Sempre que a história do Estado de Roraima é contada, a tradução é sempre com personagens que vieram de fora do Estado, que aqui chegaram enviados por autoridades, com cargos e direções definidas. Pouco se fala de quem aqui chegou e fez parte da história por próprios esforços.
O professor doutor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Maurício Elias Zouein, é um dos que defende que a História comece a valorizar as pessoas simples, que chegaram ao estado com vontade de vencer e dar sua contribuição para o crescimento e desenvolvimento de Roraima.
“A História de Roraima ainda está por ser escrita. O que conhecemos é a divulgação de uma classe social abastada, em detrimento a quem fez e faz a história deste estado, e que não são mencionados”, afirmou.
Entre as pessoas simples, ele destaca o pedreiro João Mineiro que construiu o campo de futebol com os próprios recursos, junto com seus colegas, que em seguida foi homenageado com seu nome no estádio.
“No local, não havia apenas jogos de futebol, mas um local de encontro da sociedade de Boa Vista”, afirmou. “E existem muitos personagens simples que não aparecem na história contada do estado”.
Para exemplificar, Zouein cita a história de Roraima de forma cronológica, iniciando nas décadas de 1700 com a instalação do Forte São Joaquim quando o Estado de Roraima era ainda o Vale do Rio Branco, pertencente ao Amazonas. Neste período criaram as Fazendas Reais, com seus dirigentes indicados pelo Império.
“Os comandantes vieram do Nordeste, os soldados vieram de Manaus-AM e os representantes locais eram os indígenas e pessoas casadas com indígenas”, disse.
Em 1800, com a instalação da República, as Fazendas Reais deixam de existir e uma parte é passada para a Igreja. A outra vendida para os comandantes e empresários do Amazonas.
No ano de 1900, já com a Vila de Boa Vista e a Intendência, os indicados a cargos para governanças continuam sendo pessoas de outros lugares. Neste período, quando da instalação do Território Federal, vieram os militares para governar o Estado. Foi feita a urbanização de Boa Vista por um arquiteto do Rio de Janeiro e que trouxe a mão de obra especializada.
“Uma destas construções é o União Operária, que foi feito como opção de diversão para os trabalhadores que vieram de fora. E para hospedar os engenheiros, foi construído o Hotel Boa Vista, que a Varig comprou do Governo, se tornou Tropical e hoje é Aipana Hotel”.
Nos anos 2000 é criada a Universidade Federal de Boa Vista, e os filhos de Roraima tiveram a opção de deixar de sair do Estado para se formar. “Porém, a maioria dos professores veio de fora”. “Antes, muitos filhos de Roraima saiam para estudar e acabavam ficando nestes estados. Alguns voltavam para trabalhar por sua terra”.
O pesquisador acrescentou que “Seria interessante que todos escrevessem a própria história e de seus familiares e divulgassem, para que a história de poucos não representasse a vida de muitos”. (R.R)