Cotidiano

imigrantes ocupam antigo prédio do Clube do Trabalhador

Cerca de 50 famílias de três etnias indígenas venezuelanas estão vivendo há três meses em praças e terrenos baldios de Boa Vista. Há duas semanas, a Folha havia registrado um acampamento montado próximo à Praça Germano Sampaio, no bairro Olímpico. De volta ao local, foi constatado que os indígenas foram reagrupados no abandonado e antigo prédio do Clube do Trabalhador, no Jóquei Clube.

O representante dos indígenas disse que eles não têm o intuito de ocupar espaços que pertençam a outras pessoas, mas a necessidade de sobrevivência fez com que acampassem em terrenos particulares e até dormissem em praças. 

“Já acampamos em praças, mas a polícia nos mandou embora depois que houve um acidente com uma das crianças. Agora, estamos acampados aqui [antigo prédio Clube do Trabalhador] e esperamos a ajuda do Exército e de outras entidades que possam acompanhar a nossa situação,” explica o indígena.

Embora o espaço seja inapropriado para a moradia das famílias devido à precária estrutura, matagal e água parada em uma piscina com focos visíveis de insetos, os indígenas pretendem limpar o local e se manter nas instalações. 

“Aqui ainda é mais seguro do que as ruas. Somos três etnias [Eñepá, Warao e Criolo] que se juntaram em respeito e luta pela sobrevivência”, disse um dos indígenas.

Irmã Pedrina, voluntária na organização Católica Pastoral da Criança, conta que a entidade acompanha há meses os imigrantes indígenas e tem o objetivo de levar apoio e ações sociais às famílias. 

“Quando há arrecadação de roupas e mantimentos, nós doamos ou ajudamos se uma das crianças precisa receber atendimento médico, por exemplo. Trouxemos fraldas, mas a doação se torna muito pequena diante de tantas necessidades. Há uma mãe que entrou em trabalho de parto aqui e o bebê nasceu neste local.

Sabemos que as condições são precárias, mas voltarem para debaixo de um pé de caju ao relento, também não é uma boa opção”,relatou a voluntária.

O padre Luís, em breve visita à capital, presenciou as dificuldades dos imigrantes. Ele conta com uma equipe de voluntários ligados à Igreja Católica para auxiliar o diálogo entre comunidade indígena e órgãos responsáveis por abrigar essas pessoas em situação vulnerável. “Acompanhei o grupo, inicialmente formado por apenas 4 famílias, até que chegou a mais de 150 pessoas. A grande luta deles é poder permanecer em um local, já que sempre são informados de prazos para saírem em todos os cantos que se instalam,” disse o padre.

FALTA DE VAGAS – A Folha entrou em contato com responsáveis pela Operação Acolhida que, em nota, informou saber da situação pela qual passam as famílias indígenas, mas destacou que atualmente não existem vagas disponíveis em abrigos para recebê-los e que apenas um deles é destinado a acolher principalmente imigrantes indígenas. (P.G)