Cotidiano

Governo aposta na militarização de escolas para conter violência

Primeiras a adotarem o novo método de ensino militar, escolas Ritler de Lucena e Elza Breves possuem os maiores índices de violência de Roraima

Escolhidas para receberem o Ensino Básico Militar (EBM), a partir do próximo ano letivo de 2016, as escolas da rede estadual Professora Elza Breves de Carvalho, localizada no Conjunto Cidadão, no bairro Senador Hélio Campos, e Ritler Brito de Lucena, situada no bairro Nova Cidade, ambos na zona Oeste, estão entre as que possuem os maiores índices de violência e baixo nível de escolaridade do Estado.

As duas escolas serão as primeiras em Roraima a adotar o novo método de ensino e rotina do Colégio Militar, já implantado em alguns estados da região Norte, como Pará e Amazonas. Segundo a diretora da Escola Ritler de Lucena, Socorrita Ferreira, por estar situada em uma área de risco, a indisciplina dos alunos foi o principal fator para o pedido de intervenção militar na unidade. “Nós temos alunos que vendem e consomem drogas dentro das dependências da escola. Outros entram com armas brancas para brigarem entre si ou com galeras”, disse.

A escola é a maior do Estado em relação ao número de matriculados, com 2,3 mil estudantes, distribuídos entre os ensinos fundamental, médio e de jovens e adultos. “É uma proposta do governo em transformar essa escola em militar. Acredito que vai resolver, porque irá disciplinar e a fiscalização será mais forte e rígida”, afirmou a gestora.

Para tentar inibir a prática de venda e consumo de entorpecentes, bem como os frequentes furtos ocorridos na unidade, a diretora disse que a Associação de Pais e Mestres arrecadou fundos para a aquisição de um sistema de monitoramento por câmeras. “Melhorou bastante, mas não reprimiu a violência. Muitas vezes nós temos que chamar a Polícia Militar para fazer rondas pela escola, porque a gente sabe que tem essas irregularidades”, explicou.

ELZA BREVES – A mesma violência ocorre na Escola Elza Breves, que possui pouco mais de mil alunos e nota média para o ensino fundamental de apenas 3,1, a mais baixa do Estado segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

De acordo com a direção, o projeto de militarização surgiu de um conceito do método adotado nas escolas mais violentas de Manaus (AM). Conforme informou, foi implantado em várias escolas de Manaus e vem dando certo. Além do consumo de drogas na unidade, vários professores são constantemente ameaçados pelos estudantes. “Os professores são ameaçados até de morte, porque grande parte dos nossos alunos são usuários e tem envolvimento com o tráfico”, frisou.

O que mais impressiona, segundo a escola, é o fato de os delitos serem cometidos por estudantes do ensino fundamental, adolescentes em formação que cometem todos os tipos de irregularidades. “Onde não há regras e disciplinas não tem aprendizado. É extremamente necessária a militarização”, frisou.

Pais avaliam mudanças como positivas

O funcionário público, Samuel Silva, que tem uma filha cursando o 9° ano do ensino fundamental na Escola Elza Breves, afirmou que aprova a militarização da unidade. “Eu acho positivo. É um método que irá melhorar a disciplina dos alunos. Sei que é uma escola bem violenta, mas eu creio que com a implantação muita coisa vai mudar”, disse.

Para o autônomo, Fernando Silva, que é pai de dois alunos que estudam na Escola Rittler de Lucena, as mudanças são extremamente necessárias. “Todo mundo tem conhecimento da violência que existe. Muitos pais, como eu, não têm condições de colocar os filhos em outras escolas. Se houver disciplina e organização, vai mudar para melhor com certeza”, afirmou.

Colégio Militar é referência entre unidades de ensino em Roraima

O Colégio Militar Estadual foi o parâmetro para a ideia de implantação do método de ensino em outras unidades do Estado.  A escola exige a obediência dos alunos aos regulamentos internos, como culto aos símbolos nacionais, cumprimento fiel dos horários, participação nos compromissos da escola, hierarquia e disciplina.

Segundo a diretora de ensino do Colégio, Rozmeri Binsfeld, o quadro de docentes é formado por professores da rede estadual e por policiais militares com licenciaturas específicas nas disciplinas. “A diferença é que temos planejamento pedagógico. O aluno não desrespeita o professor, não sai da sala sem autorização, e cumprem tudo o que é proposto”, ressaltou.

Conforme ela, a meritocracia é bastante trabalhada com os estudantes. “A média escolar é nota 7, mas o aluno só recebe honrarias se tiver médias acima de 8,5 em todas as  disciplinas e em comportamento. Aqui é trabalhado muito a meritocracia, somos uma escola que se preocupa com o conhecimento do aluno e a metodologia é de livre escolha do professor”, explicou.

O CME foi criado em dezembro de 2011 e integra a estrutura organizacional da PM, destinando 50% das vagas existentes para candidatos aprovados, de ambos os sexos, dependentes de militares da PM e do Corpo de Bombeiros, e 50% para a comunidade. (L.G.C)