Cotidiano

Fluxo migratório deu nova roupagem à composição social, avalia sociólogo

Mesmo tendo crescido economicamente, Roraima não estava preparado para a vinda de tantas pessoas em busca de ajuda para sobreviver

O Estado de Roraima completa hoje 29 anos de criação e, mesmo sendo considerada a menor unidade federativa em termos populacionais, com pouco mais de 500 mil habitantes, muita coisa mudou ao longo do tempo, principalmente devido ao fluxo migratório dos últimos três anos.

Conforme o sociólogo e técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Roraima, Vicente De Paula, mesmo tendo uma característica de pluralidade, a vinda de tantas pessoas, principalmente de imigrantes de origem venezuelana, deram uma nova roupagem à composição social do Estado.

“Roraima é um Estado que vem crescendo e se consolidando por meio da imigração, seja ela interna ou externa, e a migração de venezuelanos nos últimos tempos ainda carece de mais estudos, de um entendido melhor sobre essa situação, já que ela vem se dando por conta da aguda crise que assola aquele país”, disse.

O sociólogo explicou que, mesmo tendo crescido em várias áreas da economia, Roraima não estava preparado para a vinda de tantas pessoas em busca de ajuda para sobreviver. “Embora eu entenda que seja uma obrigação do Estado e também de toda a sociedade atender sem preconceitos e rancores a essa nova realidade, que poderia ser o inverso também, e mesmo tendo crescido econômica e socialmente, Roraima ainda não tem efetivamente uma estrutura para prover todas essas necessidades e a resposta pode ser vista nas ruas da cidade. Apesar disso, há de colocar um contraponto nessa questão, já que assim como ocorreu no início da criação do Estado, com a vinda de pessoas de outros estados, a migração venezuelana decorre de uma situação de forte crise econômica, que acaba por empurrar muita gente para outros lugares em busca de matar a fome e se reestruturar”, comentou.

Nesse sentido, De Paula aponta duas soluções que podem ajudar a melhorar a questão social no Estado. A primeira delas, segundo o sociólogo, é o fim da crise econômica que afeta o país vizinho, algo que provavelmente não deverá ocorrer em curto prazo, enquanto a segunda solução é a articulação do poder público no acompanhamento da situação do fluxo migratório no Estado.

“Para resolver essa questão, não basta apenas nossa caridade. Teríamos que apostar uma recuperação econômica da Venezuela, algo que não deve ocorrer tão cedo, já que o modelo de gestão política adotada pelo governo de lá é considerado ultrapassado. Então, diante disso, é necessário que haja um acompanhamento de toda essa situação aqui em Roraima, até para que não fique fora de controle”, frisou.

Vicente De Paula complementa ainda ressaltando que, apesar da atual situação enfrentada por conta do êxodo de imigrantes, Roraima ainda possui ampla vantagem sobre outras unidades federativas devido a sua mocidade e planejamento ordenado.

“Por sorte, nós ainda temos uma estrutura de Estado em desenvolvimento que propicia que as políticas públicas possam ter uma eficácia, que os sistemas consigam agir de forma mais exata, atendendo o anseio da sociedade, além das evoluções que ocorreram no âmbito econômico, como o crescimento de áreas como o agronegócio, a indústria e o serviço público, este último dando à nossa Capital ares de cidade universitária. No entanto, se deixarmos a situação correr sem nenhum acompanhamento, é possível que a situação fique fora de controle, fazendo que haja crescimento das conturbações sociais”, frisou. (M.L)