Embaixo de um ponto de ônibus, mulheres prepararam marmitas que seriam entregues aos detentos da Cadeia Pública de Boa Vista, no bairro São Vicente. Com panelas acesas em forno improvisado com tijolos e carvão, a ação foi uma medida tomada pelos familiares dos presos após a suspensão na entrega de alimentos nas unidades prisionais.
Os problemas no serviço de fornecimento de comida começaram a ser notificados há dois meses, sendo intensificados em setembro após a empresa contratada afirmar que não iria mais realizar o serviço por falta de pagamento. Sem receber comida há mais de uma semana, os presos relataram a situação para os familiares através de bilhetes entregues durante as visitas no presídio.
De acordo com relatos das mulheres que estavam mobilizadas em frente à unidade prisional, as circunstâncias de instabilidade na alimentação dos apenados são frequentes e que muitos já estão doentes por não terem comida ou atendimento necessário.
Por meio de um grupo de WhatsApp, as esposas e irmãs dos presos se mobilizaram para fazer compras e conseguirem doações de alimentos e recipientes descartáveis.
Com o aval da direção da Cadeia Pública, os agentes penitenciários ficaram responsáveis por fazer a distribuição das marmitas preparadas pelas mulheres. “Nós não sabíamos que eles estavam sem comer, soubemos
de ontem para hoje que já estavam há tanto tempo sem comida”, disse a dona de casa Rosilei Cruz, que completou informando que estavam sendo entregues 20 marmitas por ala até que todos recebessem.
Rosilei criticou ainda o repasse destinado para o sistema prisional do estado, que segundo ela, não está ocorrendo de forma devida já que o problema de alimentação tem acontecido em todas as unidades carcerárias e na falta de assistência básica para com os presos. “O pobre não tem direito, o rico tem. Tem gente doente aí dentro [da Cadeia Pública] e não tem remédio. Muitos não recebem visita e estão abandonados, estamos fazendo isso aqui para todos”, relatou.
A preparação da comida começou no período da manhã e se estendeu até a tarde, às 17h, quando acaba o horário para recebimento de mantimentos. Segundo os familiares, enquanto não tiver normalidade e entrega de comida feita pelo Governo do Estado, eles vão continuar preparando os alimentos na calçada.
“Preso também é gente e sente fome. A gente não traz só ajuda para os nossos irmãos e maridos. Estamos pensando em todos, ninguém vai ficar sem comer. Fome dói. O almoço tá garantido hoje, a janta Deus proverá”, desabafou a dona de casa Juci Sousa, enquanto mexia panela de feijão. Já para a babá Graciele de Almeida, situações como estas são um sofrimento tanto para os presos, quanto para a família.
SACOLÃO VOLTA A SER ENTREGUE A DETENTOS DA PAMC
Dezenas de familiares se aglomeraram em frente à Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), maior unidade prisional de Roraima, desde a manhã de ontem, 2, para tentar entregar o chamado “sacolão”, que são kits com mantimentos para cada detento.
Os familiares relataram que encontram dificuldades há semanas para fazer as entregas dos kits porque a direção não tem recebido nos dias determinados (quinta e sexta-feira) e que não há nenhuma justificativa por parte do Governo do Estado para que isso ocorra. No dia de ontem, os alimentos foram recebidos por volta das 10h40 até as 11h50.
“Estou aqui desde as 10h e não consegui entrar e eles [agentes] não falam nada. As comidas já estão estragando. Desde a semana passada que os presos estão sem comer aí dentro porque não pagaram a empresa e temos que vir deixar”, destacou uma irmã de um preso que preferiu não ser identificada.
Muitas mulheres relataram que a situação não deveria ocorrer e que há muitas famílias que chegam do interior e não são atendidas por conta do horário. Somente às 16h os portões voltaram a ser abertos pelos agentes penitenciários para recebimento dos produtos. (A.P.L)