Cotidiano

Futuro da energia de Roraima ainda é incerto

Sindicalistas ainda tentam reverter situação após venda da empresa, mas estão desmotivados; especialistas afirmam que mudanças não serão significativas

ANA PAULA LIMA

Editoria de Cidades

Por fim, vendida. Foi assim que os funcionários do setor energético roraimense receberam a notícia que a Eletrobras Distribuição Roraima foi privatizada.

Desde o ano passado os servidores estavam mobilizados para tentar barrar a privatização da empresa ao afirmarem que o impacto gerado seria desastroso. O leilão ocorreu na tarde de quinta-feira, 30, em São Paulo, onde a empresa foi arrematada pelo valor de R$ 50 mil pela Oliveira Energia.

Dentre as atividades realizadas pelos eletricitários, visando reverter a venda da empresa, estavam paralisações nas atividades, conversas com representantes políticos em Brasília e o clamor pelo apoio da população. Além do receio de uma demissão em massa, os servidores afirmavam que, com a privatização, o valor na conta de energia teria aumento significativo.

Os motivos para a privatização, segundo o Governo Federal, foram o exorbitante acúmulo de dívidas das empresas ao longo dos anos e que o poder privado levaria melhorias na prestação de serviços para a população. A partir disso, criou o Projeto de Lei nº 77/18, que atualmente tramita no Senado Federal, para determinar a venda de todo setor de energia das distribuidoras estatais.

Em desabafo, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Urbanitários de Roraima (STIU-RR), Gissélio Cunha, disse que a situação é crítica e que ainda não sabe como será o futuro após a venda. O sindicalista acredita que a solução para a energia roraimense é a ligação com o Sistema Interligado Nacional (SIN), mas que interesses políticos estariam impedindo que o projeto avançasse.

“Interligar é trazer uma energia confiável e energia mais barata. Mas isso fica distante e está cada vez mais com a privatização porque é visível o interesse que tivesse o leilão e que fosse direcionado para a empresa que ganhou o certame. Vai continuar sendo o único estado isolado do país”, disse.

Cunha pontuou ainda a preocupação em relação ao fim do contrato de fornecimento de energia por meio do Linhão de Guri, o que forçaria a geração de energia para o Estado ser por meio das termelétricas, mais poluentes e mais caras. “Não sabemos como será feito esse tratamento com a iniciativa privada, principalmente por conta das dívidas que estão acumuladas e podem cortar a energia daqui com a Venezuela”, completou.

Além de todos os receios, o presidente do sindicato acredita que, por visar o lucro, a empresa privada não vai fazer extensão de rede para comunidades indígenas e ribeirinhas, por conta da distância e do baixo retorno financeiro que teria.

Mesmo com a venda da Eletrobras, o STIU-RR está confiante em tentar reverter a situação, justamente porque o Projeto de Lei ainda não entrou em votação, o que possibilitaria inviabilizar a compra da empresa. “Vamos continuar indo até Brasília para conversar com os políticos no intuito que eles rejeitem esse projeto de lei. Esperamos que o próximo governo veja nossa situação e nos ajude”, ressaltou.

Especialistas avaliam a privatização

Para o economista Elói Martins Senhoras, a privatização não vai resultar em mudanças em relação à dependência da energia elétrica da Venezuela e tão pouco mudaria a integração do Sistema Nacional, pois isso estaria relacionado a gastos do Governo Federal. “O que temos, na verdade, é uma mudança de quem vai está fazendo o gerenciamento da distribuição da energia, não vai ter mudança na construção, na infraestrutura”, disse.

O economista avalia que não houve ganho ou perda com a venda da Eletrobras, mas entende que o vencedor do certame deve fazer investimentos em termelétricas, já que é onde adquiriu experiência nos últimos anos.

Já para o economista Fábio Martinez, é mais vantajoso para a nova empresa que tenha o Linhão de Tucuruí, pois poderiam comprar energia de qualquer lugar do país, saindo da instabilidade da Venezuela. Entretanto, o baixo valor da geração é atrativo para a empresa e isso não deve mudar no início.

“Se espera que a gestão privada seja mais eficiente. Pode ter uma redução no quadro de funcionários, enxugar custos e, em médio prazo, poder refletir na redução do valor da tarifa”, detalhou Martinez. 

Boa Vista Energia, Eletronorte e Eletrobras: o que são cada uma?

Os termos diferenciados para tratar de uma só coisa ainda causa confusão para a população roraimense. São três atuações no sistema elétrico: geração, transmissão e distribuição. A parte da geração que é produção de energia, em Roraima, acontece no complexo de Guri, na Venezuela. Para chegar até Roraima, é necessário fazer a transmissão de um ponto para outro, esse trabalho é da Eletronorte. Já a distribuição para os moradores, é da Boa Vista Energia.

Em 2010, a Boa Vista Energia já era subsidiária da Eletronorte, passou a ser ligada diretamente com a Eletrobras Distribuição, conforme aconteceu em todos os estados que detinham empresas energéticas estatais.

No começo de 2017, a Companhia Energética de Roraima (CERR), que fazia a concessão de energia nos 14 municípios de Roraima, perdeu o direito à distribuição e passou também a ser subsidiária da Eletrobras Distribuição Roraima. Dentro da privatização todas essas empresas foram arrematadas pelo valor de R$ 50 mil. (A.P.L)