Mesmo com o aumento de casos de ansiedade em meio à pandemia do covid-19, o funcionamento do Centro de Atenção Psicossocial Edna Marcellaro Marques Xavier (CAPS III), localizado na Avenida Ene Garcez, continua sendo feito de forma parcial. Os pacientes que procurarem a unidade no período da noite, aos finais de semana e feriados vão dar de cara com as portas fechadas.
A informação foi denunciada à Folha e apurada pela própria reportagem, que esteve no local no último sábado, 06. Segundo o Ministério da Saúde, os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia e oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Os centros tem diferentes atribuições, com o CAPS III sendo para atendimento diário e noturno de adultos, durante sete dias da semana, atendendo à população de referência com transtornos mentais severos e persistentes.
O relato é que a instituição passou por reformas em abril do ano passado e funcionou temporariamente na escola estadual Monteiro Lobato. Por isso, teria suspendido as atividades noturnas. No retorno das atividades ao fim das obras, o serviço deveria voltar a ser ofertado em regime de 24h. Porém, a unidade já reabriu desde janeiro passado e o atendimento permanece da mesma forma. O CAPS III é o único serviço de internação no estado e segundo os funcionários, permanece fechado.
“A sociedade precisa de atendimento. O CAPS III recebe vítimas de estupro, pacientes que se agridem, fazem auto-mutilação e que tentam o suicídio. A gente não sabe nem o que está acontecendo com esses pacientes”, declarou um grupo de funcionários.
Eles dizem ainda que devido à covid, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) solicitou os funcionários excedentes para atuar em outras unidades de saúde. Porém, a unidade não teria muitos servidores para dispor e manter todas as atividades.
“Outros CAPS responderam que não tinham funcionários excedentes e continuam o serviço. A gestão simplesmente fechou e devolveu todos os funcionários noturnos. Ao nosso ver a gestão aproveitou a oportunidade para fechar a equipe da noite”, disse um dos servidores.
Espaço estava fechado no sábado pela manhã (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
DENÚNCIA DE ASSÉDIO – Outra denúncia, feita por um grupo de servidores, é que a gestão da unidade supostamente teria causado assédio moral aos funcionários da casa e se dirigido de forma inadequada aos pacientes. Servidores teriam inclusive pedido afastamento do trabalho por sinais de depressão e ansiedade.
Os funcionários alegam que já comunicaram o problema para a própria gestão da unidade, para a Sesau e para a Ouvidoria do estado, porém, até o momento nenhuma medida foi adotada.
“A gente procurou primeiro a coordenadora na Sesau por assédio moral; devolução de funcionários sem motivo; permuta sendo feita sem a gente ter conhecimento e sem a anuência do servidor; entre outras coisas.
OUTRO LADO – A reportagem entrou em contato com o Governo de Roraima sobre o caso.
Confira a nota na íntegra:
A Secretaria de Saúde informa que sobre a denúncia de possível assédio moral será apurada pelo setor competente, uma vez que a gestão não compactua com nenhum tipo de conduta inadequada no desempenho das atividades profissionais.
Em relação ao horário de funcionamento, em virtude da pandemia causada pela COVID-19, foi necessário mudar o horário de atendimento, devido a necessidade de evitar aglomeração e cortar a cadeia de transmissão do vírus no Estado, para garantir a segurança dos próprios pacientes e servidores. Sendo assim, de forma temporária, a Unidade passou a funcionar de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Vale ressaltar que a reforma da Unidade foi realizada entre setembro de 2020 e janeiro de 2021. E com as obras o Caps III conta agora com duas salas de grupo, para a realização de atendimento terapêutico coletivo, sala de enfermagem ampliada, farmácia e recepção, além de área de serviço e rouparia que vai reforçar o acolhimento noturno.
É preciso esclarecer que o local não realiza internação e sim de acolhimento noturno aos pacientes com transtornos mentais severos e persistentes, que apresentem quadros de sofrimento psíquico e/ou em critérios psicossociais, como a necessidade de observação, repouso, proteção, manejo de conflito, dentre outros agravos. No entanto, para iniciar o acolhimento noturno os pacientes necessitam passar pela avaliação médica para admissão.
Leia mais:
Pesquisa revela aumento da ansiedade na pandemia – Folha de Boa Vista