A família do aposentado Sebastião Ferreira de Andrade, de 80 anos, procurou a FolhaBV na manhã desta quarta-feira, 15, para denunciar o que chamam de omissão de socorro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os familiares contaram que o idoso estava com princípio de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), é hipertenso e estava muito debilitado, motivo pelo qual precisava ser removido de casa para o Hospital, mas quando ligaram para o Samu, o atendimento foi recusado.
Quem deu detalhes foi a caixa de supermercado Érica Araújo Almeida, de 23 anos, casada com o neto do idoso. Segundo ela, a família passou por um profundo sofrimento para conseguir levar seu Sebastião até o hospital. “A palavra certa para usar no nosso caso é ‘sofrimento’. O seu Sabá tem 80 anos, problemas de pressão e de uns dias para cá está sem comer, sem beber água, sem querer nada e a gente notou que ele estava mal porque gosta muito de comer e mesmo fazendo todas as vontades dele, recusava. Então, a gente concluiu que ele não estava bem. Ele só ficava deitado na cama, nem para urinar ele levantava. Estava urinando na cama”, relatou.
Percebendo a piora no quadro de saúde do aposentado, um familiar ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no domingo, dia 12, e recebeu como resposta que aquele tipo de atendimento não é de sua competência, mas dos bombeiros. Ao ligar para o Corpo de Bombeiros, foi informada que o serviço deveria ser prestado pelo Samu. “Eles ficaram jogando o atendimento um para o outro e a minha cunhada [filha do idoso] disse que não poderia esperar, por isso, levou o pai dela, por conta própria, num carro de passeio, para o Hospital Cosme e Silva [no Pintolândia]”, acrescentou Érica.
Chegando ao Cosme e Silva, o paciente passou por uma bateria de exames que não constataram nenhuma gravidade no quadro de saúde, a não ser uma leve infecção urinária. Depois de atendido, recebeu alta. Na segunda-feira, dia 13, Sebastião tomou banho sozinho, se alimentou e estava, aparentemente bem, mas na nesta terça-feira, dia 14, por volta das 7h, voltou a ter piora.
Quando entrou no quarto, Érica notou que o idoso estava em total confusão mental. “Eu entrei no quarto e ele estava falando coisas aleatórias. Isso já era princípio do AVC, mas a gente não sabia. A pressão dele oscilava rapidamente de 17 para 10, ficando quente e gelado. Ele não estava bem. Quando a gente tentou levantá-lo, ele gritou, pediu para ser solto porque estava sendo amarrado por nós. Falava coisas sem sentido. Aí ligamos para o Samu novamente, pediram o endereço e quando passou para a médica, ele fez algumas perguntas para minha sogra, filha do seu Sabá, e, praticamente, pediu para a gente se virar”, destacou.
Com a resposta, a família disse que ficou indignada e sem saber o que fazer. “Eu falei que aquilo não poderia acontecer. Liguei para o Corpo de Bombeiros e fui bem atendida, mas o tenente contou que o trabalho deles é com trauma, que o atendimento para o seu Sabá tinha que ser feito pelo Samu e ainda ressaltou que se tratava de uma clara omissão de socorro. Ele me aconselhou ligar, pedir o nome da médica para abrir um Processo [Administrativo Disciplinar] contra ela. Por fim, ele me aconselhou a ir até a Central dos Bombeiros, na Avenida Venezuela, para contar meu relato para o oficial responsável e se ele liberasse, iriam buscar seu Sabá”, revelou a denunciante.
Uma amiga de Érica, que trabalha como servidora do Estado, estava em um evento no Comando do Corpo de Bombeiros e interviu, conversando com o capitão e conseguiu fazer com que uma guarnição dos bombeiros fosse remover o idoso de sua casa para o Hospital Geral de Roraima (HGR). “Ele já estava usando frauda, porque não conseguia levantar da cama e os bombeiros o levaram fazendo uma espécie de rede com os lençóis da cama”. Ele ficou internado no mesmo momento em que chegou. O médico disse que o caso dele é gravíssimo e que ele só receberia alta quando estivesse estável”, frisou a jovem.
Érica ainda disse que pediu que o Samu disponibilizasse a ligação feita pela família, mas foi informada que poderiam liberar apenas para um advogado ou um órgão público solicitando por conta do PAD.
“Nós queremos cobrar e alertar as pessoas sobre o que o Samu está fazendo. Eu já tive crise de asma e o Samu me tirou de casa e levou para o Hospital. Todo mundo que ficou sabendo do caso está indignado. A médica [do Samu] fez isso porque não é um familiar dela, não é o pai dela. Para mim, foi omissão de socorro e eu quero saber qual é o serviço do Samu. Que tipo de atendimento eles fazem?”, questionou Érica.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Boa Vista a respeito da situação e aguarda retorno.