, a família recebeu a presença e foi atendida pela equipe da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), que havia identificado a situação da família por meio de um dos profissionais que atuam na agência em um projeto conjunto com o UNICEF. Na oportunidade, foi apresentada à família a possibilidade de serem atendidos por um programa de transferência de renda executado pela ADRA em parceria com outra organização, destinado a apoiar imigrantes venezuelanos e que tem como objetivo contribuir para reduzir a insegurança alimentar. Este auxílio financeiro em questão não tem nenhuma relação com o UNICEF.

Vale ressaltar que a família foi abrigada em 2021, na cidade de Pacaraima. Após um mês, a família abandonou o local;

No dia 08 de março de 2024, foi abrigada novamente, dessa vez na cidade de Boa Vista, permaneceu no abrigo por apenas três dias e abandonou novamente, porém, ainda possui registro ativo com possibilidade de retorno, se houver interesse;

Através de informações levantadas pela ADRA e confirmadas pela EVOE, no período em que estiveram no abrigo, no mês de março/24, a mulher realizou um registro de violência de gênero;

A Operação Acolhida é composta por mais de 100 instituições diferentes, cada uma com um trabalho específico, contribuindo dessa maneira para a solução do problema da crise migratória que afeta o estado de Roraima e continuará cumprindo seu papel de prover a ajuda emergencial aos migrantes mais necessitados, sempre buscando a melhoria de seus processos.

Por fim, a Força-Tarefa Logística Humanitária – Operação Acolhida permanece na sua missão de ordenamento da fronteira, acolhimento e interiorização, reafirmando seu compromisso e respeito a todos os integrantes.

Operação Acolhida