MARCOS MARTINS
Editoria de Cidades
Pescadores em Boa Vista têm reagido negativamente ao projeto de lei do governo estadual que proíbe a captura e comercialização do peixe Tucunaré da Amazônia. O projeto também proíbe o embarque, o transporte, o processamento e a industrialização da espécie.
A intenção seria preservar o tucunaré, recuperar o ecossistema onde a espécie vive, além de contribuir com seu repovoamento, mas pescadores destacam que isso pode prejudicar quem trabalha com a espécie em determinada época do ano.
O pescador Raimundo Nonato da Silva Filho afirma que no verão o acesso ao tucunaré fica mais fácil, sendo o peixe mais capturado pelos pescadores. “Prejudica demais o nosso trabalho, pois tem período que geralmente achamos mais tucunaré. Não pegamos os grandes, mas tucunarés médios pegamos muito. Vendi muito tucunaré aqui, principalmente no verão, pois tem mais acesso para pegar ele. O tucunaré é um peixe difícil de pegar”, afirma.
Raimundo explica que o tucunaré é achado muito em lagos e igarapés no estado. “Cada qual tem o seu período. Agora está na época da “arribação” dos peixes. O que está subindo mais aí é mamori, pacu, pirapitinga, matrinxã e jaraqui. Tucunaré conseguimos pegar, mas pegamos pouco no rio e geralmente é mais em lago e igarapé. Tem lugares que possui muito tucunaré. Meu irmão, que também é pescador, quando chega o verão e o rio está seco, traz muito desse peixe. De mil quilos, um total de 600 é de tucunaré, e de porte grande”, afirma.
O projeto de lei destaca que o manejo e o consumo ficam livres apenas para a população ribeirinha que tem o intuito de consumir a espécie para alimentar sua família e para quem pratica a modalidade esportiva chamada “Pesque e Solte”. Esta modalidade é aquela em que o pescador pesca e o devolve o animal vivo para a água.
Está previsto também que a punição para quem for flagrado desrespeitando a lei pode ser multa, além de punição aos estabelecimentos comerciais que estiverem vendendo a espécie, que podem ser até mesmo interditados, ter a licença, autorização e registro suspensos, e nos casos em que houver reincidência pode levar até ao cancelamento de licença, autorização e registro.
Para o chefe da fiscalização ambiental da Femarh, Yuri de Lima Teixeira, o projeto de lei destaca bastante a punição para quem estiver fora da lei. “Fica permitido somente para pesca esportiva e tem a questão dos ribeirinhos, mas tem que provar a necessidade de subsistência. Também fica explícito a questão da comercialização. A pessoa pode até ter o comércio suspenso, embargado, a licença pode ser cancelada. Tem que ser levada a sério a questão”, analisa o chefe.
Ainda conforme o chefe de fiscalização ambiental, o motivo da proibição tem o intuito de fomentar o turismo através da pesca esportiva. “Acredito que se tenha levado a essa proibição é o hábito do próprio roraimense de não consumir tanto o peixe tucunaré e também para trazer mais turistas para o estado de Roraima. O foco do turismo é o tucunaré em relação à pesca esportiva, fortalecendo o turismo baseado no modelo da cidade de Barcelos, no Amazonas”, afirma ainda Yuri.
Contudo, para o pescador Ricardo Cruz Mangabeira, mesmo com intuito de preservação o projeto de lei acaba prejudicando a renda dos pescadores no estado. “O tucunaré é um dos mais achados. Em lago é só o que dá. O baixo rio Branco tem para mais de mil lagos e você acha muito tucunaré. Na sua época, sem dúvida, vai atrapalhar o nosso comércio. Não gosto da ideia de não proibir também com relação àqueles hotéis de turismo de pesca esportiva. Acho aquilo muito errado, porque fere o tucunaré. Aquilo vai acabar? Acho que não, e isso é muito errado também”, destaca ainda o pescador.