Indígenas impedem a entrada de veículos na Venezuela desde o início da noite de segunda-feira, 10, em razão de um enfrentamento entre índios e militares venezuelanos da Direção-Geral de Contra-Inteligência Militar (DGCIM) na região de Canaima, a cerca de 20 quilômetros de Pacaraima. O confronto deixou um morto e dois feridos.
Até o início da noite de ontem, ainda não havia previsão de reabertura da passagem. Segundo moradores da região, o caminho só foi reaberto em situações ocasionais, como para a passagem de pessoas caminhando e, até agora, um ônibus escolar de Pacaraima.
Com o bloqueio, vários veículos brasileiros ficaram engarrafados na fronteira e impedidos de seguir viagem. Moradores do município também ficaram revoltados por conta do posto internacional de combustível ficar fora de acesso. Em determinado momento, brasileiros tentaram fechar a fronteira e impedir a entrada de venezuelanos. “Os brasileiros tinham colocado os carros em frente à fronteira e não estavam deixando passar, mas o Exército e a Polícia Federal colocaram os carros enfileirados e contiveram os ânimos”, disse Paulo Medeiros, morador da região.
Outro morador, que preferiu não ser identificado, revelou que o confronto é relacionado com o controle de todas as zonas de mineração do país. “Nesses últimos três anos tem sido o modus operandi do governo e grupos dentro desse pelo controle de recursos”, afirmou.
MOTIVAÇÃO – As autoridades indígenas do povo pemon emitiram um comunicado sobre o fechamento da passagem. Eles explicam que tomaram a decisão de declarar o município de Gran Sabana em luto por sete dias em razão do falecimento do indígena Charlie Peñaloza Rivas; suspender as eleições dos conselhos municipais de toda a Gran Sabana e exigir uma reprogramação dos comícios do Congresso Nacional Eleitoral no município.
Além disso, os indígenas também definiram uma paralisação geral de tempo indeterminado em todas as comunidades da Gran Sabana, tomando as vias de acesso mais importantes do município e responsabilizar o Governo da Venezuela pela perda do companheiro Charlie Rivas como “resultado de uma incursão armada sem controle dos órgãos de segurança e pela cumplicidade dos mesmos”.
EXÉRCITO BRASILEIRO – Sobre o caso, a Operação Acolhida informou que a ação humanitária e logística é voltada para responder as demandas da crise migratória no Estado de Roraima, ressaltando que as ações que ocorrem do outro lado da fronteira não são de responsabilidade do Exército Brasileiro. “No entanto, devemos estar prontos para atender todos imigrantes que atravessarem a fronteira em busca de acolhida em solo brasileiro”, completou o órgão.
OUTRO LADO – A Folha também entrou em contato com o Consulado da Venezuela para obter mais informações sobre a situação e a orientação para os brasileiros, porém, não obteve retorno até o fechamento da matéria. (P.C.)