“Ser o apoio a todos aqueles que necessitam de ajuda, não importando a nacionalidade”. É com esse espírito de fraternidade que um grupo formado por brasileiros e venezuelanos vem promovendo uma série de ações humanitárias em prol dos imigrantes que ingressam no país em busca de dias melhores. O grupo se chama “Ação Social”.
A ideia surgiu tímida, por meio de discussões entre pessoas de vários segmentos da sociedade. O que eles não esperavam é que em pouco tempo a quantidade de membros com o mesmo propósito de solidariedade fosse aumentar expressivamente, conforme conta a bacharel em direito Vanessa Epifânio, 36 anos.
“Uma senhora que conhecemos, dona Lúcia, nos falou a respeito da situação dos imigrantes que estão acampados na rodoviária e que, sempre que podia, ajudava aquelas pessoas. Fomos até lá para conhecer a situação e realmente nos deparamos com algo bastante delicado. Foi a partir daí que decidimos criar o grupo no WhatsApp, com pouca gente, para ver o que poderíamos fazer para ajudá-los. Com o tempo começamos a ganhar mais apoio, fato que nos deixa bastante contente”, disse Vanessa.
À Folha, ela disse que o grupo já conta atualmente com pouco mais de 80 pessoas, gente que tenta ao máximo conciliar as atividades do dia a dia com a missão de ajudar ao próximo. A iniciativa passou a ganhar ainda mais força depois que as ações chegaram ao conhecimento da classe estudantil da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
“Até então, as ações ainda eram bastante tímidas, mas depois que minha irmã comentou a respeito dessa iniciativa para algumas pessoas da UFRR, nós tivemos um aumento bastante significativo de apoiadores. Hoje somos 84 pessoas e nos dividimos durante a semana, de domingo a domingo, prestando qualquer tipo de ajuda para essas pessoas. A nossa intenção é aumentar essa rede, fazendo com que as pessoas tenham o interesse de ajudar nessa situação”, destacou.
Desde o início das atividades, no começo do ano, mais de 300 pessoas já foram atendidas. Entre as demandas mais perceptíveis, segundo Vanessa, está a necessidade de alimentação e saúde. O grupo conta com uma boa rede de apoiadores que auxiliam nas ações da melhor forma possível. “Em todas as nossas ações, a gente sempre deixa bem claro para as pessoas o quanto é importante ajudar ao próximo. São pessoas que não têm culpa do que está acontecendo. É uma situação nova para a gente, mas também é algo diferente para eles, pois estão deixando seu lar de origem por um problema político. Todos nós estamos propensos a essa possibilidade e é nessas ocasiões que a solidariedade faz toda a diferença”, salientou.
Para conhecer um pouco mais das ações desenvolvidas pelo grupo “Ação Social”, ou até mesmo se tornar voluntário, a pessoa interessada pode entrar em contato pelo número 99150-4669. Há também ainda informações disponibilizadas no perfil Epifânio Vanessa (Ação Social) na rede social Facebook.
“Nos próximos dias, provavelmente em 12 de outubro, nós deveremos realizar uma nova ação social no entorno da rodoviária. Estamos acertando os detalhes, mas é bem provável que ocorra nesse dia mesmo. Então, quem quiser nos ajudar, seja com doação de alimentos, roupas, remédios ou até mesmo dar uma força nas atividades, pode entrar em contato conosco, que a gente recebe essa ajuda de todo coração”, complementou.
‘Casa Venezuela BR’ trabalha com políticas públicas de acolhimento
Além das necessidades mais básicas, as demandas relacionadas à busca por emprego é muito presente entre os imigrantes, principalmente venezuelanos. Para auxiliar nessa questão, o grupo conta com o apoio da associação sem fins lucrativos Casa Venezuela BR, uma entidade que, dentre várias ações, atua na realização de pesquisas que contribuem na construção de políticas de acolhimento aos estrangeiros em situação de vulnerabilidade social.
De acordo com o engenheiro venezuelano Ricardo Cuba, as ações da pesquisa são coordenadas pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), por meio do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras (GEIFRON) e, dentre as atividades executadas, está à realização de triagem profissional entre os imigrantes.
“Grande parte dos imigrantes que vêm para cá possui formação profissional em áreas importantíssimas, ou seja, de pessoas que têm tudo para contribuir como força de trabalho. Para isso, nós desenvolvemos dentro das ações da pesquisa um cadastro junto a essas pessoas. Esse banco de dados é registrado no GEIFRON, e que funciona aqui, na UFRR. Isso facilita, durante o processo de regularização de imigrante no país, a chance de ingressar no mercado de trabalho, já que eles afirmam que só querem uma oportunidade para viver dignamente”, ressaltou.
Para conhecer melhor as ações desenvolvidas pela Casa Venezuela BR, o interessado pode comparecer ao Escritório do Imigrante da ONU, que funciona dentro do Instituto de Pesquisas Sociais da UFRR, no Campus Paricarana, no bairro Aeroporto, zona norte; ou acessando a página @casavenezuelabr na rede social Facebook.
SOBRE O GEIFRON: Coordenado pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), o Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras (GEIFRON) é atualmente referência em estudos sociais sobre questões migratórias no Estado. O grupo realiza levantamento dos perfis e projetos que auxiliam na estruturação de políticas públicas voltadas para a temática da imigração, tendo como base os projetos Acolher e Somos Migrantes. (M.L)