“O presidente Maduro anunciou à comunidade internacional a reabertura da fronteira terrestre com o Brasil. Gradualmente, iremos restabelecendo os mecanismos de controle fronteiriço para que esta fronteira seja cada vez mais uma fronteira robusta de desenvolvimento econômico produtivo e que beneficie a ambos os povos, a ambas as nações”. Esse anúncio foi feito pelo vice-presidente econômico da Venezuela, Tareck El Aissami, durante pronunciamento na televisão estatal VTV, nessa sexta-feira (10).
O anúncio venezuelano pegou de surpresa o Itamaraty, que primeiro disse para a Folha, por meio de nota, desconhecer a medida e logo depois afirmou que a liberação havia ocorrido às 16 horas.
A fronteira da Venezuela com o Brasil ficou bloqueada por tempo indeterminado desde o dia 21 de fevereiro deste ano, após determinação de Nicolas maduro, em meio à campanha da oposição para trazer ajuda humanitária para a Venezuela.
A correspondente da Folha em Pacaraima, Fátima Araújo, também confirmou a situação explicando que quando foi anunciada a reabertura, fez contato com autoridades do município venezuelano de Santa Elena de Uairén. “Fui informada que estava em processo de notificação aos funcionários, porque o Saime [Servicio Administrativo de Identificación, Migración y Extranjería] que é a parte da imigração tem que abrir. Esse aviso foi feito às instituições para que os trabalhos voltassem à normalidade”, disse.
Nos primeiros quatros meses do ano, mais de 55 mil venezuelanos entraram em RR
Cerca de 150 mil venezuelanos entraram no Brasil desde o início da migração em 2017 e, de acordo com os dados da Polícia Federal, desde 1º de janeiro de 2019 até a data de quinta-feira, 9, foram contabilizadas 55.721 entradas e 10.914 saídas em Pacaraima.
Durante o período em que a fronteira esteve aberta neste ano (1/01 até 21/02), a média de entradas diárias foi de 521 pessoas e 127 saídas. Já no período em que a fronteira esteve fechada (22/02 até 9/05), a média de entradas diária foi de 372 pessoas e 56 saídas.
A assessoria de comunicação da Operação Acolhida informou que no dia de ontem, mesmo antes da fronteira ter sido reaberta, já haviam entrado no lado brasileiro 603 venezuelanos. Disse ainda que a Guarda Nacional Bolivariana não se retirou do local, mas também não impediu mais as passagens de pessoas e veículos.
Telmário Mota diz que recebeu informação oficial com satisfação
No mês passado, o senador Telmário Mota (PROS) esteve em Caracas quando se reuniu com o presidente Nicolás Maduro, bem como participou de reunião de trabalho buscando diálogo para que a fronteira fosse reaberta.
O parlamentar disse que recebeu a informação oficial com satisfação. “A reabertura da fronteira foi uma promessa do presidente Maduro ao Brasil, quando estive com ele, e ainda é resultado da reunião de trabalho, em Santa Elena”, disse Telmário Mota.
Segundo ele, a fronteira aberta significa que será retomado o controle migratório, que estava sendo realizado de maneira clandestina, sem a fiscalização sanitária e de segurança necessárias, colocando em risco a população de Roraima. “Vejo como um primeiro e importante passo para restabelecermos as nossas relações diplomáticas, comerciais, culturais e sociais, e principalmente a paz, que o Brasil sempre buscou com seus países vizinhos”, ressaltou o senador.
“Como membro da Comissão Mista do Mercosul no Congresso Nacional e presidente da subcomissão temporária que avalia a crise na Venezuela, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, do Senado Federal, reafirmo meu compromisso e posicionamento institucional e democrático diante do conflito no país vizinho”, afirmou Telmário Mota.
Empresários relatam prejuízos durante fronteira fechada
Empresários roraimenses sentiram o reflexo em seus negócios enquanto a fronteira esteve fechada, por quase 50 dias. Teve quem deixou de vender algo em torno de R$ 7 milhões como o empresário João Cândido, que trabalha com exportação de alimentos e material de limpeza e importação de vassouras e derivados de plásticos como baldes, bacias e outros. Ele contou que o prejuízo foi grande.
“Enquanto a fronteira esteve fechada, sem tráfego, tive muita mercadoria parada, o que significa capital parado. Esse tempo que ficou fechada eu deixei de vender algo em torno de 7 milhões de reais”, ressaltou Cândido, comentando que aproximadamente 300 carretas de vários empresários estão carregadas e paradas na Venezuela, o que representa R$ 25 milhões sem movimentação.
O setor agrícola também foi afetado. O empresário e produtor rural Mateus Marcon, que trabalha com importação de calcário da Venezuela, informou que ficou inviável garantir o produto para uso próprio e para outros produtores. “A gente depende por muitos anos da Venezuela, mas devido à crise por lá, buscamos alternativa que foi comprar o calcário do estado do Pará. Porém o calcário venezuelano é de alta qualidade”, disse.
Segundo ele, o fechamento da fronteira em fevereiro pegou todos de surpresa, porque foi na época de preparação de solo que começou em fevereiro, março e abril. “É exatamente nesses meses que a importação do calcário é muito grande, porque é o período de preparar o solo para o plantio que se iniciou essa semana”, contou Marcon.
Como demandava de muito tempo para o calcário do Pará chegar até Boa Vista, o empresário precisou mudar a estratégia e passou a comprar o produto do Amazonas, o que conseguiu atender em parte a demanda. “Sem dúvida alguma o fechamento prejudicou, porque ficamos com pouca demanda do produto e com uma oferta menor de qualidade”, afirmou Marcon.
“Com a reabertura tudo voltará ao normal, mas, como já perdemos o ano safra que ficou todo comprometido, agora só para o ano que vem”, lamentou o empresário.