Iniciada no dia 21 maio, a greve dos servidores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) tem causado preocupação nos empresários boa-vistenses. O desabastecimento de produtos, antes sentido apenas no comércio popular, como o da avenida Jaime Brasil, no Centro, passou a afetar também os lojistas dos dois shoppings da Capital.
Com inauguração programada para hoje em um dos espaços do Roraima Garden Shopping, no bairro Caçari, na zona Leste, a empresária Cíntia Prado disse à Folha que abrirá sua loja com menos de 50% dos produtos. “Nós investimos bastante na aquisição de itens com bolsas e vestuários, mas não recebemos nem a metade disto. Até a quantidade de embalagens para presentes está limitada. Nós estamos abrindo as portas para honrar com o que havíamos programado, mas a sensação de temor em ter prejuízo é grande”, comentou.
Segundo a superintendente do shopping, Jacqueline Lopes, a equipe jurídica tem buscado dar todo apoio aos lojistas, mas ela admite que os problemas têm comprometido a lucratividade do empreendimento. “Essa greve está afetando não só as atividades do shopping, como prejudica a economia local. Os lojistas ficam impedidos de receber suas mercadorias, os estoques atuais estão se esgotando e, em alguns casos, esse empresário deixa de arrecadar. E isso gera endividamento a eles e impossibilitam-nos de realizar um serviço adequado para o cliente. Está sendo muito ruim para todos”, disse.
Segundo ela, os prejuízos com a retenção de produtos já chegam à casa dos 18%. Um número expressivo, considerando a atual situação da economia nacional. “Todo dia a área financeira faz um relatório sobre as perdas e nós discutimos esses resultados junto com a equipe. Quando não há a vinda de produtos para o lojista, as vendas tendem a cair. Aí, nós sentamos com o empresário e perguntamos o que está acontecendo. Muitos alegam que essa situação é decorrente da greve, pois os itens de reabastecimento continuam retidos. Da semana passada para cá, o shopping registrou uma queda de 18%. É um número expressivo e que preocupa bastante, já que estamos em uma época em que a economia precisa ser aquecida”, complementou.
“O País está em crise, a gente sabe que as pessoas estão com dificuldades, os lojistas se esforçam para vender, mas, para isso, eles precisam das mercadorias. Essa falta de produtos faz com que o cliente não queira voltar mais ao shopping. Isso é muito ruim”, destacou Jacqueline Lopes.
Problema afeta inauguração de lojas
Se a situação já grave para as lojas em operação, a questão é mais delicada ainda para os empresários que tentam inaugurar seus empreendimentos. Segundo o superintendente do Pátio Roraima Shopping, Fabiano Guerra, das 33 lojas em processo de obras, 20 sentem os efeitos da falta de material para finalização de ambientes.
“A falta de materiais como manta acústica, azulejo e componentes elétricos já começa a afetar o andamento das atividades. Muitos desses materiais são de fora do Estado e a não vinda deles acaba por atrasar a continuidade das obras. Até mesmo os produtos locais estão acabando e, não tendo material, consequentemente ocorrem mudanças nas datas de inauguração”, afirmou.
“A gente espera que a greve termine o quanto antes, porque ela tem impactado bastante nas vendas dos lojistas, afetando diretamente a lucratividade da empresa. Todos estão muito preocupados e, só para se ter uma ideia, aquelas lojas que já eram para estar inauguradas e faturando, pois existe o compromisso com o pagamento de aluguel, condomínio do shopping, ou seja, esse empresário já entra com uma dívida. Essa questão é muita negativa para o lojista e também atinge a arrecadação do Estado”, complementou.
Pedidos de liminar passaram a ser enviados à Justiça do Amazonas
Com a greve na Suframa, entidades ligadas ao comércio entraram na Justiça Federal com um mandado de segurança com a finalidade de garantir a liberação de produtos por meio de liminar. Mas, segundo o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Boa Vista (CDL), Edson Freitas, a apreciação desses recursos deverá ser feita na Justiça do Amazonas.
“Nós entramos com um mandado de segurança na Justiça Federal, porém, o juiz local entendeu que, pelo fato da base da Suframa ser em Manaus, caberia à Justiça daquele estado avaliar esta situação, encaminhando, assim, a decisão para eles. Nós estamos aguardando essa liminar para que liberem as mercadorias das empresas associadas à CDL”, completou.
Para o presidente da CDL, a situação precisa ser resolvida o quanto antes, visto que a paralisação afeta toda economia do Estado. “Eu acho que o Governo Federal tem que dar atenção a essa questão, ainda mais no momento em que vivemos. O País enfrenta uma crise, a qual toda a classe empresarial tenta driblar. E uma economia forte só é possível se o setor comercial melhorar suas vendas, aquecer o consumo, diminuir o desemprego e oferecer mais oportunidades”, afirmou.
“Uma greve dessas vai contra tudo o que estamos tentando construir. A nossa região está sendo muito prejudicada com essa paralisação. A gente entende que todos têm o direito de garantir suas melhorias salariais, são pessoas que possuem o nosso apoio, porém, isso não pode afetar as outras pessoas que dependem de seus empregos. Essa greve está afetando a nossa crise”, pontuou.
Apreciação de veto à MP 660 será no dia 14
Deflagrada por tempo indeterminado, a greve dos servidores da Suframa se deu em razão do veto da presidente Dilma Rousseff (PT) a um artigo da Medida Provisória (MP) 660, que é a mesma que tratou do enquadramento dos servidores dos ex-territórios de Roraima e Amapá nos quadros da União. Integrante de uma comissão mediadora de negociação, a senadora Ângela Portela (PT) disse que uma nova apreciação do veto deverá ocorrer apenas no dia 14.
“A inclusão dos servidores da Suframa na MP 660 era outro meio que nós estávamos lutando para resolver a questão e acabar de vez com a greve. Só que essa emenda foi vetada pela presidente e, desde então, a bancada de senadores da região Norte está mediando um diálogo entre as lideranças da superintendente com o Ministério do Planejamento. Estava prevista a sessão no Congresso Nacional na quarta-feira, 1º, justamente para tentar derrubar o veto, mas, infelizmente, ela não aconteceu, ficando acertada para ocorrer no dia 14”, frisou.
Segundo ela, não será fácil derrubar esse veto, porque a Suframa existe em apenas em alguns estados. “Mas a bancada do Norte tem se envolvido nessa questão para que a gente possa garantir essa vitória”, frisou a senadora. (M.L)