Após quase dois anos na fila de espera por uma cirurgia no períneo, uma paciente de 69 anos viu seu procedimento ser novamente cancelado pela Saúde Pública de Roraima nesta terça-feira, dia 17.
A idosa estava no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré, quando recebeu a notícia dada pelo médico-cirurgião de que a operação não seria feita naquele dia, e disse que não deram nenhuma previsão para que ocorresse. O motivo seria a falta de compressas de gazes na unidade hospitalar.
A reportagem da Folha foi procurada pela filha da paciente, que preferiu resguardar sua identidade, logo após ser informada do cancelamento. Ela nos contou que a mãe aguardava pela cirurgia desde novembro de 2017.
“Nos últimos dias ela teve febre e às vezes não consegue urinar porque a bexiga já baixou muito. A gente se preocupa, pois de repente o quadro pode piorar. Ela tem diabetes e já refez os exames por diversas vezes, além de ter precisado fazer em clínicas particulares. Apenas o ecocardiograma custou R$ 400”, disse.
A filha explicou que por volta de duas semanas atrás foi até a coordenação da maternidade para tentar realizar o agendamento da cirurgia. A ela foi informado que receberia uma ligação no mesmo dia com a provável data de internação. “Ela pediu pra gente providenciar todos os exames novamente e o risco cirúrgico. No retorno com o médico, ele pediu pra que ela fosse internada na terça [17]”.
De acordo com a denunciante, quando as duas chegaram à unidade hospitalar no dia marcado, encontraram pessoas vindas do interior que também aguardavam pelo médico para que dessem entrada na internação antes da cirurgia.
“Ele chegou e disse pra gente que as cirurgias não iam acontecer por falta das compressas. O médico estava tão espantado quanto a gente. Disse que era uma situação muito triste, porque ele gosta de ajudar as pessoas e de fazer as cirurgias, mas estava de mãos atadas. Ele mostrou pra gente o mapa e não havia nenhuma cirurgia agendada. Só pra esse médico eram sete pacientes”, relatou.
Ainda segundo a filha, o próprio médico havia comprado 50 pacotes de compressas para que fossem utilizadas nos procedimentos agendados. “Ele comprou e quando foi procurar elas já não estavam mais lá. Tinham sido usadas nas emergências. Nós perguntamos se podíamos comprar o material e ele disse que não podia porque o Ministério Público poderia vir em cima do hospital, dos médicos, da coordenação e todos iriam responder. Disse que não podiam aceitar”, explicou.
Como o problema da paciente já perdura há bastante tempo e não foi dada nenhuma nova data, a família se reuniu e decidiu procurar um hospital particular para que a cirurgia finalmente pudesse ser realizada.
“Nós nos reunimos porque não é uma cirurgia barata. O valor da cirurgia foi fechado em R$ 14 mil e inclusive ficamos sabemos que poderia ser até R$ 4 mil mais cara. Havia pessoas lá que amanheceram na porta do hospital e que ficaram desanimadas com a notícia. Outras morrem esperando. Graças a Deus nossa família é grande e possui pessoas com um pouco mais de condição. E as pessoas que não tem?”, desabafou.
Governo diz que compressas chegam nesta quinta-feira
A reportagem da Folha procurou a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) para que desse um posicionamento sobre a falta do material no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré (HMINSN). Em nota, a Sesau informou que a unidade deverá receber ainda esta semana um lote com diversos materiais hospitalares, incluindo as compressas que são utilizadas nas cirurgias médicas.
Disse ainda que a unidade vinha administrando a quantidade de itens em razão do aumento nas demandas, provocado principalmente pela crise migratória. Segundo a Coordenação Geral de Assistência Farmacêutica (CGAF), a previsão é que os itens sejam repassados para a unidade na quinta-feira, dia 19.