A sensação de insegurança em Boa Vista aumenta cada vez mais, dia após dia. Um reflexo disso é a tradicional Igreja Santa Luzia, situada no bairro 13 de Setembro, que sofreu o seu quinto furto, nesta semana. Durante o assalto, os bandidos levaram a fiação elétrica do prédio.
Segundo o administrador da igreja, e morador do bairro há mais de 30 anos, Nivaldo Barbosa, de 60 anos, o prejuízo da última ação de bandidos é de cerca de R$ 4 mil. Entretanto, ele explica que esse nem foi o maior valor furtado dentro da igreja, e que o total de danos para a Santa Luzia é incalculável.
“Esses episódios de ataques de vândalos estão cada vez mais constantes. Já tivemos a porta da frente arrombada, na época que a porta era de madeira, e já tivemos tanta coisa furtada. Frigobar, lâmpadas, cesta básica, produtos de limpeza, ventilador e botijão de gás. Já tivemos todos esses produtos levados neste ano. O prejuízo total para nós é incalculável”, afirmou.
Nivaldo também afirmou que, apesar do prejuízo ser grande, ele poderia ser maior se não fosse pelo reforço que a segurança da igreja foi recebendo ao longo deste ano, com uso de portas de ferro e cadeados.
“Trocamos todas as portas de madeira por ferro. E colocamos fechaduras para todas elas. Graças a isso, pelo menos os bandidos não conseguiram roubar outros objetos. Mas nós não conseguimos evitar que tivéssemos alguma forma de perda. Dou graças a Deus pela ajuda que as pessoas dão nestes momentos, pois elas sabem que somos muito comprometidos com a igreja”, explicou.
O administrador da Igreja Santa Luzia deixou claro que não irá prestar Boletim de Ocorrência (B.O). Ele acredita que registrar a ocorrência não é eficaz, pois está descrente na atuação da polícia no bairro e que apelar para meios de comunicação seria a única forma de chamar a atenção para a situação.
“Os policiais até conseguem encontrar suspeitos, mas não é possível culpar ninguém. Nós vemos que não adianta mais prestar B.O. É revoltante ver a falta de patrulhamento policial não apenas por aqui na igreja, mas no bairro em geral. Pedimos a Deus que nos proteja, pois aqui em baixo vai tudo bem difícil”, frisou.
Furtos são reflexo de falta de segurança, avaliam moradores
Os episódios de furtos na Igreja Santa Luzia não são exclusivos no bairro 13 de Setembro. Moradores e comerciantes contam que sentem a mesma insegurança que Nivaldo e descrença em ações de patrulhamento da Polícia Militar. Em um comércio situado na avenida Caracaraí, um assalto à mão armada ocorreu há quatro meses e, segundo a gerente Diana Ferreira, os furtos nos últimos meses têm sido quase que diários.
“Nós acreditávamos que a vinda dos abrigos Rondon I e II iria de alguma forma piorar a criminalidade aqui. Mas não foi o caso. Desde antes disso os furtos já eram constantes. Acreditamos que esses assaltos ocorrem por causa de imigrantes que vêm da Avenida Venezuela. Geralmente eles furtam desodorantes, comida, prestobarba, entre outros. Nós contratamos um segurança que trabalha aqui nos fins de semana, quando a maior parte dos furtos ocorre”, contou.
Diana explicou que a maior parte dos furtos é praticado por venezuelanos. Apesar disso, ela não acredita que haja uma ligação entre a construção dos abrigos Rondon I e II e a onda de furtos, uma vez que eles já ocorriam mesmo antes de as instalações serem inauguradas.
“Temos venezuelanos no nosso quadro efetivo e são todos extremamente competentes. Mas, infelizmente, a maior parte dos furtos que encontramos aqui é por imigrantes. Acreditamos que isso se deve especialmente à fome, que faz os refugiados terem esse desespero. Teve um caso que conseguimos pegar um deles, e ele afirmou que estava roubando porque não gostava da comida do abrigo em que estava”, pontuou.
A doméstica Eloina Almeida dos Santos, que mora na rua Macunaíma, conta que mesmo antes da crise migratória, o bairro já enfrentava problemas de segurança, principalmente relacionados à presença de usuários de drogas na praça 13 de Setembro.
“Minha mãe é dona de um quiosque na praça 13 de Setembro. Por lá já ocorreu todo tipo de furto possível. Teve uma vez que ela colocou uma grade para proteger a entrada, e alguns infratores conseguiram entortar a proteção de forma que eles conseguissem se agachar e entrar no comércio. Além disso, já teve vez que entraram pelo telhado. Acreditamos que são sempre moleques, usuários de drogas, que fazem isso. Aqui em casa, contratamos patrulha de segurança particular, o que vem sendo nossa única ajuda”, afirmou.
Eloina deixou claro, em seu ponto de vista, que a insegurança é comum para os moradores há muitos anos, principalmente na praça 13 de Setembro, e que esse problema só foi agravado pela falta de patrulhas. “Problemas relacionados à segurança sempre existiram aqui no bairro. A praça em frente à igreja é marcada por ter muitos jovens, usuários de drogas, há muito tempo. Pessoalmente, não vejo que os imigrantes sejam o motivo da criminalidade daqui do bairro. Eles só acrescentam a um problema que, antes de mais nada, diz respeito a brasileiros bandidos”, concluiu.
OUTRO LADO – A Polícia Militar de Roraima informou que intensificou o policiamento no bairro 13 de setembro, por possuir dois abrigos para imigrantes. Frisou que, além das unidades da Polícia Militar, a área possui também rondas da Força Nacional, que é responsável pela segurança em torno dos abrigos e bairros adjacentes. “A PMRR ressalta ainda que os responsáveis pelo imóvel (Igreja Santa Luzia) devem registrar o caso junto à Polícia Civil para ser investigado”, complementou. (P.B)