A oitiva dos índios com órgãos do Governo Federal e Governo do Estado foi realizada ontem para tratar da passagem do Linhão de Tucuruí pela Terra Indígena Waimiri-Atroari. A audiência contou com a participação do presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Pedro Gonçalves da Costa, da governadora Suely Campos (PP), e do prefeito de Rorainópolis, Adilson Soares.
Também participaram representantes da Secretaria-Geral da Presidência da República, do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Energia Elétrica, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), da Empresa de Pesquisa Energética, da Eletronorte, Eletrobras, do Ministério Público Federal em Roraima e da concessionária Transnorte Energia S.A. Indígenas de todas as comunidades da terra indígena compareceram à oitiva e foram representados pelo líder Mário Tarywe e pelo coordenador técnico do Programa Waimiri-Atroari, indigenista Porfírio Carvalho.
O presidente da Funai disse que a oitava é resultado da ida dela à terra indígena 45 dias atrás. “Foi um dia de muita conversa, que culminou com essa grande reunião histórica por conta da representatividade e legitimidade que tem. Há 110 dias na presidência da Funai, esta é a segunda vez que venho aqui para discutir um assunto que é debatido há três anos”, disse.
Ele afirmou que compreende não ser simples para os indígenas aceitar mais uma obra na terra deles. “O povo Waimiri-Atroari é forte. Saiu dos 300 doentes derrotados pelo processo de construção da BR-174 e se recuperou, organizou”, comentou. “Espero que essa reunião renove sentimentos. Sei que não é simples, mas penso que o povo está fortalecido para entender esta obra”.
Gonçalves da Costa disse que vai respeitar a decisão tomada pelos indígenas, mas que é favorável à passagem do Linhão de Tucuruí pela terra indígena. “Tenho minha opinião pessoal. Admito passar a linha na estrada, mas ela vai ter que ser discutida com o povo. Eles têm mais de mil razões para as desconfianças. Se é para ter a obra, que façamos com transparência, responsabilidade e zelo”, frisou.
A governadora Suely Campos, primeira chefe do Executivo estadual a visitar a TI Waimiri-Atroari, pediu apoio dos indígenas para a construção do Linhão de Tucuruí. “Peço que vocês ajudem Roraima. Somos o único Estado que não está integrado ao Sistema Interligado Nacional e precisamos de energia para promover o desenvolvimento econômico e social. Mais de 50% do nosso PIB vem dos cofres públicos e não podemos continuar assim”, defendeu.
Ela explicou também toda a crise energética vivida em Roraima. “A Venezuela fornece apenas 95 megawatts de energia, quantidade insuficiente para atender a demanda local, que chega a 180 megawatts em horário de pico. Por causa disso, a Eletrobras implantou três usinas termelétricas, que são caras e poluentes”, friso ao esclarecer que o custo desse parque térmico chega a R$ 720 milhões ao ano.
A expectativa é que outros encontros sejam feitos entre os indígenas e os representantes dos órgãos dos governos federal e estadual. A carta de anuência dos indígenas não é resolutiva, mas necessária para dar início às obras, caso a concessionária Transnorte Energia S.A (TNE), formada pela Eletronorte e Alupar, volte atrás da decisão de pedir rescisão de contrato na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). (V.V)
Suely pede que União crie Fundo de Apoio à Educação Indígena
Em seu discurso direcionado ao presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Pedro Gonçalves da Costa, a governadora Suely Campos (PP) pediu apoio do Governo Federal e da Funai para a Educação Indígena no Estado.
Ela explicou que o Estado possui 255 escolas indígenas atendendo 14 mil alunos e que em muitas localidades a merenda escolar chega de avião, o que encarece os custos. “Uma hora de voo chega a custar R$ 6 mil, e o governo estadual arca sozinho com essas despesas. Isso não pode mais acontecer”, disse.
Assim, Suely pediu que o Governo Federal crie um fundo para financiar a Educação Indígena, semelhante ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. (V.V)