AYAN ARIEL
Editoria de Cidades
Em entrevista exclusiva à Folha, o presidente da Cooperativa de Garimpeiros de Roraima (COOGRORR), Josias Licata, confirmou que irá denunciar à Presidência da República, aos Ministérios da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e de Minas e Energia (MME), o Exército Brasileiro, por conta de suposta tortura, omissão de socorro e propina contra garimpeiros, que estariam ocorrendo em Roraima. Os garimpeiros atuam de forma ilegal, pois não há regulamentação para a atividade em terras indígenas.
“Em outros momentos, já havíamos essa questão e estou aqui para ver quais providências estão sendo tomadas”, disse Licata.
O presidente da cooperativa relatou que o ouro retirado pelos garimpeiros, assim como seus celulares, estão sendo retidos pelo Exército em diversas ocasiões e nem tudo foi devolvido aos proprietários. “Por isso, trouxemos isso a Brasília, porque esse tipo de abuso precisar cessar. Se não houver providências, nós iremos reagir”, ameaçou.
NOVO BLOQUEIO E APAGÃO – A reação citada por Licata poderá ser um novo bloqueio da BR-174, semelhante às duas ocorridas no último trimestre de 2019. Esse bloqueio poderá atingir diretamente o abastecimento de energia em Roraima, já que nesse caso, nenhum caminhão com combustível para as termelétricas passariam por esse bloqueio.
“Estamos revoltados com o que alguns comandados pelo exército estão fazendo contra esses trabalhadores e eles estão ameaçando torturar garimpeiros novamente. Se isso acontecer, faremos o fechamento”, desafiou.
Exército diz que não recebeu nenhuma denúncia em relação a essas acusações
Em resposta à acusação de suposta tortura, omissão de socorro e propina, o Exército Brasileiro, por meio da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, informou que investiga prontamente qualquer denúncia que chegar ao conhecimento da corporação, abrindo processo administrativo quando há indícios de crime de natureza civil ou militar. A instituição também informou que, até o momento, nenhuma queixa foi feita sobre esse caso.
A Brigada destacou o desenvolvimento de operações na faixa de fronteira do Estado, que busca defender o território brasileiro, combatendo crimes transfronteiriços e ambientais, seguindo o dever legal assegurado pela Constituição Federal e pelas leis Complementares no 97/1999, 117/2004 e 136/2010.
“O Exército Brasileiro adota procedimentos operacionais rígidos para o emprego da tropa. Esses procedimentos visam a manter a segurança da tropa e dos cidadãos, com os militares adotando o emprego gradativo da força, sempre proporcional ao aumento da ameaça à tropa”, destaca a nota.
A entidade faz uma ressalva sobre a ação empreendida por garimpeiros no Rio Uraricoera no último dia 11 de janeiro, que resultou no ferimento de dois militares do Exército, um dos quais permanece internado, o que a instituição diz ser exemplo da seriedade adotada na condução das ações, seguindo fielmente os procedimentos preconizados nas operações.
Embora tenha ocorrido a agressão contra os militares, o Exército garantiu que “não tendo sido realizado por parte da tropa nenhum disparo letal contra os civis, embora os mesmos tenham, de maneira deliberada, posto em risco a vida dos militares envolvidos. A 1ª Brigada de Infantaria de Selva seguirá cumprindo sua missão constitucional, observando a legalidade”, encerrou a nota.