Cotidiano

Funcionários continuam reféns e aviões devem ser liberados hoje 

Conversas com lideranças indígenas já duram três dias; protesto é pela troca do coordenador do DSEI-Y

Três dias após manterem reféns servidores e três aviões que estão na região indígena de Surucucu, no município de Alto Alegre, as aeronaves devem ser liberadas ainda hoje, 19, de acordo informações de representante de associação indígena. Ainda não há previsão para a liberação dos servidores.

O ato é uma manifestação dos índios Yanomami que pedem melhorias nos atendimentos de saúde às comunidades mais isoladas e a exoneração do atual coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), Rousicler de Jesus Oliveira.

Segundo a gestão da empresa Voare Táxi Aéreo, contratada pelo DSEI-Y como serviço terceirizado para transporte de médicos e medicamentos, as reivindicações por parte dos indígenas não estão relacionadas com os serviços feitos pela empresa.

“Estamos acompanhando a situação. Eles [índios Yanomami] estão fazendo a manifestação e acharam por bem prender as aeronaves para chamar atenção. Só que essa falta de atendimento não foi feita pelos aviões”, enfatizou a gerente, Helena Lima.

A gerente prosseguiu dizendo que o DSEI-Y possui dois tipos de contratos, um com os aviões e o outro com helicópteros, que seriam prestados pela empresa Icaraí Táxi Aéreo. Ela ressaltou ainda que em nenhum momento houve falta de prestação de serviços aéreos feitos pela Voare.

Mesmo com três aeronaves impossibilitadas de deixar a região, Helena disse que outros serviços da empresa não foram afetados, somente houve a determinação de suspensão de outros voos no momento para a região de Surucucu. A gestão recebeu a informação de que as aeronaves estavam presas por meio de telefone dos próprios pilotos, que afirmaram que não sofreram nenhum tipo de repreensão ou ameaças por parte dos índios.

“O diretor de operações estava pilotando um dos aviões e me ligou informando o que aconteceu, mas disse que eles estavam seguros e que o Exército [Brasileiro] estava dando apoio na segurança dos aviões para que não danificassem ou ateassem fogo. Para nós, da empresa, os índios falaram que não tinham nada contra, o problema era com o coordenador”, relatou.

ENTENDA – Dezessete servidores e três aeronaves estão reféns desde domingo, 16, após mais uma morte de criança por desnutrição e pneumonia. Os índios garantem que estão há mais de quatro meses sem qualquer tipo de assistência médica e que os casos de malária nas regiões teve aumento de 80%.

Para conseguir negociar com os índios, uma equipe com servidores do DSEI-Y, Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e de associações viajou até as comunidades na manhã de segunda-feira, 17, e afirmou que em nenhum momento os funcionários reféns foram ameaçados.

Segundo garantiu o presidente da Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima, Júnior Hakurari Yanomami, a principal pauta da manifestação é o pedido de exoneração do coordenador do DSEI-Y.

Uma carta foi escrita pelos indígenas e encaminhada à Folha, que relata que há “falta de compromisso pelos gestores passados e o atual que levou o aumento de malária em todo território Yanomami. Os dados epidemiológicos mostram aumento assustador, a falta de insumos, medicamentos e materiais hospitalares”.

Empresa de transporte assumiu antiga Paramazônia

A antiga Paramazônia Táxi Aéreo, que prestava os serviços de transportes para as comunidades indígenas Yanomami, esteve envolvida em adversidades no ano passado. Dentre elas, um acidente aéreo na terra indígena em que estava o piloto Elcides Rodrigues Pereira, o “Peninha”, e o técnico de enfermagem Ednilson Cardoso. Os dois sobreviveram a um pouso forçado no Rio Catrimani, porém houve complicações no momento do resgate feito por um helicóptero pilotado pelo dono da empresa na época, Arthur Nogueira Neto.

No mesmo ano, o diretor foi condenado por improbidade administrativa, em que uma denúncia do Ministério Público de Roraima (MPRR) apontou que a empresa foi favorecida em licitações de prestação de serviços para o governo do estado no período de 2006 a 2011. Após os eventos, a empresa foi vendida para a uma nova gestão, que mudou a razão social e criou a Voare Táxi Aéreo.

“Fazemos o transporte do pessoal que atende na comunidade indígena e também fazemos o recolhimento de pessoas doentes. Mudaram os sócios, os antigos foram embora e compramos a empresa e mudamos o nome porque a Paramazônia estava muito queimada. Colocamos nova administração, novos motores nos aviões, hélices, fizemos toda uma nova estrutura. Temos autorização da ANAC [Agência Nacional de Aviação Civil] e está tudo regulado”, encerrou a gestora da Voare, Helena Lima.

 

Empresa de helicópteros não foi encontrada

Após a confirmação que os helicópteros são prestados pela empresa Icaraí Táxi Aéreo, a equipe de reportagem tentou entrar em contato para saber um pouco mais da situação. Há pouca informação sobre a empresa na internet e o único contato encontrado foi através de WhatsApp da empresa no Paraná, que faz passeios turísticos na região.

Questionados sobre o assunto, foi respondido apenas que “essa parte tem que ver com o pessoal responsável pelo Note. Desconheço o assunto”. Perguntados se poderiam repassar algum outro contato da empresa para tratar sobre isso, não responderam. (A.P.L)