Cotidiano

Gravidez depois dos 30 anos vira tendência inclusive em Roraima

No Hospital Materno Infantil, única maternidade pública do Estado, 20% dos partos são de mulheres entre 30 e 50 anos

As estatísticas comprovam o que a sociedade já vem percebendo no cotidiano: cada vez mais mulheres têm adiado a maternidade para depois dos 30 anos. Embora os médicos alertem sobre os riscos de uma gravidez tardia, os números mostram que esse comportamento tem crescido e está se firmando como uma tendência social.
Segundo o estudo “Saúde Brasil”, divulgado pelo Ministério da Saúde, o percentual de mães na faixa etária de 30 anos cresceu na última década, passando de 22,5% em 2000 para 30,2% em 2012. Entre as brasileiras que estão esperando chegar até os 30 anos ou mais para ter o primeiro filho, estão, principalmente, as que possuem mais escolaridade.
Embora esteja ligeiramente abaixo da média nacional, Roraima segue a mesma tendência. Os dados mais recentes mostram que um quinto dos partos realizados na rede pública foi de mulheres acima dos 30 anos. No primeiro semestre deste ano 2014, esta fatia da população representou 19,2% do total de partos realizados no Hospital Materno Infantil (HMI), única maternidade pública, onde ocorre a maioria dos partos no Estado.
No período, foram realizados 5.127 partos ao todo, dos quais de 53 ocorreram em mulheres entre 41 e 50 anos. Outros 934 ocorreram na faixa de 31 a 40 anos – o equivalente a 18% do total. No ano passado, das 8.828 mulheres que deram à luz na unidade, 1.796 tinham mais de 30 anos, o equivalente a 20% do total.  Os dados não mostram, porém, quantas destas mulheres foram mães de primeira viagem.
O Norte ainda é a região onde as mulheres têm filhos mais cedo. Nas regiões Sudeste e Sul elas representam, respectivamente, 34,6% e 33,6% dos nascimentos. No Centro-Oeste a taxa foi de 28,8%, seguido do Nordeste com 26,1% e o Norte com 21,2%.
O estudo atribui a tendência ao papel social exercido pela mulher. “Com a inserção mais forte da mulher no mercado de trabalho e mais acesso aos métodos anticoncepcionais, a mulher planeja melhor sua gravidez“, explicou a diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde, Thereza de Lamare.
  “Tive uma gravidez mais tranquila do que possivelmente teria 10 anos antes”, afirma mãe aos 40
Depois de muito priorizar o lado profissional e outros aspectos da vida pessoal, a jornalista Karen Telles foi mãe aos 40, após duas décadas de casamento. Após um ano e quatro meses do parto, ela brinca ao afirmar que se tivesse vivenciado este momento há 10 anos, teria sido uma mãe mais estressada e ansiosa. “Ter engravidado nessa fase da minha vida me deixou mais serena e o fato de eu já ter estabilidade, profissionalmente falando e também em relação a outros aspectos, me deu a oportunidade de aproveitar melhor este momento”, disse.
Ela pontua que a espera fez com que a criança chegasse à vida dela em um momento em que ter que abrir mão de determinadas rotinas já não fez tanta falta. “A gravidez é uma mudança significativa na vida de qualquer mulher, mas ter vivido isso nessa fase da vida não vem como um peso, pois, de certa maneira, já aproveitei muitos momentos da vida. Tudo isso contribui para que a gente possa encarar tudo com menos inquietação”, analisou.
A jornalista Karen Telles esperou a estabilidade profissional e emocional para ser mãe (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)
Gravidez tardia requer cuidados especiais
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde definem como “gravidez tardia” a que ocorre nas mulheres com mais de 35 anos. Mas nem sempre foi assim, pois o critério sobre a idade ideal para dar à luz evoluiu com o tempo. Na década de 1960, considerava-se ideal a faixa entre os 18 e os 25 anos e atualmente, admite-se que a idade “ideal” para a primeira gravidez vai dos 20 aos 30 anos.
No site pessoal, a obstetra Tânia Regina Schupp Machado, que trabalha no Departamento de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde é responsável pelo setor de gestantes com idade avançada, mantém um artigo onde fala sobre o tema. Segundo ela, antigamente, a expectativa de vida girava em torno dos 45, 50 anos. As mulheres casavam cedo e tinham filhos logo.
Segundo ela, com a nova realidade, passou a ser considerada de risco a gravidez depois dos 35 anos, uma vez que a idade avançada aumenta a probabilidade de concepção de um filho com síndrome de Down – um dos maiores riscos na gravidez tardia.  “Depois dos 35, a gravidez é de risco, mas paciente bem cuidada pode passar por isso normalmente. O problema de adiar muito a gestação é conseguir engravidar. A fertilidade feminina começa a cair por volta dos 25 anos e tem declínio importante depois dos 35 anos”, explicou.
Sobre os cuidados que a mulher com mais de 35 anos e que decidiu engravidar pela primeira vez deve tomar, ela salienta que o pré-natal deve começar antes da concepção. Segundo a obstetra, a mulher deve procurar o médico antes de engravidar para a realização de exames laboratoriais de rotina e avaliação clínica. “Se tudo estiver bem, recomenda-se que tome ácido fólico, uma vitamina do complexo B, para diminuir o risco de malformação do sistema nervoso central do bebê”, concluiu.