O autônomo Francisco Caninana, de 52 anos, acusou fiscais da Prefeitura de Pacaraima de perseguir sua família, que administra um box de variedades no Centro Comercial do Município, situado na fronteira do Brasil com a Venezuela.
Ele relatou à reportagem ao menos dois episódios de ameaças. Um deles aconteceu há seis meses, quando a enteada teria sido arrastada para o banheiro após ela ser acusada por um fiscal de vender drogas. Caninana nega envolvimento da família com o tráfico. “Nunca fumei nem cigarro e nem minha família”, defendeu. “Eles têm que provar […]. Isso é uma acusação muito séria”.
Em um termo de declaração feito na ouvidoria-geral do Ministério Público de Roraima (MPRR), o qual a Folha teve acesso, ela citou que o episódio de violência deixou marcas pelo corpo. Além disso, acrescentou que, depois, os fiscais continuaram perseguindo a família e um deles quase atropelou sua irmã pequena.
A mulher relatou ao órgão que os fiscais dizem que fazem esse tipo de abordagem por ordem do prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato (Republicanos). A enteada de Caninana relatou ao MPRR que fiscais chegaram a dizer que ela iria perder a guarda dos dois filhos menores.
No dia 1º de junho, um Boletim de Ocorrência foi registrado na Delegacia de Pacaraima, em que um suposto fiscal teria ameaçado a mulher de Francisco Caninana com uma arma. Em seguida, policiais encontraram o suspeito, porém, desarmado, segundo o BO, o qual ainda consta que a vítima tentava, há três dias, registrar o BO sobre supostas ameaças.
Ademais, Francisco Caninana cobra providências do MPRR. Um outro termo de declaração feito no órgão, de 1º de junho, consta que ele foi até um balcão de atendimento do MPRR em Pacaraima, onde um servidor prometeu que entraria em contato com ele, por telefone, até 14h de 30 de maio, a respeito do andamento da denúncia. Mas até agora, não houve retorno.
Além de trabalhar no ponto comercial há mais de um ano, a família de Francisco Caninana dorme no minúsculo local, que abriga 13 pessoas, sendo cinco adultos e oito menores.
Antes, a família morava em Santa Elena do Uairén, na fronteira da Venezuela com o Brasil. Mas a situação por lá ficou difícil para eles no início da pandemia, quando chegaram a passar fome. Com isso, eles foram a Pacaraima, mas chegaram a voltar à cidade venezuelana. Tarde demais: “Quando fomos voltar pra lá, já tinham invadido a nossa casa, terreno, invadiram tudo, perdemos tudo”.
O jeito foi insistir uma vida nova em Pacaraima, onde conseguiram o box da Prefeitura. O ponto comercial não consegue sustentar totalmente a família, que também recebe doações de alimentos da Igreja Católica, segundo Caninana.
Procurados, Prefeitura de Pacaraima, Polícia Civil e MPRR ainda não responderam os questionamentos da reportagem.