Cotidiano

Fogo descontrolado avança em Rorainópolis

Moradores e produtores ateiam fogo, sem autorização, em suas propriedades para fazer plantio, complicando ainda mais a situação

Moradores do Município de Rorainópolis, no Sul do Estado, reclamam que o problema das queimadas descontroladas aumentou nas últimas semanas desde a intensificação do período de estiagem, principalmente na região próxima à BR-174 em direção a Manaus (AM). Eles afirmam que os focos surgem quase diariamente, sem intervenção de nenhuma entidade responsável por combater o avanço do fogo.
Quem mora na cidade, diz que muitas pessoas têm sofrido de bronquite e asma por respirar a fumaça. “Não aguentamos mais! Muitos desses focos estão perto das nossas casas. A fumaça é tóxica e prejudica a saúde de todos”, disse um morador ao complementar que as queimadas são praticadas tradicionalmente na região. “Há muito proprietário de terra e empresário do setor madeireiro que pratica a queimada sem nenhum regulamento”.
Outra moradora do município lembrou que, embora as queimadas sejam proibidas e passíveis de multa, muitas pessoas não se incomodam com a legislação. “Nesta semana, eu estive de carro na BR-174, sentido Sul, e passei por uma cortina de fumaça. Eu me assustei, pois nessa estrada ruim, numa situação como a que eu passei, é possível, até mesmo, que ocorra um acidente”, afirmou.
Ela disse que seus vizinhos também reclamam muito da situação e vários moradores já pediram auxílio às autoridades. “Primeiro fomos à prefeitura. Lá nos disseram, incrivelmente, que não pode ser feito nada, pois não existe lei no município que impeça as pessoas de praticarem queimadas”, relatou.
Conforme outra denunciante, os vizinhos ainda buscaram o Corpo de Bombeiros, que teria dito que eles não poderiam conter queimadas sem autorização ou fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). “Eles disseram que apenas podem se envolver quando o fogo ofereça perigo à vida de alguém pelas redondezas. Por isso, nós nos vimos forçados a acionar a imprensa”, frisou.
A Folha procurou o Corpo de Bombeiros. O secretário executivo da Defesa Civil, o coronel Cleudiomar Alves, disse que Rorainópolis está com o calendário de queimadas controladas para os dias 12 e 13 deste mês. “Antes dessas datas, todo tipo de queimada está proibida e é considerada criminosa”, afirmou. Ele acredita que os denunciantes tenham buscado ajuda na coordenadoria da Defesa Civil em Rorainópolis, presente na sede daquele município. “A companhia de bombeiros que atende o interior tem um caráter ambiental, mas isso não impede, de nenhuma maneira, que possam atender outras ocorrências. De fato, elas devem ser atendidas”.
O tenente-coronel Léon Lira, responsável pelas guarnições de bombeiros da região Sul do Estado, disse que Rorainópolis é atendido por camionete e picape, que levam os efetivos para lugares de difícil acesso a fim de combater focos de incêndio. “Sabemos que grande parte da própria população pratica queimada em diversas partes do município, inclusive a urbana. Tentamos controlar isto de alguma maneira. Oficialmente, por exemplo, foram atendidas oito ocorrências ali”, explicou.
Ele ressaltou que o número de focos de incêndio geralmente é maior do que o registrado e que a monitoração é feita por observação de satélite, com dados cruzados com órgãos como o Ibama e Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh).
O tenente-coronel afirmou que as ocorrências registradas por satélites podem resultar em enganos, como um telhado de zinco refletindo. “É difícil controlar todos os focos. Além do problema técnico, temos de lidar com muitas pessoas que queimam seus terrenos. É uma questão cultural do produtor rural da região, que aproveita a época de seca”, disse.
Sobre a situação da região, Lira afirmou que, como de costume, a situação será averiguada e as medidas serão tomadas para auxiliar a população local.
PREFEITURA – Moradores afirmaram que uma região próxima ao cemitério daquele município também estava sendo atingida pelo fogo. A Folha tentou contato com a Prefeitura de Rorainópolis para que falasse se havia algum trabalho preventivo ou de combate a incêndios, mas não obteve resposta. (J.P.P)