Cotidiano

Familiares de presos fazem denúncias

Mulheres que têm maridos, filhos ou parentes presos denunciam maus-tratos, má alimentação e falta de kits de higiene no presídio

Cerca de 20 famílias de detentos da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (Pamc) fizeram um protesto, ontem, pela manhã, em frente ao Fórum Advogado Sobral Pinto. Com cartazes e fotos expondo a situação atual de familiares presos, as mulheres pediam justiça. O principal motivo seriam as agressões sofridas pelos presos depois da última revista naquela unidade prisional.
Realizada de surpresa no dia 9 passado, a revista gerou revolta e terminou com 14 detentos e dois policiais feridos. De acordo com as mães e esposas dos detentos, os feridos estão internados no Hospital Geral de Roraima (HGR) com balas alojadas em partes do corpo até hoje. “Estamos aqui porque esta última revista deixou sérias consequências. Eles [os policiais] correram para a mídia para falar que só usaram balas de borracha. Mas, não. Eles usaram bala de verdade. E agora nós temos que pagar os remédios e cuidar deles, que estão feridos”, disse uma das manifestantes.
As famílias decidiram se unir para denunciar supostos maus-tratos no confronto que ocorreu naquele dia. Como parte do movimento, as mulheres e mães dos detentos escreveram uma carta com suas reivindicações. Elas pedem kits de higiene, os quais há mais de oito meses os presos não recebem. Falta também transporte com gasolina para transportar os detentos. “Dizem que não há carro na Pamc. Mas quando há revista, todos os policiais aparecem lá, são carros e mais carros. Por que não utilizar estes veículos para transportá-los aos cartórios?”, questionam em um trecho da carta.
As manifestantes pedem um trabalho social para os reeducandos e seus familiares. “Eles entram lá por terem cometido um crime mais simples e saem bandidos qualificados. Não existe um trabalho de ressocialização”, destaca a carta. O documento ainda pede que a direção da Pamc tenha mais atenção com a comida servida. “Muitas vezes, a comida chega por volta das 2h da tarde. E o pior! Vem estragada. Isso é desumano!”.
As famílias alegam ainda que os policiais foram inescrupulosos e bateram em muitos presos que não ofereciam nenhum tipo de resistência ou perigo para a revista. “Inclusive, acertaram uma bala de borracha no olho de um preso cadeirante, que o teria deixado cego”, revelaram.
“Eles entraram lá quebrando e batendo em tudo. Coisas que nós compramos e levamos para eles (como ventiladores) foram destruídas pelos policiais sem a menor piedade. É um absurdo as torturas as que eles são submetidos! Falta tudo! Faltam médicos, alimentação, transporte, gasolina, psicólogos e principalmente humanidade”, frisaram.
AUSÊNCIA – Sobre o protesto, autoridades como a Comissão de Direitos Humanos da OAB, juízes e a gestão da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) foram avisados, com três dias de antecedência, conforme relato no local, porém nenhum representante compareceu ao local. “Cadê? Ninguém apareceu! É a maior prova de que eles não estão nem aí para eles [os presos]. Mas nós vamos ficar aqui até alguém se comprometer com a gente”, afirmaram.
SEJUC – Após ouvir os manifestantes, a Folha entrou em contato com a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) para saber qual seu posicionamento a respeito das acusações feitas pelas famílias. Mas, até o fechamento desta matéria, às 18h30, não houve retorno. (J.L.)