Guarda vence ação após ser eliminado de concurso da PM por sobrenome errado

Uma única letra foi responsável por eliminar Janailson Souza, cuja inscrição foi feita pela irmã. Ele só notou o erro no dia da prova

Guarda civil municipal Janailson Pimentel Souza (Foto: Arquivo pessoal)
Guarda civil municipal Janailson Pimentel Souza (Foto: Arquivo pessoal)

O juiz estadual Cláudio Roberto Barbosa de Araújo anulou a eliminação de um candidato aprovado no concurso público da Polícia Militar (PM) justificada pela colocação de uma única letra errada no sobrenome registrado no ato da inscrição no certame. O governo estadual, por meio da Procuradoria-Geral do Estado (PGE-RR), confirmou ter sido notificado da sentença e prometeu recorrer.

O magistrado alegou que a grafia errada foi o único erro de informações pessoais apresentadas na seleção por Janailson Pimentel Souza, de 33 anos, e que isso não seria motivo para eliminá-lo. Cláudio Roberto ainda considerou que o candidato demonstrou boa-fé ao informar o erro ao fiscal de prova assim que o percebeu.

“No presente caso se vislumbra justamente essa situação de ilegalidade/teratologia quando a banca examinadora se utiliza de excesso de formalismo para eliminar o candidato pela simples troca de uma letra do seu sobrenome, o que foi devidamente registrado e retificado em ata com a devida identificação do candidato”, disse o juiz, na sentença.

Souza explicou à Folha que a inscrição foi realizada pela irmã enquanto ele cumpria missão como militar das Forças Armadas e só notou o erro no dia da prova, realizada em 9 de dezembro de 2018. O candidato disse que é o único da família Sousa registrado com a letra “Z”, por erro do próprio pai no cartório, o que confundiu a irmã ao inscrevê-lo com “S” para concorrer uma das 400 vagas do certame.

“Informei o erro à banca, pensei que tinha tudo sido resolvido. Mas quando saiu o resultado preliminar, apareceu que eu tinha sido eliminado por conta disso”, explicou ele, que recorreu administrativamente, mas perdeu – inclusive a esperança de reverter o caso.

O advogado Gustavo Hugo foi o responsável por representá-lo na ação movida na Justiça em 2023. “Essa foi a sentença em primeira instância. Ainda aguardamos terminar o prazo de recurso do Estado”, explicou Hugo. “Foi uma felicidade da p…”, completou Souza.

Pai de três filhas – de dez, sete e quatro anos de idade -, Janailson Pimentel Souza estuda para concursos públicos desde 2017. Além do certame da PM, ele também concorreu a uma vaga de guarda civil municipal de Boa Vista em 2019, passou e foi empossado em 2022.

O guarda lembrou que a eliminação do certame da PM quase o deixou depressivo, porque ele foi o único reprovado de um grupo de estudos composto por seis amigos. Souza disse que trancou o último semestre do curso superior de Sistemas da Informação para dedicar mais tempo aos estudos, passando muitas noites em claro, porque ainda precisou conciliar o dia com a rotina cansativa de motorista de aplicativo e de gerente de uma loteria no shopping.

“Trabalhava no shopping de domingo a domingo. E saía do shopping direto pro cursinho. Depois, fechamos um grupo de estudos com seis integrantes e terminei estudando com eles. Estudávamos em uma salinha na casa de um amigo nosso”, lembrou. “Valeu demais a pena”.

Janailson revelou fotos da época em que estudava para o concurso da PM (Foto: Arquivo pessoal)

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