Cotidiano

Felipe Quadros é condenado a mais de 80 anos de prisão

Felipe Gabriel Martins Quadros foi condenado por um triplo homicídio e uma tentativa de homicídio e cumprirá a pena na Cadeia Pública

Em um julgamento que durou mais de 15 horas, o ex-policial militar Felipe Gabriel Martins Quadros, de 23 anos, foi condenado pelo Tribunal do Júri a pena de 81 anos, 9 meses e 15 dias de prisão em regime fechado. Ele cumprirá a pena na Cadeia Pública de Boa Vista, no bairro São Vicente. O julgamento, presidido pela juíza Lana Leitão, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri, ocorreu no Fórum Criminal Evandro Lins e Silva, no bairro Caranã, zona Oeste.

Por já ter cumprido quase dois anos de prisão, a pena restante a ser cumprida pelo réu será de 79 anos, 10 meses e 4 dias. Ele foi condenado a 48 anos pelo assassinato de Eliézer Oliveira e Jannyele Filgueira; 21 anos e quatro meses pelo homicídio de Ernane Rodrigues; e a 12 anos, cinco meses e 15 dias pela tentativa de homicídio contra Levino Alves.

Conforme a sentença do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), Quadros foi condenado por homicídio qualificado previsto no artigo 121, parágrafo 2º, incisos I, III e IV e ainda por uma tentativa de homicídio. Pesou contra o ex-policial na condenação as qualificadoras de motivo torpe, pelo crime ter sido motivado por vingança, e pela utilização de um recurso que não permitiu que as vítimas se defendessem. Além disso, também foi imputada a ele a qualificadora do meio cruel, pelo fato de não só querer matar, mas matar de forma que causou sofrimento desnecessário às vítimas.

JULGAMENTO – A sessão iniciou com uma hora e meia de atraso por conta do grande número de pessoas que aguardavam do lado de fora para tentar assistir o julgamento. Como o plenário do Fórum comportava pouco público, tiveram prioridade os familiares das vítimas. Nenhum familiar do ex-policial compareceu à audiência.

Assim como a Folha já havia adiantado, o julgamento não contou com a presença de Quadros, já que ele havia emitido declaração no início do mês informando que não gostaria de comparecer à sessão, com fundamento no Direito ao Silêncio, norma constitucional que permite ao réu não participar na acusação estatal contra si.

Antes do início dos depoimentos das testemunhas, os 50 jurados voluntários convocados para o julgamento passaram por um sorteio, em que foram definidos os sete que formaram o júri. Era por volta de 09h30 quando a professora Nilra Jane, mãe de Jannyele Filgueira e esposa de Eliézio Oliveira, duas das três vítimas, prestou seu depoimento.

Em seguida, foi a vez da irmã de Jannyele e do filho do empresário Ernane Rodrigues, que falaram sobre o dia do crime. O sobrevivente do dia de terror provocado pelo ex-policial militar, L.A.F também prestou depoimento. A ex-namorada de Quadros, Suriname Barros, também não compareceu ao julgamento, mas gravou depoimento em vídeo falando sobre sua relação com o réu.

O momento de maior tensão ocorreu por volta das 14h, quando o depoimento do próprio Felipe Quadros, gravado na primeira fase da denúncia, ainda no ano passado, foi exibido no telão do plenário. Familiares das vítimas não conseguiram conter a emoção e a revolta com a frieza do ex-policial ao relatar a motivação dos crimes. 

Logo após, por volta das 15h30, iniciaram-se os debates entre o promotor de Justiça do Ministério Público de Roraima, André Nova, responsável pela denúncia contra o réu, e a defesa de Quadros, feita pelos defensores públicos Frederico César Leão e Joceliton Vito Joca, que encerrou por volta das 21h.

SUSTENTAÇÃO – Na sustentação da denúncia por parte do MP, o promotor iniciou falando sobre as causas que poderiam ter motivado os crimes cometidos por Quadros e fez uma crítica quanto a demora para realização do julgamento já que, segundo ele, o processo havia sido finalizado em junho de 2016.

O promotor também explicou os motivos de a ex-namorada de Quadros, Suriname Bastos, não ter sido denunciada como cúmplice dos crimes, já que ela estava no carro do ex-policial no momento dos assassinatos. “Ela e o próprio policial negaram que ela sabia o que ele faria”, alegou.

Diante das acusações de três homicídios consumados com três qualificadoras e um tentado, a pena prevista era de 110 anos de prisão, mas, pela forma que o julgamento ocorreu e pela personalidade demonstrada por Quadros em seu depoimento, a pena foi de 81 anos.

DEFESA – O primeiro membro da defesa do réu a fazer a sustentação oral foi o defensor público Jocelito Joca. Ele afirmou que, durante o processo, não foi aceito por parte da Justiça o pedido de exame de sanidade mental para Felipe Quadros e que os crimes por ele cometidos poderiam ter sido causados por um surto psicótico.

Joca pediu que o júri ignorasse o pedido da acusação sobre a condenação pela tentativa de homicídio contra L.A.F, que levou dois tiros de Quadros, sob alegação de que o ex-policial não teria tentando matar a vítima, mas sim dado a chance de viver.

Já o outro defensor, Frederico Leão, pediu que os jurados retirassem da sentença a qualificadora para meio cruel, alegando que o ex-policial militar cometeu os assassinatos sem ter gerador dor as vítimas. O pedido foi negado. Os defensores não informaram se iriam recorrer da sentença.

DECISÃO – Após réplica por parte da acusação e defesa do réu, os jurados levaram cerca de meia hora para decidir sobre a sentença de Felipe Quadros. A decisão pela condenação máxima foi acatada pela juíza, Lana Leitão, e lida em público. (L.G.C)

“Justiça foi feita”, dizem familiares das vítimas

Primeira a depor no julgamento de Felipe Quadros, a professora Nilra Jane, de 50 anos, falou sobre a relação da sua filha, a fisioterapeuta Jannyele Filgueira, 28 anos, com a ex-mulher de Quadros, afirmando que ele acreditava que a família interferia em seus conflitos conjugais.

“Após as ameaças, ela queria ir à casa do corregedor, mas meu marido e minha filha pediam para ela ficar quieta imaginando que não daria em nada. Eles zombavam até do coronel que tomava o depoimento e realmente víamos que não acontecia nada. Ele [Felipe Quadros] achava que estávamos influenciando a namorada dele e isso o motivou a cometer o crime bárbaro”, relatou.

Segundo ela, Quadros tentou entrar na casa da família, após matar sua filha e o seu marido, para também matá-la e a seus outros dois filhos, que se trancaram em um dos quartos da residência.

JUSTIÇA – A professora contou à Folha que esperava a pena máxima ao ex-policial. “Esperava que a Justiça fosse feita e que tudo transcorresse na paz. Acho que ele deveria ter vindo, mas me senti indiferente e isso reafirmou a covardia dele”, disse.

O filho do empresário Ernane Rodrigues, que preferiu não se identificar, também comemorou a condenação de Quadros. “Eu esperava que a justiça fosse feita. O resto Deus sabe o que faz. Perdi meu pai e não tem mais jeito, mas pelo menos ele foi condenado pelos crimes que cometeu”, frisou. (L.G.C)