A forte estiagem que atinge Roraima já é considerada a pior desde 1998. Além da preocupação com a falta de água, o número de ocorrências de incêndios também preocupa as autoridades ambientais. A falta de chuvas já levou 13 municípios a decretarem situação de emergência.
O fogo tem sido tão implacável que já está mudando a paisagem dos lavrados do Estado, destruindo habitat naturais e matando animais silvestres que não conseguem fugir dos incêndios e devastam plantações inteiras. Todos os municípios que ficam ao longo do trecho sul da BR-174, até a divisa com o Amazonas, estão em chamas. No Município de Iracema, Centro-Sul do Estado, há registro de animais mortos, pontes destruídas e plantações que viraram cinzas.
Em Boa Vista, uma das duas localidades que ainda não decretaram situação emergência, o clima também é de alerta. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até a terça-feira dessa semana foram registrados mais de 57 focos de incêndios e as previsões futuras são de aumento.
A situação é tão preocupante que até matas ciliares e áreas de proteção ambiental dentro do perímetro urbano estão sendo consumidas pelo fogo. Um incêndio de origem criminosa devastou parte da mata ciliar do igarapé Mirandinha, localizado na divisa dos bairros Aparecida, zona Norte, e Caçari, zona Leste.
Conforme a Prefeitura de Boa Vista, a Capital tem catalogados aproximadamente 10 igarapés, além de dezenas de lagos. Só para se ter uma ideia, um incêndio em áreas brejosas, comumente conhecida como encharcadas, o tempo para a recomposição de toda a vegetação nativa é de quatro a sete anos, existindo ainda situações em que esse período pode ultrapassar dez anos.
RISCOS – Moradora do bairro há 22 anos, Maria do Rosário Silva disse que em épocas de estiagem é comum alguns moradores atearem fogo em lixo doméstico. Sem nenhum cuidado, as chamas ficam descontrolas, chegando a adentrar algumas resistências. “Aqui é comum ocorrer isso. Qualquer mudança do vento ou uma fagulha liberada desse lixo pode chegar à vegetação seca da mata, e isso é um perigo para quem mora bem próximo do igarapé”, afirmou.
Outra moradora, Ananda Moreira, relatou que, se não fosse a atuação rápida do Corpo de Bombeiros, as chamas poderiam causar danos ainda piores na região. “Quando as labaredas começaram a aumentar, eu liguei para o Corpo de Bombeiro para relatar que o foco estava ficando fora de controle. Foi um susto grande para todos nós”, relembrou.
Outro caso foi registrado no igarapé Pricumã, no bairro de mesmo nome, na zona Oeste. Conforme a dona de casa Aldilene Lima, o incêndio começou após um morador ter realizado uma queima na vegetação seca de um terreno baldio. “Moro na localidade há quatro anos e a gente nunca teve esse tipo de problema. Era de noite e o fogo começou na parte mais alta, onde há um terreno baldio. Como a minha casa é feita de madeira, a preocupação era que o fogo chegasse até ela”, disse.
Para evitar que as casas fossem atingidas, moradores realizaram os primeiros trabalhos. Somente após a chegada dos bombeiros foi que o incêndio foi sanado. “Quando o incêndio começou a aumentar em proporção, os vizinhos iniciaram os trabalhos, evitando que o fogo chegasse às casas. Aí o pessoal do Corpo de Bombeiros chegou e começou a apagar o incêndio mais para dentro. Em menos de uma hora, já tinham concluído tudo. Foi um susto e, infelizmente, tudo se originou de alguém que ateou fogo em terreno baldio”, disse a moradora.
FISCALIZAÇÃO – De acordo com a Lei Municipal 947/2007, a queima de quaisquer tipos de resíduos, sejam eles sólidos, orgânicos ou inorgânicos, é considerada crime. A pena aplicada nesse tipo de situação é o pagamento de multa no valor de R$ 237,00, podendo ser maior, dependendo das circunstâncias de cada caso.
Por conta dessa situação, a Prefeitura de Boa Vista anunciou esta semana que irá intensificar as ações de fiscalização para conter o alto número de incêndios na Capital. Os trabalhos serão realizados pela Defesa Civil Municipal em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Assuntos Indígenas.
“A Prefeitura de Boa Vista informa que atualmente a Defesa Civil Municipal atua tanto nos projetos de assentamento como nas comunidades indígenas da área rural de Boa Vista, que é onde compreende a maior demanda de solicitações da Defesa Civil”, frisou a nota enviada para a Folha. (M.L)