O primeiro quadrimestre de 2017 apresentou queda no número de entrada de pacientes vítimas de acidentes envolvendo motocicletas na principal unidade hospitalar de Roraima. Os dados são do Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico (Same) do Hospital Geral de Roraima (HGR). Conforme o relatório, de janeiro a abril deste ano, o HGR registrou 3.549 atendimentos, sendo 2.339 vítimas de acidentes com moto. Comparado ao mesmo período de 2016 e 2015, os dados acentuam uma diminuição considerável.
Em 2016, o número de entradas no hospital foi de 4.299 pessoas, sendo 2.447 vítimas de acidente de motos, enquanto no ano de 2015 esse número foi um pouco maior, com 4.367 entradas, dos quais 2.637 por acidentes com moto. Ainda em relação aos dados do primeiro quadrimestre desse ano, o mês de fevereiro foi o que mais apresentou elevação de demanda. Este é justamente o período em que são realizadas as festividades do Carnaval, com consumo de bebida alcoólica.
Conforme o Same foi registrado nesse período 590 entradas, número que caiu no mês seguinte, em março, para 588 atendimentos. Abril também registrou diminuição, com 586 atendimentos, mas janeiro ainda continua sendo o mês com menor índice entre todos, registrando apenas 569 entradas no HGR.
Números ainda são preocupantes
Apesar dessa redução, o número ainda é considerado preocupante, visto a dimensão geográfica de Roraima em relação às demais unidades da Federação. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), ainda não há no país um estudo que fixe o custo econômico e social que os milhares de feridos no trânsito causam ao Estado, tampouco específicos sobre a saúde.
“É possível se chegar a estimativas aproximadas, mas devido ao número de variáveis envolvidas nos custos de cuidados em saúde (pré-hospitalar, hospitalar e pós-hospitalar, remoção e translado), entre outros. O que é possível afirmar no momento é que os custos são significativos, passando pelo atendimento médico hospitalar das vítimas de acidente de trânsito, dos custos de resgate e reabilitação”, destacou a Sesau por meio de nota.
A secretaria salientou que os custos dos acidentes de trânsito, bem como suas sequelas, são diluídos por diversas áreas da saúde, não permanecendo apenas no atendimento hospitalar e ambulatorial nas áreas de ortopedia e fisioterapia, por exemplo.
“No maior hospital de Roraima, por exemplo, mais de 90% dos pacientes que dão entrada no Pronto Socorro Francisco Elesbão (Trauma) está relacionado a acidentes de trânsito. Estes tendem a disputar leitos com pacientes clínicos e eletivos, como, por exemplo, complicações cardíacas, pulmonares, AVC (Acidente Vascular Cerebral), diabetes, entre outros. Essa demanda varia de acordo com a época do ano e dia da semana.
Aos fins de semanas e feriados prolongados, a grande maioria dos leitos destinados à urgência e emergência e parte dos leitos eletivos são destinados às vítimas da imprudência do trânsito”, frisou.
Conforme a nota, o HGR conta com 344 leitos, incluindo os leitos de retaguarda do Hospital Lotty Íris. Apesar disso, muitas vezes ocorre situações de pacientes vítimas de acidentes ocuparem espaços destinados a pessoas de outras demandas.
“O tempo de permanência do paciente na entrada da unidade por acidente de trânsito tende a ser maior em relação aos demais, dependendo da complexidade do trauma, o que pode variar entre 03 a 20 dias de internação. Porém, há pacientes que apresentam outras complicações e isso pode prolongar o tempo de internação e, consequentemente, ocupação de leitos”, exemplificou.
Ainda segundo a Sesau, pacientes politraumáticos, que dão entrada com mais de uma complicação, podem ficar internados por até três meses, dependendo da complexidade para estabilização de cada trauma. Estes casos precisam de atenção multiespecializada, demandando assim maior tempo de internação e, consequentemente, de custos.
“No ano de 2016, os gastos apenas com procedimentos em pessoas acidentadas que deram entrada no trauma do HGR custaram aproximadamente R$ 2,3 milhões, segundo o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde. No entanto, este dado não reflete o valor real gasto, visto que nesse cálculo não estão presentes os custos com materiais, medicamentos e recursos humanos, que também somam um montante expressivo”, complementou.
Vítimas do trânsito lotam Núcleo de Reabilitação
Para as vítimas de acidentes de trânsito, o processo de reabilitação costuma a ser longo, tanto no reaprendizado do corpo quanto em valores monetários. O Estado disponibiliza atendimento especializado à população por meio do Núcleo de Reabilitação Física “05 de Outubro” (NURF), localizado na Avenida Ataíde Teive, 6459, bairro Nova Canaã, na zona oeste da Capital.
A unidade realizou, no ano passado, mais de 38 mil atendimentos, entre consultas diversas e outros serviços disponíveis. Somente as vítimas de acidentes de trânsito representam mais de 70% do total de demandas recebidas pelo núcleo.
Além de trabalhar a reabilitação física, o paciente atendido pelo NURF dispõe do apoio do Programa de Atenção e Prevenção as Deficiências (PAPD), instrumento este responsável pela promoção à saúde e prevenção dos agravos já existentes nas vítimas de acidentes.
Por meio desse programa, o núcleo também realiza a doação e o empréstimo de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção para os pacientes, como cadeira de rodas, cadeira de rodas para banho, muletas, carrinhos adaptados e andadores.
Segundo a Sesau, entre 2015 e 2016 foram investidos R$ 460 mil em meios auxiliares de locomoção e R$ 155.732 mil em órteses e próteses para atender diversos tipos de demandas, incluindo pessoas sequeladas após acidentes de trânsito. Para este ano está prevista a aquisição de mais R$ 818.151,50 em meios auxiliares de locomoção.
Além disso, o Governo do Estado confirmou a construção de um Centro de Reabilitação Nível 4 (CER IV), que abrangerá todas as modalidades de reabilitação. O espaço irá funcionar dentro do Hospital das Clínicas da Pintolândia, abrangendo toda a zona oeste. “O processo está em análise na Caixa Econômica Federal, por meio de convênio com o Ministério da Saúde”, frisou a Sesau. (M.L)
Motos representam quase a metade da frota de veículos em circulação
Conforme os dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), o Estado possui uma frota de pouco mais de 200 mil veículos, dos quais 47% são de motocicletas. “Os acidentes ocorrem principalmente pelo fato desse tipo veículo ter um trâmite mais acessível de aquisição, diferente do que ocorre com os carros”, disse o chefe de Fiscalização do Detran, Vilmar Florêncio.
Segundo ele, há também a questão cultural das pessoas, que somente após a compra do veículo é que vão se preocupar com a parte de legalização. “Ou seja, elas utilizam a moto sem ter a instrução teórica das leis de trânsito, que são realizadas pelos centros de formação de condutores. Talvez seja por isso que ainda há um alto índice de pessoas que acabam engrossando as estatísticas de acidentes de trânsito no Estado”, destacou.
Segundo ele, o órgão tem realizado uma série de ações para conscientizar os condutores sobre o respeito às leis de trânsito, seja por meio de campanhas educativas ou intensificação das fiscalizações. “Todas essas ações têm o intuito de coibir as infrações de trânsito e tentar diminuir esses números, principalmente envolvendo motocicletas, porque sabemos que a própria estrutura física do veículo proporciona uma menor segurança ao condutor, quando comparado a um veículo de quatro rodas”, frisou Florêncio. (M.L)