Cotidiano

Funcionários da Caer param por 48 horas

Sindicato afirma que paralisação está ocorrendo porque a Caer se negou a negociar com a categoria, que havia elaborado uma minuta do acordo coletivo

Mais de 40% dos funcionários da Caer (Companhia de Águas e Esgotos do Estado de Roraima) estão cumprindo uma paralisação de 48 horas desde ontem. A decisão foi tomada em assembleia geral realizada no dia18, em conjunto com o Sindicado dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas do Estado de Roraima (Stiurr), após um desentendimento com os gestores da Caer sobre o Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015. O sindicato representa os funcionários das empresas Eletronorte, Eletrobras, Cerr (Companhia Energética de Roraima) e Caer, com total de 900 filiados.
De acordo com o presidente da Stiurr, Antônio de Freitas Sampaio, a paralisação ocorreu porque a Caer se negou a negociar com a categoria, que havia elaborado uma minuta do acordo coletivo dos funcionários. “Nós encaminhamos documentos pedindo aos gestores uma reunião para que nós pudéssemos apresentar a nossa proposta, mas não fomos ouvidos”, explicou.
Após a recusa da companhia, a entidade convocou uma assembleia geral que culminou no indicativo para uma paralisação. “O objetivo é que a empresa nos chame para negociarmos sobre nossas reivindicações”, explicou o presidente. Quanto às reivindicações, a categoria pede que a Caer faça adaptações no Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015 proposto pela empresa e rejeitado pelos funcionários.
“As nossas principais reivindicações são: reajuste do salário seguido do ganho real, o direito ao ticket alimentação e o enquadramento dos servidores para que recebam seus devidos salários” explicou. Segundo o presidente do Situr, o percentual de ajuste que a classe pede é de 5.86 no índice do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Estamos pedindo 5%, mas estamos dispostos a negociar”, disse. 
Segundo Sampaio, a empresa não paga os funcionários nas datas corretas. “Queremos que a empresa coloque sua folha de pagamento em dia porque entendemos que a folha de pagamento é sagrada. O trabalhador, ao final do mês, tem seus compromissos para honrar, assim como toda a sociedade no geral, e isso não está sendo cumprido no pagamento dos trabalhadores de serviços prestados e os que estão com a carteira assinada”, explicou.
Conforme ele, a categoria está insatisfeita e vai permanecer as 48 horas de paralisação, esperando que a gestão chame os servidores para conversar. “No final, faremos uma assembleia para deliberarmos se vamos parar por 72 horas ou por tempo indeterminado”, disse Antônio Freitas Sampaio.
Quando questionado sobre os possíveis danos ao fornecimento de água para a população devido à paralisação, o sindicalista afirmou que não existe o risco, pois  todos os  cuidados necessários foram tomados.  “Enviamos um documento para empresa pedindo uma reunião para tirar o quantitativo de grevistas e manter o fornecimento essencial de 30% de trabalhadores”, esclareceu.
“Precisamos passar isso para sociedade porque, caso haja greve por tempo indeterminado, isso vai atingir a outra ponta, que é o fornecimento de água para a sociedade, e os trabalhadores não têm culpa disso”, frisou o presidente. Caso não haja um acordo, o sindicato pretende entrar na Justiça.
Para o advogado do Stiurr, a paralisação com indicativo de greve é uma medida para se buscar um meio de negociação com o governo para que os trabalhadores sejam ouvidos. “Se a administração se nega e se recusa a esse tramite, não existe outra saída senão buscar no judiciário nossos direitos”, disse.
DENÚNCIA – Os servidores da Caer relataram que há muitos cargos políticos dentro da empresa. “Nós podemos comprovar o inchamento da folha de pagamento. Entendemos que o período é delicado, um momento político, por isso, se alguém tiver dúvida, é muito fácil checar. É só olhar a folha de pagamento inchada”, exclamou um servidor.
Segundo eles, é inaceitável que os gestores aleguem que não existe recurso para cumprir com a folha de pagamento enquanto novos servidores são contratados com salários mais altos. “Nós vemos novos trabalhadores todos os dias na empresa e não entendemos daonde eles vêm, porque não houve sequer um seletivo. E que nós entendemos disso em um período de eleição? Ficam no ar estas questões, mas todo mundo está vendo o que  está acontecendo”, disse outro servidor.
Conforme a categoria, a Caer trabalha com cerca 1.350 funcionários, mas o quadro ideal seria de 800 servidores. “Muitos ganham gratificação de R$ 3.700,00 para nem virem trabalhar”, disse um servidor. 
Eles afirmam que existem servidores que trabalham há mais de 20 anos com carteira assinada, recebendo salário base de R$ 1.480,00, enquanto novos funcionários são contratados, sem nenhum tipo de seleção, recebendo gratificações que vão de R$ 1.700,00 a R$ 8.000,00.
CAER – Por meio de nota, a Caer afirma que quando notificada sobre todos as reivindicações do movimento, que  considera toda manifestação “legítima e honrosa, desde que em prol dos trabalhadores”. “Neste sentido, dentro das condições financeiras da empresa, os anseios e direitos dos trabalhadores têm sido atendidos”, afirmou.
A nota diz ainda que, no primeiro semestre de 2014, a Caer se antecipou à assinatura do acordo coletivo e aplicou a correção salarial, respeitando a data-base 2014/2015, a qual incidiu em todos benefícios constantes do acordo. Disse que concedeu um aumento no valor do vale alimentação, que passou de R$ 365,75 para R$ 400,00, valor este que ultrapassa o percentual da correção salarial aplicada.
A companhia informou “que tem buscado o diálogo constante com os representantes do sindicato, alertando-os quanto ao equilíbrio econômico e financeiro e o tratamento razoável para a garantia da boa Administração”. Disse ainda que respeita o direito do trabalhador e cumpre seu papel como empregador, mas no limite das suas possibilidades.