Setenta e sete comunidades indígenas da Terra Raposa Serra do Sol admitiram, em nota, terem incendiado duas balsas guianenses e materiais de garimpo no rio Maú, que divide Brasil e Guiana. As lideranças da região aprovaram unanimemente a decisão de destruí-las devido à falta de medida efetiva pelas autoridades.
Conforme as comunidades, as balsas, que seriam legalizadas para uso no garimpo na Guiana, ficam paradas no lado guianense durante o dia e que são usadas para minerar à noite no território brasileiro, onde fica o Município de Uiramutã, o mais indígena do País.
O tuxaua da comunidade indígena guianense de Santa Maria, Heraldo Tomaz Delvídio, havia acusado os indígenas de puxar a balsa do lado da Guiana para destruí-la no Brasil. O local de onde o transporte teria sido puxado marca o início da região de Essequibo, reivindicada pelo ditador venezuelano Nicolás Maduro.
Para as comunidades brasileiras, o garimpo “eleva a contaminação do Rio como todo, principalmente através do mercúrio, afetando a saúde dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol. As nossas lideranças estão sofrendo ameaças de morte, as nossas comunidades invadidas, queimaram a casa de uma liderança. Várias denúncias foram encaminhadas, mas nenhuma medida efetiva foi adotada pelas autoridades”.
As lideranças destacaram que o garimpo cresceu nos últimos anos e culminou no aumento de violência contra as comunidades e lideranças. Por fim, repudiaram “qualquer informação distorcida e mentirosa em relação às ações de monitoramento territorial” que sempre foram realizadas para combater o garimpo na região.
Acusado por Heraldo Tomaz Delvídio de envolvimento com a destruição, o CIR (Conselho Indígena de Roraima) esclareceu que, embora a comunidade Mutum seja membro da organização, a decisão foi das próprias lideranças indígenas do lado brasileiro.
“Decidiram pela ação buscando evitar mais consequências às comunidades indígenas da região, principalmente às próximas do rio Maú. As lideranças denunciam ainda que vem sofrendo com constantes ameaças de morte, além de já terem registros de ao menos uma casa queimada em retaliação às constantes atividades de monitoramento da região”, disse o CIR, se referindo ao incêndio da casa de uma liderança indígena da comunidade Mutum, ocorrido em 2022.
