A poucos metros das sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, a Praça Capitão Clóvis, que já foi a principal de Boa Vista, antes da construção do Centro Cívico, foi transformada em um acampamento improvisado onde dezenas de famílias venezuelanas vivem de forma improvisada.
Sem comida e sem esperança no futuro da Venezuela, vários estrangeiros encontraram no acampamento precário, que também fica a poucos metros do principal centro comercial da Capital, na Avenida Jaime Brasil, uma oportunidade de se alimentar e a expectativa de obter ajuda, após deixarem o seu país em meio a uma grave crise econômica, política e social.
Os estrangeiros estão vivendo no que seria o vestiário da quadra de esportes que antes era utilizada por atletas de basquete. As grades de proteção foram transformadas em um varal de roupas. As famílias, inclusive com crianças pequenas, fazem a higiene pessoal ali próximo. A praça, que já estava em situação de abandono antes da chegada dos venezuelanos, ficou ainda mais depredada.
O casal María Freita, de 30 anos, e Rámon Pínhero, de 27, formam uma das dezenas de famílias que vivem ali. Há cinco meses eles deixaram a cidade de El Tigre, no Estado de Anzoátegui, na Venezuela, e vieram para Roraima com as duas filhas pequenas em busca de oportunidade, o que não conseguiram.
Mesmo sem emprego e passando por necessidades, María, que trabalhava como faxineira no país vizinho, afirmou que viver no Brasil é melhor do que estar na Venezuela. “Viemos para cá porque não tínhamos nada para comer. Estávamos passando fome, não tínhamos trabalho e nem dinheiro. Aqui tem pessoas boas que nos ajudam”, disse.
O marido, que trabalhava como moto-taxista, afirmou que as famílias que estão na praça sobrevivem apenas de doações. “Sofri um acidente trabalhando com moto-táxi lá e não consegui nenhum emprego aqui. Estamos sobrevivendo de boas pessoas que nos ajudam com comida. É pouco, mas é melhor do que estar lá. A Venezuela acabou”.
AJUDA – O acampamento montado pelos venezuelanos também fica ao lado dos restaurantes. Ao invés de reclamar da presença dos estrangeiros no local, a comerciante Maria Edilma Alves optou por ajudá-los abrindo o banheiro do estabelecimento para que eles possam fazer a higiene pessoal sem sujar a praça, além de doar marmitas a algumas famílias.
“Aqui quem mais atrapalhava eram os usuários de drogas. Demos as chaves do banheiro para eles fazerem as necessidades e damos comida, principalmente para as crianças. A partir das 14h, nós ajeitamos algumas marmitas e damos a eles, além de água e café”.
Apesar disso, a comerciante lamentou a situação degradante em que vivem os venezuelanos. “Não era para ser assim, era para ter mesmo uma casa de apoio para eles, já que não podemos pegar todos e levar de volta para a Venezuela”, frisou.
GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado esclareceu que, para atender a esse público estrangeiro criou o Gabinete Integrado de Apoio ao Imigrante, com abrigo localizado na zona oeste e que hoje atende a aproximadamente 392 pessoas, sendo 306 indígenas. “O local oferece abrigo provisório e de passagem a essas pessoas, tem critérios e o acesso é voluntário. O governo não tem a obrigação legal de recolher esse público e levar para o abrigo”, afirmou.
PREFEITURA – Também por meio de nota, a Secretaria Municipal de Gestão Social informou que a prefeita Teresa Surita (PMDB) esteve em Brasília para cobrar do Governo Federal a proposta apresentada por eles com relação às ações voltadas aos venezuelanos, porém, durante a reunião, os representantes ressaltaram que nesse momento não será possível atender a demanda com o auxílio do Aluguel Solidário, e o Governo Federal estuda a criação de abrigos para atender aos migrantes venezuelanos. (L.G.C)